Repelentes - Seminário reuniu quase 200 participantes
Fotos: CRQ-IV
Seminário atraiu quase 200 profissionais
Perto de 180 profissionais participaram do Seminário sobre Repelentes, que a Comissão de Cosméticos do CRQ-IV promoveu no dia 9 de março em sua sede, com o apoio do Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos de São Paulo (Sinquisp) e da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC). Em um contexto de enfrentamento de epidemias de doenças como dengue, chikungunya e zika, o seminário objetivou esclarecer e orientar a respeito da Pesquisa & Desenvolvimento de produtos repelentes de insetos, mas também buscou apresentar aos participantes um panorama sobre a epidemia das doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti.
A primeira apresentação foi do Biólogo e Entomologista João Paulo Correia Gomes, coordenador do curso de pós-graduação em cosmética aplicada à estética do Senac/SP. Inicialmente, ele explicou as diferenças entre inseticidas – que são produtos que matam os insetos – e os repelentes que, como sugere o nome, destinam-se a afastar os insetos. Os repelentes estão divididos em dois tipos: os de ambiente, que são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como saneantes domissanitários, e aqueles que são aplicados sobre a pele, classificados como cosméticos. No ambiente doméstico, ressaltou o palestrante, deve-se usar tanto os inseticidas quanto os repelentes e as razões desse cuidado estão explicadas no vídeo abaixo:
Fatores climáticos, a elevada "competência" de o Aedes aegypti se adaptar ao ambiente urbano e a sua preferência por picar humanos a animais foram os motivos que levaram ao surto das doenças transmitidas por esse inseto, observou o palestrante. "Nos últimos anos, tivemos uma seca muito grande, o que levou às pessoas a começarem a acumular água de forma inadequada dentro de casa, criando um ambiente favorável à sobrevivência do mosquito. Acreditamos que este ano esses problemas vão continuar ocorrendo, porque teremos o fenômeno chamado El Niño, que provoca o aumento de chuvas e umidade, o que somado às temperaturas elevadas, contribuirão para a manutenção das condições propícias para proliferação do mosquito", previu Gomes.
A Engenheira Química Carla Gisele da Silva, da CQ Assessoria, falou sobre legislação e registro de repelentes. Entre as normas legais sobre o assunto, ela destacou a Lei 6.360/1976, que define o que é cosmético, e duas resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a RDC 07/2015, que dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, e a RDC 19/2013, que trata especificamente dos requisitos para a concessão de registro de cosméticos destinados a repelir insetos.
Na entrevista a seguir, a profissional falou sobre as dificuldades mais frequentemente enfrentadas pelas empresas que desejam registrar um produto repelente e comenta que, diante do surto de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e uma certa escassez desse cosmético, muitas empresas passaram a se interessar por esse nicho de mercado.
Silvana Nakayama, gerente da Merck
Gerente de Tecnologia & Aplicação da Merck, a Engenheira Química Silvana Kitadai Nakayama fez duas palestras durante o evento. A primeira foi focada na apresentação de formulações de repelentes tradicionais, os voltados ao público infantil e os que possuem filtros solares. "A ideia foi mostrar aos participantes a viabilidade de se construir fórmulas simples e eficazes", ressaltou a especialista.
Na segunda apresentação, foram discutidos aspectos relacionados à segurança, toxicidade e biodegradabilidade dos repelentes. Para Silvana Nakayama, a inclusão desse assunto no programa do seminário foi relevante porque, muitas vezes, "o formulador não tem ideia de parâmetros para se guiar sobre o grau de toxicidade da substância. Então, abordamos de forma didática todos os parâmetros dos repelentes dos quais tínhamos dados disponíveis", concluiu.
A última palestra do dia foi proferida pelo Biólogo Pedro Henrique Herculano, analista responsável pelo laboratório de entomologia do grupo Ecolyzer, e tratou da realização de testes de eficácia de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Insect Repellents for Human Skin and Outdoor Premises - Product Perfomance Test Guidelines - OPPTS 810.3700, da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, exigida pela Anvisa para o registro de cosméticos repelentes).
O processo para checar a eficácia, segundo explicou Herculano, inclui a seleção de voluntários e avaliação clínica, além de testes de laboratório e de campo, que devem ser feitos até que se obtenham dados suficientes para elaboração dos laudos a serem entregues à Anvisa.
Coordenadora do evento, a Engenheira Química Enilce Maurano Oetterer avaliou o seminário como bastante positivo, considerando o número de participantes e o grande interesse desses profissionais por obter e ampliar seus conhecimentos nas áreas de entomologia, desenvolvimento de produtos, novas matérias-primas e temas regulatórios, conforme ela comentou na entrevista abaixo:
Oetterer, que é consultora da Encosmética, também proferiu uma palestra que tratou das matérias-primas naturais e sintéticas usadas na fabricação de repelentes de insetos. Ela lembrou que as matérias-primas sintéticas são sempre feitas de algum princípio de origem vegetal ou animal, ou seja, sua fonte de inspiração é a natureza. "Os principais ativos que existem no mercado hoje vêm de pesquisas realizadas através dessas matérias-primas. Então, foi importante disseminar esse conhecimento entre os técnicos para que eles possam se inspirar na natureza como fonte de inovação e trazer novas soluções para o mercado", concluiu.
Gislaine e Leandro gostaram do seminário
Participantes - A Bacharel e Licenciada em Química Gislaine Tahara Siqueira esteve entre os participantes do seminário. Analista de P&D e Controle de Qualidade na Boni Brasil, fabricante de produtos de higiene pessoal e cosméticos destinados principalmente ao público infantil, ela disse que soube do seminário porque está sempre atenta aos eventos organizados pelo CRQ-IV, pois acha importante se inteirar das novidades relacionadas ao seu cotidiano profissional. A empresa onde ela trabalha ainda não produz repelentes, mas existe essa intenção, por isso as informações obtidas durante o seminário – principalmente às relacionadas a desenvolvimento, formulação e regulação de produtos – serão bastante proveitosas, afirmou.
Leandro Fernandes trabalha como professor de pós-graduação no Senac e tem Bacharelado em Química. A proliferação do mosquito que transmite várias doenças de elevado risco e as alternativas oferecidas pela indústria para combater essas epidemias foram as razões que motivaram sua participação. Fernandes disse ter achado o seminário bem interessante "porque apresentou muito conhecimento, muitas coisas novas, que poderão ser compartilhadas com os alunos". A apresentação que ele mais gostou foi a que abordou, entre outros aspectos, a questão envolvendo a toxicidade dos produtos repelentes ditos naturais. A palestra mostrou que, mesmo sendo naturais, alguns produtos podem ser até mais tóxicos que os industrializados", concluiu.
Clique aqui para obter cópias dos arquivos apresentados durante o seminário.