Estudo premiado pela Petrobras vira produto e será disponibilizado em breve
O rompimento das microcápsulas de poliestireno permite visualizar as cavidades internas que alojam os inibidores de corrosão
Uma pesquisa desenvolvida pelo Engenheiro Químico Fernando Cotting, sob a orientação da professora Idalina Vieira Aoki, da Escola Politécnica da USP, resultou em uma tinta composta por microcápsulas com cério e silanol que inibe a corrosão em materiais metálicos. Intitulado "Revestimentos com efeito de autorreparação para sistemas de transporte e armazenamento de petróleo e gás", o trabalho ganhou, em setembro, o Prêmio Petrobras de Tecnologia, categoria “Tecnologia de Logística e de Transporte de Petróleo, Gás e Derivados”, que avaliou várias dissertações de mestrado.
Cotting conta que, entre as linhas de pesquisa estudadas pelo grupo coordenado pela professora Idalina [do Laboratório de Eletroquímica e Corrosão – LEC], havia um projeto, engavetado, que propunha o desenvolvimento de revestimentos inteligentes. Seu objetivo era obter uma tinta aditivada com microcápsulas que, após sofrer um impacto, conseguisse se recuperar ou minimizar os efeitos causados pela corrosão sobre o aço carbono.
Idalina e Cotting ganharam prêmio
Geralmente utilizado na formação de filmes finos, o silanol foi uma das substâncias escolhidas para formar a tinta protetora, mesmo não sendo um inibidor de corrosão como o cério, que pertence à família dos lantanídeos. “Elementos como o cério são utilizados em concentrações próximas a 1000 ppm. A inovação do trabalho foi a combinação de silanol e cério para a utilização em baixas concentrações, principalmente do cério (apenas 50 ppm)”, explica o pesquisador. A melhor combinação resultou em uma eficiência de 95% para o aço carbono em um meio contendo um alto teor de cloreto de sódio.
Apesar da comprovação dos benefícios que pode gerar, o composto poderia ser um fator que aumentaria o custo final de produção de dutos e tanques devido à raridade do cério na Natureza. Porém, Cotting garante que a relação custo x benefício do produto é vantajosa.
“O cério é um ótimo substituto para inibidores de corrosão tóxicos e a combinação deste com o silanol resultou em um bom sinergismo, diminuindo a concentração de cério já utilizada por outros grupos de pesquisa”, compara. O cério, ressalta, aumenta a vida útil da tinta, gerando diminuição de gastos com a repintura de peças.
O potencial de aplicação das microcápsulas presentes na tinta anticorrosiva vai além de dutos e tanques de armazenamento de petróleo. A versatilidade engloba todos os setores da economia que necessitem de uma proteção extra em pinturas devido a eventuais danos causados por impactos. Eletrodomésticos, embarcações, aviões e automóveis, por exemplo, podem receber a proteção extra.
Produção - Depois de receber sondagens de indústrias interessadas nas microcápsulas, o grupo responsável pela pesquisa decidiu abrir uma empresa, denominada Nanocorr, que irá atuar no mercado de aditivos inteligentes para tintas e também prestará consultoria no combate à corrosão de metais. Segundo Cotting, a produção das microcápsulas está sendo dimensionada para uma escala industrial. “Em um prazo de seis meses, o produto deverá estar no mercado e poderá ser aplicado em qualquer superfície metálica a fim de que haja uma diminuição da repintura de peças”, informa.
O grupo também está desenvolvendo microcápsulas que serão capazes de regenerar a tinta danificada de uma peça pintada. Serão aditivados dois tipos de microcápsulas: um contendo a resina da tinta (chamado de “componente A”) e outro com o agente de cura (“componente B”). “Quando a tinta for danificada, haverá uma reação de polimerização entre os componentes, regenerando o local”, explica Cotting. Essa nova tecnologia se destina a superfícies que usam pintura a base de epóxi e de poliuretano e deverá estar disponível em um ano.