Artigo de Flávio Leite discute a validação de método de teor
Autor(a): Flávio Leite
I - Resumo - No processo de Validação do Método de Teor, vários parâmetros são solicitados para dar embasamento técnico à condição analítica, aumentando desta forma o suporte para uma maior confiabilidade do resultado proveniente daquela análise daquele ativo naquele produto ou suas impurezas. Os parâmetros, como itens mais comuns, se pertinentes, são: condição analítica definida, seletividade/especificidade, recuperação, limites, linearidade, precisão, exatidão, estabilidade e robustez, logicamente dentro dos denominados parâmetros de aceitabilidade que irão definir também a profundidade de cada parâmetro. Após estas definições, pode-se indicar o número de análises do dia-a-dia do laboratório. O termo robustez é o parâmetro a ser discutido.
II - Robustez - A robustez pode ser conceituada como a verificação do quanto a condição analítica para a determinação do teor de um determinado ativo é susceptível às variações do sistema analítico. Considerando que os demais parâmetros discriminatórios, como linearidade, precisão etc, certificam a condição analítica, o parâmetro robustez deve ser considerado como uma "dica" ou um alerta da susceptibilidade do método às variações e não um parâmetro de aprovação ou rejeição da condição analítica.
A robustez foi introduzida nos processos de validação como conseqüência da parceria da eletrônica com a química em um tempo, não muito distante, no qual as variações da corrente de fundo em equipamentos valvulados faziam com que os indicadores analógicos de leitura, os famosos ponteiros, oscilassem em momentos impróprios. Erros de paralaxe e o próprio conceito de pureza em substâncias de referência que não eram bem definidos também podem ser citados.
Vários são os procedimentos para verificar a susceptibilidade do método frente a uma metodologia analítica. Alguns deles são: troca de graus de reagentes analíticos, alteração da temperatura da condução do ensaio, alteração do pH e composição de fase móvel, alteração do comprimento de onda do detector etc. Essas verificações podem ser obtidas em diferentes parâmetros do atual modelo de validação de um método de teor.
II - Parâmetros da validação - Através da avaliação de alguns dos atuais parâmetros da validação de um método analítico podem ser feitas as seguintes observações:
Limites: os Limites são fundamentais para análises cujo menor valor a ser quantificado esteja próximo do limite mensurável. Um dos fatores que levam à alteração de análises próximas ao limite de quantificação é a pureza dos reagentes. Podemos ilustrar a interferência do grau de pureza dos componentes ou de um componente de uma determinada fase móvel numa análise de traços ou de baixas concentrações do ativo. Neste caso deve ser considerado o efeito ou a contribuição da pureza dos insumos junto à corrente elétrica que alimenta o equipamento, proporcionando um ruído de fundo responsável pela formação da chamada linha de base ou o "background" do equipamento. A figura 1 exemplifica a influência de um insumo para a análise de baixa concentração do ativo.
Figura 1: influência do grau de pureza
no ruído de fundo e interferência no LQ.
LQ= Limite de Quantificação do ativo naquela condição analítica.
• = concentração do ativo no LQ
Algumas considerações podem ser feitas sobre esta figura:
LQ1: a LB não oferece interferência para definição de parâmetros como precisão e exatidão, caso aquele sinal for utilizado para a quantificação. Desta forma, os insumos B, talvez de menor custo, possam ser utilizados sem interferência de sinal ao resultado.
LQ2: a LB é muito próxima do sinal analítico, portanto, sujeito à obtenção de resultados não quantificados por falta de sinal ou ainda resultar em variabilidade elevada, podendo levar à rejeição de outros parâmetros da validação. Neste caso, os insumos B não são aconselháveis, considerando-os como um dos contribuidores do sinal da LB.
LQ3: a LB possui sinal maior que o sinal analítico do ativo. Portanto, sendo os insumos B contribuidores da LB os mesmos devem ser substituídos pelos insumos A.
LQ4: neste caso deve-se rever a condição analítica (concentração da amostra, fator de recuperação, perdas de ativo), a tecnologia e a técnica analítica ou ainda rever os parâmetros e pré-requisitos de instalação do sistema analítico.
Precisão: medida do grau de espalhamento, tanto da repetição quanto da reprodução, ou seja, possui valores de variabilidade já definidos nos parâmetros de aceitabilidade. Geralmente medida em três concentrações distintas e em ocasiões diferentes, principalmente para a repetição.
Linearidade: O coeficiente de correlação tem sido o parâmetro de medida adotado no Brasil para definir a aceitabilidade da linearidade sobre a curva de resposta. Outros preferem definir o porcentual de variação sobre as medidas do mesmo ponto da curva de resposta, portanto, com definição de variabilidade nos parâmetros de aceitabilidade.
Considerando os três parâmetros exemplificados, uma condição analítica em validação terá valores claros de aceitabilidade para compor ou até definir a robustez.
IV - Pertinência - Há situações em que a robustez confunde-se com as necessidades do equilíbrio das reações. Neste caso, não se trata propriamente da robustez, mas sim de um parâmetro analítico com valor de mínimo ou máximo como na iodometria, na qual há um tempo em ausência de luz para reação completa, ou a variação de temperatura para ensaios de permanganometria, a energia de agitação como fator importante para o deslocamento da reação, ou, ainda, o tempo de refluxo numa esterificação etc. Da mesma forma, os insumos e fatores externos devem ser considerados quando da preparação da amostra e na medida do sinal para o cálculo do resultado, mesmo em análises colorimétricas, volumétricas, gravimétricas, potenciométricas etc. A Figura 2 mostra que um método analítico de teor pode ter robustez elevada ou frágil. Porém, desde que ela esteja sob controle, o método pode ser utilizado em confiabilidade. Logicamente, é necessário atentar aos demais parâmetros da validação e principalmente à experiência do analista.
Figura 2: atenção aos parâmetros
da condição analítica
Considerações: é necessário, mesmo após a medida da variabilidade durante o processo da validação, avaliar o parâmetro robustez? Se positivo, seria realmente necessário definir parâmetros de aceitabilidade? É importante alertar para os parâmetros com alto grau de criticidade, pois estes podem inviabilizar métodos únicos. Um exemplo típico é o da validação de métodos microbiológicos de teor.
Atribuir valores porcentuais à robustez é relevar ou confrontar com as medidas de Precisão (repê e reprô) e Exatidão, Limites, Linearidade, as quais já deveriam estar aprovadas. Um parâmetro importante, a "Experiência do Analista", permitirá, ao final do desenvolvimento ou após a passagem pela seqüência da validação de método analítico de teor, deixar clara a dimensão da robustez envolvida, ou seja, fornecer as "DICAS" necessárias para uma execução ótima e confiável.
Doutor em Química Analítica pela USP de São Carlos, trabalhou como professor por 23 anos na PUC de Campinas. Fundou e dirige atualmente a T&E Centro Analítico e Científico, empresa que atua na área de análises para diversos segmentos da indústria química. Autor de livros sobre validação e amostragem, Flávio Leite é um freqüente colaborador do CRQ-IV, tendo ministrado cursos e palestras a convite da entidade. Contatos pelo e-mail flavio@teanalitica.com.br.