Reconhecido internacionalmente, seus livros didáticos venderam milhões de exemplares
Álbum de família
O Engenheiro Químico Victor Abou Nehmi, que lecionou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e ocupou cargo diretivo nas Faculdades Oswaldo Cruz, faleceu em São Paulo em decorrência de um infarto no dia 2 de agosto, aos 88 anos.
Segundo informou sua filha Sabina Nehmi de Oliveira, que é Licenciada em Química, o professor já havia sofrido outro infarto há cerca de um ano e meio. Apesar dos problemas de coração e da idade avançada, Nehmi era um homem lúcido e ativo, que tinha por hábito fazer caminhadas pelo bairro do Paraíso, na capital paulista, onde morava.
Nehmi nasceu no Líbano, em 9 de novembro de 1925. No ano seguinte, a família imigrou para os EUA, onde sua mãe, Agia, faleceu durante o parto do segundo filho. Em 1930, para fugir da crise econômica iniciada com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, os Nehmi vieram para o Brasil, instalando-se na cidade paulista de Pitangueiras, onde tinham familiares.
Apesar das dificuldades que enfrentou durante a infância e juventude – tendo até que vender rapadura e selos para poder estudar – Victor Nehmi conseguiu, em 1952, a graduação em Engenharia Química pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
A partir de 1962, passou a atuar como professor e pesquisador da Poli-USP. Sua carreira no magistério, porém, começou anos antes, com aulas particulares e em colégios paulistanos.
O gosto pelo ensino o motivou a produzir diversos livros didáticos que, de tão bem aceitos, chegaram a vender mais de 2 milhões de exemplares. Problemas de Química Orgânica (Ed. Independente, 1961), Química Geral (Ed. Nobel, 1962) e Química Orgânica (Ed. Ática, 1964) estão entre suas obras mais populares.
No final da década de 1960, foi presidente da Associação Brasileira de Química – Regional São Paulo (ABQ-SP).
Defensor do uso da energia nuclear para fins pacíficos, tornou-se especialista em Carbono 14 para datação de fósseis (de até 50 mil anos) na Universidade Yale (EUA), tendo sido o responsável pela montagem, no início dos anos 1970, do laboratório da USP dedicado ao estudo desse isótopo radioativo.
Na condição de único especialista latino-americano na época, participou de congressos internacionais sobre Carbono 14 em diversos países. Em 1979, apresentou tese sobre o tema na Universidade de Heidelberg (Alemanha), uma das mais antigas do mundo.
Por sua carreira dedicada ao ensino de Química, obteve reconhecimentos de instituições internacionais. Em 2005, o International Biographical Centre de Cambridge (Inglaterra) concedeu-lhe o título de “Educador Internacional”. No ano seguinte, recebeu a Medalha de Ouro do American Biographical Institute. Em 2009, essa mesma entidade o intitulou como um dos 500 líderes mundiais nas áreas de Ciências e Humanidades.
A partir de 1978, Victor Nehmi passou a lecionar na Escola Superior de Química das Faculdades Oswaldo Cruz, em São Paulo. “Foi com grande pesar que a comunidade acadêmica recebeu a notícia do falecimento”, comentou o professor Nelson Bonetto, Conselheiro Titular do CRQ-IV e que trabalhou com Nehmi na instituição. Ele relatou que, em 1987, Nehmi assumiu o cargo de vice-diretor da instituição e que, em 1999, “foi guindado ao cargo de diretor, substituindo-me por eu ter assumido a Coordenação do Curso de Engenharia Ambiental”. Bonetto avaliou que a atuação de Nehmi como diretor da instituição “primou pela sua competência no trato das questões acadêmicas e pelo respeito que dedicava aos professores e estudantes”.
Nehmi se aposentou em 2007, “mas só parou porque estava com muitas dificuldades para enxergar”, ressaltou a filha, Sabina de Oliveira.
A aposentadoria, porém, não acalmou sua necessidade de produzir. Em 2011, Nehmi lançou seu último livro, a autobiografia chamada Como surge um sucesso. Divulgado na época pelo Informativo CRQ-IV – disponível para consulta na Biblioteca do Conselho – o livro conta de forma objetiva a trajetória da vida de um profissional que alcançou as metas que ele mesmo se impôs.