Palestrantes do evento e integrantes da Comissão de Meio Ambiente do CRQ-IV durante mesa-redonda
A Comissão de Meio Ambiente do CRQ-IV promoveu no dia 17 de março o IV Fórum de Recursos Hídricos. O evento foi alusivo ao Dia Mundial da Água, cuja data oficial é 22/03. Foram realizados dois ciclos de debates, encerrados por mesas-redondas com palestrantes, abertas a perguntas do público. Um total de 108 profissionais reservou vaga para o encontro, mas em razão da manifestação contra o governo federal que ocorreu na Avenida Paulista ao longo do dia, somente 88 pessoas conseguiram chegar à sede do Conselho.
Fotos: CRQ-IV
Mancuso fez a primeira palestra
Pela manhã, o primeiro palestrante foi o Engenheiro Químico e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Pedro Caetano Sanches Mancuso, que falou sobre o uso de fontes alternativas de água na visão da saúde pública. Em sua apresentação, destacou a importância do saneamento básico como forma de evitar que a qualidade da água seja prejudicada por poluição e, em especial, pelos denominados "contaminantes emergentes", que variam de produtos farmacêuticos e de higiene pessoal até pesticidas e herbicidas. "Esses contaminantes são resultados diretos da produção e do consumo de bens pela sociedade", explicou Mancuso.
Em seguida, dois palestrantes dividiram a parte do evento dedicada à gestão de recursos hídricos: Bruno Franco de Souza, da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, e Aline Biscegli Lopes, da fabricante de bebidas Ambev. Souza abordou o desenvolvimento da Política Estadual de Recursos Hídricos, instituída em 1991, que baliza o planejamento paulista para a preservação dos diversos corpos d'água, como rios, córregos e mananciais. Para fins administrativos, foram criados 21 Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs), compostos por integrantes do governo estadual, de prefeituras municipais e membros da sociedade civil.
Especialista em Meio Ambiente, Aline Lopes apresentou a experiência da Ambev na gestão integrada de recursos hídricos como um caso de sucesso, no qual diversas iniciativas viabilizaram a economia de água. "De 2002 a 2015, a empresa obteve uma economia de 40% no consumo de água em seus processos produtivos", ressaltou. Além disso, a multinacional (que é a quarta maior cervejaria do mundo) reutiliza aproximadamente 75% da água que capta para a sua produção.
O período da manhã foi encerrado com outras duas palestras: na primeira, Joubert Trovati, Engenheiro de Processos na GE Water & Process Technologies, detalhou o desenvolvimento de soluções inovadoras para a geração de água de reúso de alta qualidade, além da busca pela neutralidade energética nas estações de tratamento. A segunda foi ministrada pela Engenheira Juliana Pontes Machado Andrade, da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) de Campinas, que apresentou um caso de sucesso da empresa, o desenvolvimento de uma Estação Produtora de Água de Reúso (EPAR).
Cunha: estado possui mais de 5 mil áreas contaminadas
Segundo bloco - A programação da tarde foi aberta pelo Engenheiro Agrônomo Rodrigo César de Araújo Cunha, gerente do Setor de Avaliação e Auditoria de Áreas Contaminadas da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Medidas de gerenciamento de passivos ambientais, decorrentes da contaminação do solo e das águas subterrâneas, notadamente quando ocorrem vazamentos de combustíveis e abandono de plantas industriais, foram descritas por Cunha, que apresentou diversas estatísticas a fim de traçar um panorama da situação atual: em 2014 (ano com os dados mais recentes disponíveis), foi registrado pela Cetesb um total de 5.148 áreas contaminadas no território paulista, sendo que a maioria (3.825, o equivalente a 74%) é voltada para atividades comerciais, em especial postos de combustíveis.
A contaminação da água por hormônios e elementos com potencial para prejudicar o sistema endócrino de organismos vivos foi o tema da palestra do professor Fábio Kummrow, do Campus de Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). De acordo com o pesquisador, existem cerca de 800 substâncias que são categorizadas como possíveis "interferentes endócrinos", capazes de afetar funções relacionadas ao crescimento, à reprodução e ao comportamento, entre as quais estão agrotóxicos, o chumbo e hormônios como o estrogênio. "É de fundamental importância que o esgoto não seja lançado in natura em corpos d'água e que medicamentos tenham uma correta destinação", alertou Kummrow.
A última parte do fórum foi voltada para a discussão de aspectos técnicos e jurídicos do reúso direto de água (quando há uso planejado e deliberado de esgotos tratados, sem lançamento ou diluição prévia, para uso industrial, irrigação, recarga de aquífero e fins potáveis). As questões técnicas foram abordadas pelo Engenheiro Sanitarista Eduardo Pacheco, diretor dos portais Tratamento de Água e Saneamento Básico. Ele comentou alguns dos dados presentes no relatório "Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil", cuja versão mais recente é de 2014. Publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA), órgão do governo federal responsável pela gestão dos recursos hídricos, o levantamento aponta que mais da metade da água consumida no País (54%) é utilizada para irrigação agrícola. Segundo Pacheco, há risco de haver disputa por água no futuro, pois menos de 10% do total de áreas plantadas recebe irrigação, o equivalente a 5,8 milhões de hectares. No entanto, o relatório estima que esse total possa aumentar para 29,6 milhões de hectares, o que demandaria um volume de água mais de cinco vezes maior do que o atual, sem aumento do total de áreas plantadas. Diante desse cenário, o Engenheiro afirma que o reúso da água se tornou uma necessidade inevitável, o que aumenta ainda mais a importância de se investir em tratamento de esgoto.
Ana Claudia La Plata de Mello Franco, do escritório Tabet Advogados, foi a última palestrante do evento. Além de fazer uma análise da legislação vigente voltada para a preservação dos recursos hídricos, a advogada salientou que o reúso de água para fins potáveis ainda é considerada uma alternativa com riscos ambientais e de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde e especialistas no setor. Outra questão levantada por Ana Claudia é o fato de que ainda não existe uma normatização federal específica sobre o reúso, que é contemplado somente de forma indireta pela base legal vigente. "A regulamentação futura é necessária para que essa possível solução para a escassez de água não se transforme em um problema. É recomendável que o tema seja regulamentado por uma lei ordinária, cabendo aos Estados e Municípios disciplinar o tema de acordo com as suas peculiaridades", defendeu.
Elivelton e Rosane buscaram tendências e inovações em tratamento de água
Oportunidade - Atualizar os conhecimentos e ter contato com especialistas costumam ser as principais razões para se comparecer a um evento técnico, ainda mais quando se atua fora dos grandes centros. É o caso da Bacharel em Química Rosane Aparecida da Silva Bento Rocha, de Mirandópolis, cidade situada a cerca de 600 quilômetros da Capital, na região de Araçatuba. "Apesar das restrições de tempo, as palestras trouxeram informações importantes e, com as mesas-redondas, foi possível esclarecer dúvidas", afirmou Rosane, que trabalha no Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mirandópolis (SAAEM).
O Técnico em Química Elivelton Rodrigues Moraes, de Guarulhos, atua como assistente de laboratório industrial na metalúrgica Permetal, da mesma cidade, e buscou se informar a respeito das tendências mais recentes em tratamento de água. "É a primeira vez que participo do Fórum. Foi interessante por apresentar inovações que podem ajudar no cotidiano", elogiou.
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