Palestra de Suzuki no CRQ-IV atraiu quase 200 pessoas
Um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Química de 2010, o japonês Akira Suzuki fez palestra para mais de 180 pessoas nesta segunda-feira na sede do Conselho Regional de Química IV Região (SP). Professor emérito da Universidade de Hokkaido, no Japão, Suzuki conquistou o reconhecimento internacional pela criação de um processo de acoplamento cruzado catalisado por paládio, técnica que tornou possível a síntese de moléculas de carbono antes só existentes na natureza. Os estudos de Suzuki se juntaram aos de outros dois ganhadores do Nobel de 2010: o também japonês Ei-ichi Negishi, da Universidade Purdue, e o norte-americano Richard F. Heck, da Universidade de Delaware. As descobertas viabilizaram a produção de novos medicamentos para combate ao câncer e a hipertensão, além de novos tipos de defensivos agrícolas e aplicações na área eletrônica.
Durante a palestra de 50 minutos, Suzuki falou da importância de sua descoberta para a ciência, mostrou as fórmulas químicas envolvidas nas reações e listou as empresas que já estão utilizando a Suzuki coupling, técnica que descobriu a partir da adição de boro nas reações acopladas com paládio. Citou como exemplos as empresas farmacêuticas Novartis, da Suíça, Merck, da Alemanha, Chisso e a Sumitomo, do Japão, e a UDC dos Estados Unidos.
Ele também relatou as etapas do processo que antecederam a conquista do Prêmio Nobel, que começou em 2002. Disse ainda estar muito feliz por visitar o Brasil.
Ao final de sua palestra, o Prof. Suzuki abriu espaço para responder às perguntas da platéia. Duas pessoas o questionaram sobre sua fase de estudante e como era sua vida cotidiana. Com bom humor, ele respondeu que não é uma pessoa diferente das outras e que leva uma vida que classificou como “comum”. Outros participantes formularam questões técnicas, pedindo detalhes sobre o acoplamento cruzado.
O evento foi aberto por Edson Bauer, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Química, entidade que participou da organização. Ele saudou o professor Suzuki, lembrou de sua trajetória como estudante, da carreira acadêmica iniciada em 1950 e afirmou que o visitante deu uma importante contribuição para o bem da humanidade.
A seguir, Suzuki foi saudado pelo presidente do CRQ-IV, Manlio de Augustinis, que em seu discurso falou das ações da entidade para comemorar o Ano Internacional da Química, como as campanhas publicitárias em jornais, revistas, rádio e televisão. Ressaltou, porém, que a iniciativa mais importante é o programa Palestras AIQ, pois representa uma oportunidade de mostrar para as crianças e adolescentes as contribuições da química para o bem-estar da sociedade. O programa tinha como meta inicial promover, em 2011, 1.500 apresentações em escolas de primeiro e segundo graus. Porém, sua repercussão foi tão grande que mais de 4 mil palestras foram solicitadas por escolas de todo o estado. Tal resultado levará o Conselho a estender as palestras para os próximos anos. Ao encerrar sua participação, Augustinis entregou uma placa ao professor Suzuki para marcar sua visita ao Conselho e cumprimentá-lo pela conquista do Nobel.
Coletiva – Uma entrevista concedida a jornalistas de vários veículos de comunicação foi a última atividade de Suzuki na sede do CRQ-IV. Em japonês e auxiliado por um intérprete, ele foi questionado sobre como vê o futuro da indústria química. Ressalvando que seus conhecimentos não o autorizam a falar sobre o assunto, afirmou que se preocupa com a vida de seus filhos e netos e que o ideal seria a indústria encontrar substitutos renováveis para os combustíveis fósseis, como fez o Brasil com o etanol, com o objetivo de preservar o meio ambiente. “Acho que poderíamos mudar a forma de uso desses combustíveis, deixando as reservas de combustíveis fósseis para outros usos”, defendeu.
Suzuki também falou sobre a importância de os jovens terem liberdade para escolher a profissão que desejarem – seja na área científica, seja em qualquer campo do conhecimento. Contou que seu projeto inicial era se tornar matemático, mas que acabou optando pela química orgânica por conta de dois livros que leu na juventude. Se nascesse de novo, assegurou, voltaria a escolher o caminho da química orgânica.
Perguntado sobre sua rotina, aos quase 81 anos de idade a serem completados no dia 12 deste mês, Suzuki disse ter uma ótima saúde e agradeceu a vida saudável proporcionada por seus pais. Deu mostrar de sua disposição ao revelar que, uma semana depois de voltar do Brasil ao Japão (o retorno estava previsto para esta noite), terá outra grande viagem pela frente, desta vez para a Rússia.
A palestra teve o patrocínio da Indústria Química Umicore, multinacional belga com instalações em Guarulhos, Americana e Manaus. Além do CRQ-IV, o evento foi apoiado pela Associação Brasileira de Engenharia Química (ABEQ).