Molécula inserida em produtos de higiene bucal inativa SARS-CoV-2
Montagem com imagens Pixabay
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Pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), em parceria com a empresa Golden Technology, conseguiram produzir em escala uma molécula derivada do corante ftalocianina capaz de inativar o SARS-CoV-2. . A molécula liga-se ao oxigênio presente no ar. "Quando ocorre essa ligação, o oxigênio torna-se mais ativo, causando danos oxidativos no vírus”, disse Koiti Araki, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo e coordenador do projeto.
Testes feitos no Instituto de Ciências Biomédicas da mesma universidade (ICB-USP) e publicados na revista Scientific Reports demonstraram que o composto reduziu em 99,96% a carga viral em culturas de células sem causar alterações metabólicas (efeitos citotóxicos).
Já um ensaio clínico conduzido por pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Bauru, também da USP, revelou que o uso intensivo de um enxaguante bucal contendo o composto antiviral por pacientes internados em um hospital público da cidade, em estágio inicial da infecção, contribuiu para diminuir os sintomas e o tempo de internação.
Oxidação - A ftalocianina de ferro possui grupos aniônicos – grupos iônicos com carga negativa – que ativam o íon de ferro situado no centro da molécula para que consiga se ligar ao oxigênio presente no ar e torná-lo reativo. Dessa forma, o oxigênio passa a se comportar como o ozônio ou o peróxido de hidrogênio, causando danos oxidativos em microrganismos como vírus, fungos e bactérias.
Em parceria com pesquisadores da empresa Golden Technology, sediada em São José dos Campos, o professor Araki conseguiu nos últimos anos desenvolver um processo para produzir a molécula em escala. “Esse ativo é difícil de produzir e os rendimentos eram muito baixos. No laboratório, conseguimos desenvolver um processo que diminuiu em mais de 90% a quantidade de resíduos e reagentes, bem como o tempo de produção”, explicou o especialista.
Pandemia - A ideia inicial do projeto era aplicar a molécula para eliminar odores desagradáveis produzidos por microrganismos em tecidos e para a remoção de germes em diversos tipos de ambientes. Com o surgimento da pandemia de Covid-19, os pesquisadores tiveram a iniciativa de avaliar se o composto seria capaz de causar danos oxidativos no SARS-CoV-2 e inativá-lo.
Para isso, procuraram o professor do ICB-USP Edison Luiz Durigon, que coordena um laboratório com nível 3 de biossegurança (NB3), onde é possível manipular patógenos como o SARS-CoV-2. O grupo de Durigon foi o primeiro no Brasil a isolar e cultivar em laboratório o novo coronavírus, a partir de amostras coletadas dos primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
“Já testamos no laboratório vários antivirais que funcionaram contra o SARS-CoV-2, mas nenhum em uma concentração tão baixa quanto essa molécula”, compara Durigon. “O composto tem ação imediata contra o vírus. As reações oxidativas provocadas por ele destroem o envoltório lipoproteico do novo coronavírus”, contou o professor do ICB-USP.
Clique aqui para mais obter mais detalhes sobre essa pesquisa.
Com informações Elton Alisson, da Agência Fapesp
Publicado em 19/11/2021
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