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Set/Out 2013 

 


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A importância do gerenciamento de risco para os negócios da empresa
Autor(a): Lidiane de Castro Romão


Para a indústria química, o Gerenciamento de Produto é parte integrante do Programa Atuação Responsável®. Deve ser compreendido como a responsabilidade compartilhada entre fabricantes, seus fornecedores e seus clientes. Isso requer o desenvolvimento de diálogo próximo e sustentado, bem como a construção de relacionamento com as partes interessadas da cadeia de valor, compartilhando informações para garantir que os produtos químicos sejam utilizados e manipulados de forma segura durante o seu ciclo de vida. Com isso, também contribuirão para atender à crescente demanda de utilização segura e ambientalmente sustentável. Em muitos países é conhecido como Product Stewardship. Logo, identificação dos perigos, análise de risco, caracterização dos riscos, o gerenciamento dos riscos e transparência na comunicação são etapas do Gerenciamento de Produto.

Em 2006, o Conselho Internacional das Associações da Indústria Química (ICCA - International Council of Chemical Associations) apresentou a Estratégia Global de Produto (GPS – Global Product Strategy) como uma iniciativa que visa reunir as melhores práticas de Gerenciamento de Produtos disponíveis na indústria química, considerando seu ciclo de vida e o envolvimento de clientes e fornecedores ao longo da cadeia de valor. O GPS é parte integrante da Carta Global do Atuação Responsável® e uma resposta ao desafio lançado pelo Strategic Approach to International Chemicals Management das Nações Unidas, para que até 2020 todas as substâncias sejam usadas e produzidas de modo a minimizar os efeitos adversos significativos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

As empresas operam em ambiente dinâmico e cheio de incertezas. Contudo, o desenvolvimento de novas técnicas e ferramentas possibilita, após uma avaliação criteriosa do ambiente e dos cenários, prever com bom grau de precisão os vários riscos que podem trazer impacto relevante sobre os seus negócios. O risco é inerente à atividade empresarial e o gerenciamento de risco é parte integrante da gestão de um negócio como um processo contínuo voltado para o futuro. Toda empresa precisa ter níveis de aceitabilidade de riscos para os quais está exposta; caso contrário, é impossível fazer negócios.

A maioria delas tem dentre seus objetivos a correta remuneração do capital e a criação de valor para as partes interessadas – o que inclui os acionistas - e, obviamente, minimizar os riscos associados a qualquer decisão. Negligenciar ou gerir mal os riscos irá, mais cedo ou mais tarde, resultar em perda de riqueza e de reputação maiores do que o aceitável pelos acionistas.

Elas enfrentam diversos tipos de riscos e muitos são de natureza externa. As novas regulamentações de produtos, por exemplo, têm se tornado cada vez mais complexas e abrangentes, implementadas de forma inconsistente e em um movimento não muito ordenado, que envolve rápida e simultaneamente países desenvolvidos e economias emergentes. A consistência de propósito entre os países não está no centro das preocupações.

Desde a publicação do Regulamento REACH, em dezembro de 2006, é inegável que a hegemonia regulatória sobre substâncias mantida pelos Estados Unidos desde os anos 1970 tem se deslocado para a União Europeia, refletindo exatamente a ambição deste último. O arquétipo regulatório europeu para substâncias tem inspirado outros países de tal modo que são tidas como “REACH-like regulations” e, mesmo tendo diferenças importantes em relação ao regulamento europeu, foram apelidadas de “Turkey-REACH”, “Korea-REACH” e “China-REACH”, por exemplo.

No documento Extended Impact Assessment, publicado pela Comissão Europeia em 2003, os cenários construídos a partir de modelos microeconômicos sugerem que 1% a 2% das substâncias serão retiradas do mercado europeu como resultado da implementação do REACH.

O ativismo das ONGs e grupos de interesse específicos – bem organizados e qualificados - como formadores de opinião e stakeholders desse processo, exercem pressão sobre a cadeia de valor mais rapidamente do que formuladores de políticas e órgãos reguladores. Verifica-se em certas situações a descontinuidade de produtos por meio de “regulação dirigida, muito mais a ver com percepção do que com ciência”. Consumidores começando a considerar o "verde" e o “sustentável”, juntamente com a qualidade, desempenho e preço na decisão de compra.

