Bioquímico: o mais novo Profissional da Química
Autor(a): Bruno Damasceno e Marcelo Depolo
Entidade definiu o 8 de maio como o Dia do Bioquímico e criou o logo acima para simbolizar a categoria
Historicamente, desde os grandes alquimistas mais antigos dos mundos árabe, chinês e europeu, muito do desenvolvimento das ciências e tecnologias químicas aconteceu em interface com outras áreas do Conhecimento. Por exemplo, o caminhar das químicas Inorgânica e Orgânica ao longo dos séculos deu base para criação das mais diversas indústrias, tais como farmacêutica, petroquímica, química, de transportes, siderúrgica e, mais recentemente, informática. A complexidade desse desenvolvimento e também do interfaceamento, ao longo do tempo, gerou a necessidade de se ter profissionais mais especializados em cada uma delas. Em resposta a essa demanda, surgiram inúmeros profissionais, como os Químicos Industriais, Engenheiros Químicos, Engenheiros de Petróleo, Farmacêuticos etc.
Mais recentemente, os velozes avanços na Bioquímica, publicados ano após ano, têm tornado clara a necessidade de uma mão de obra capacitada e especializada na relação entre Química e Biologia. Assim como aconteceu anteriormente em diversos outros países, como EUA, Portugal, Chile, Inglaterra, Espanha, Alemanha e Argentina, a sociedade constatou que era necessário um novo profissional para lidar com essa interface, com um vasto domínio das minúcias dos fenômenos biológicos e de todo o detalhamento químico e físico, além da visão de como cada uma das peças desse grande quebra-cabeça interage umas com as outras. Ou seja, o conhecimento antes espalhado entre diferentes profissionais, como agrônomos, biólogos e farmacêuticos, deveria ser juntado em uma só profissão, que resultasse na compreensão e aplicação plena da Bioquímica e seus fenômenos. Assim surgiram os bacharéis em Bioquímica, já tradicionais nos países citados.
Essa mesma necessidade de um profissional mais especializado foi o principal gatilho que culminou no primeiro curso de Bacharelado em Bioquímica no Brasil, criado em maio de 2000 na Universidade Federal de Viçosa (MG) e, alguns anos depois, na Universidade Federal de São João del-Rei (MG) e na Universidade Estadual de Maringá (PR). Na USP, o curso de Química já possui uma ênfase em Bioquímica e Biotecnologia.
Uma parte do curso foi desenhada para ter uma fortíssima base em Cálculo, Física, Química Orgânica e Inorgânica, Físico-Química e Estatística para fornecer fundamentos técnicos importantíssimos ao já presente mercado químico brasileiro. A outra parte foi preenchida com sólidos conhecimentos de Bioquímica, Biologia Celular, Biologia Molecular, e suas aplicações nas áreas de Bioquímica de Alimentos, Clínica e Médica, Industrial e também Biotecnologia, Empreendedorismo e Gestão.
Assim, esses dois lados de uma mesma moeda balanceiam um Bioquímico completo, capaz de transitar entre a pesquisa básica e aplicada, controle e garantia de qualidade, produção bioindustrial, análises bioquímicas e biotecnológicas diversas, gestão de laboratórios, gestão de projetos e inovações. Um profissional capaz de unir áreas da Química da Vida já tradicionais, como Química de Alimentos e Química Clínica, com áreas novas, como a biotecnologia. Um profissional capaz de atuar em indústrias químicas, farmacêuticas, biotecnológicas, alimentícias, cosméticas, de biocombustíveis, agronômicas, veterinárias, de papel e celulose, entre outras. E também apto a realizar análises diversas em empresas da área forense, de alimentos, papel e celulose, farmacêutica, clínica, química etc. Hoje temos bioquímicos atuando em indústrias, empresas e órgãos públicos como Natura, GranBio, BSBIOS, Labtest, Fiocruz, Souza-Cruz, Aspen Pharma, Thermo Fisher Scientific, Vallée, Inmetro, Lanagro, Embrapa, entre outras.
Compreendendo todo esse potencial, alguns bioquímicos enxergaram uma necessidade de estreitar relações com a sociedade e o mercado de trabalho e desfazer a errônea associação entre Bioquímica, Análises Clínicas e Farmácia existente apenas no Brasil. Assim, o Movimento Bioquímica Brasil nasceu com o intuito de gerar avanços profissionais, de forma mais rápida e com maior incisão social.
Aproximamos o mercado do bioquímico para que ele possa se inserir melhor. Ao mesmo tempo, apresentamos o bioquímico ao mercado, mostrando o quanto ele pode ser uma contratação interessante para diversas empresas. Criamos coesão entre os cursos, sendo ponte de comunicação e unificação de objetivos. Enviamos um esboço de Resolução Normativa ao Conselho Federal de Química, visando balizar o Bioquímico perante os concursos públicos e o mercado, nos definindo como Profissionais da Química.
Mais recentemente, a partir de consultas públicas, definimos nacionalmente o Dia do Bioquímico (8 de maio) e criamos o símbolo do Bacharelado em Bioquímica. Neste, a folha remete à biologia e à vida como um todo; a engrenagem é alusiva à indústria; e o hexágono se refere ao benzeno, como um elemento relacionado à Química que une ambas as partes. O dogma central da biologia molecular (“um gene gera um transcrito intermediário que, por sua vez, é traduzido em uma proteína”) é apresentado no formato de círculo estilizado, o que remete tanto à base química e biológica dos processos celulares quanto ao círculo comumente utilizado na representação clássica da ressonância de um benzeno. Existe um equilíbrio entre ciências aplicadas (representadas pela roda dentada) e ciências básicas (representado pela folha). A combinação dos quatro elementos (engrenagem, hexágono, folha e dogma central), em equilíbrio, também nos remete à harmonia da interface dessas áreas do conhecimento, diretamente associadas com áreas como Engenharia Genética ou Biotecnologia.
Site da entidade também divulga informações sobre mercado de trabalho
Um dos nossos sonhos é constituir uma terceira categoria de Profissional da Química: além dos Químicos e dos Engenheiros Químicos, teríamos os Bioquímicos ou Químicos Biologistas (incluindo claro, os Químicos e Engenheiros Químicos que já atuam na interface com a Biologia). Todo o conceito por trás do Bacharel em Bioquímica remete à ideia central da nossa identidade como profissão: somos a ciência e a profissão da Química da Vida. Uma profissão que estuda e aplica conhecimentos em equilíbrio e com sabedoria, que manipula e produz, que analisa e inova. Longe de ser uma promessa, hoje somos uma realidade: um novo Profissional da Química. Conheça mais o Bioquímico no site https://bioquimicabrasil.com.
Bruno Lima Damasceno é Bioquímico pela UFV e Mestre-IOC/Fiocruz. Tem cinco anos de experiência nos EUA na área de produção de proteínas recombinantes, processos fermentativos e Bioquímica/Biologia Molecular. Atualmente é consultor autônomo e palestrante nestas áreas. Contato: bruno.lima.damasceno@gmail.com
Marcelo Depolo é Bioquímico pela UFV e doutorando em Biologia Celular e Molecular na UFRGS e Bioinformata com ênfase em Modelagem Molecular. Contato: marcelodepolo@gmail.com.