Nova ciência, novos achados e nova forma de se fazer ciência trazem novas preocupações com a saúde, principalmente com populações vulneráveis, como crianças e idosos. Há cada vez mais a necessidade de embasamento científico consistente para a aceitação de novas tecnologias, bem como a consideração dos aspectos éticos, jurídicos e sociais para os produtos. Limites de exposição mais baixos podem mudar a aceitação de um produto – os critérios de aceitabilidade de riscos estão mudando. É crescente a preocupação dos clientes com a segurança dos produtos e isso, ao mesmo tempo em que insere o gerenciamento de risco de produtos com foco nos aspectos regulatórios como uma das variáveis de decisão, é uma das alavancas para criação de valor para produtos mais sustentáveis e intrinsecamente seguros.

Os apelos para proteção do segredo de negócios e da propriedade intelectual fazem frente à exigência crescente por transparência. Consumidores e varejistas impulsionam as demandas por maior transparência e inerentemente menor toxicidade e impactos ambientais associados aos produtos. As novas mídias obrigam resposta rápida e honesta.

Como uma empresa pode assegurar que entregará os resultados prometidos no horizonte do seu plano estratégico sem considerar o custo de acesso e permanência em mercados com importante viés regulatório? Ou então, que o seu principal produto ou o mais rentável não terá restrições de volumes e usos por ter sido classificado como de alta preocupação? Ou então, que esse produto não será substituído por uma alternativa técnica e economicamente viável com menor impacto para a saúde e o meio ambiente? A resposta para essas e outras questões passam pelo gerenciamento de risco de produto químico.

O Gerenciamento de Risco de produto químico nada mais é do que a inclusão na estratégia e táticas da organização dos riscos inaceitáveis relacionados aos aspectos de saúde, segurança e meio ambiente de um produto químico, nas suas aplicações recomendadas e em conformidade com as regulamentações aplicáveis.

Estado da arte em Análise de Risco de Produto Químico

Em 2010, o ICCA publicou o Guia para Análise de Risco de Produtos Químicos (ICCA GPS Guidance on Risk Assessment), como uma ferramenta para o Gerenciamento de Risco e a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), como membro do ICCA, é a responsável pela implementação do GPS no Brasil.

A Análise de Risco conduz a uma compreensão completa da natureza, magnitude e probabilidade de ocorrência de um efeito adverso específico de um dado produto químico. Ela conduz ao reconhecimento dessas incertezas relativas ao perigo e exposição.

Os princípios básicos da ferramenta, como demonstrado na figura 1, são a Análise de Risco e o Gerenciamento de Risco interligados pela Caracterização de Risco, fornecendo como resposta se um produto é muito preocupante, preocupante ou não preocupante.

 

Figura 1: Princípios básicos

 

Essa ferramenta está dividida em duas seções principais, cada uma delas compreendendo quatro etapas individuais como demonstrado na figura 2. A primeira seção é a da “preparação”, a qual mostra o passo-a-passo para obter as informações necessárias à análise de risco. A segunda seção é a da “implementação”, a qual executa a análise de risco propriamente dita. A conclusão de cada etapa é um preparativo para a próxima, portanto é importante ater-se a cada uma delas na sequência correta.

 

Figura 2: Estrutura do Guia para Análise de Risco do Produto Químico

 

Iniciativas como o REACH na União Europeia, o Challenge no Canadá e o High Production Volume, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, tem disponibilizado ao longo dos últimos anos, gratuitamente, quantidade enorme de dados de propriedades físico-químicas, toxicológicas e ecotoxicológicas de boa qualidade, bem como muitos cenários de exposição já mapeados e analisados. Ferramentas de apoio para análise de risco de produtos químicos também estão facilmente acessíveis na Internet.

Nesse novo ambiente de segurança química, o profissional terá necessidade de desenvolver visão sistêmica para entender a estrutura organizacional e a inter-relação dos processos da sua empresa, pois o contato entre as áreas de P&D, comercial, marketing e estratégia serão constantes, além de um conhecimento multidisciplinar de química, toxicologia, ecotoxicologia e regulamentações.

Para as empresas, o Gerenciamento de Risco de produto químico é um processo de antecipação que, preferencialmente, deve envolver as partes interessadas. A identificação precoce do risco é fundamental para possibilitar o gerenciamento da sua mitigação que, em geral, é menos onerosa e permite a utilização mais efetiva dos recursos da organização. Um dos grandes desafios atuais dessa prática é atuar não só de forma preventiva aos eventos de incerteza, mas principalmente criar oportunidades de ganho.


 

Bacharel em Química Tecnológica, a autora é Analista de Segurança de Produto na Solvay-Rhodia e membro da Comissão de Gerenciamento de Produto e Regulamentação da Abiquim.
Contatos podem ser feitos pelo email lidiane.romao@solvay.com.

 

 





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