Fosfoetanolamina - Ex-membros da equipe de Chierice lançarão pílula própria em março
Imagem veiculada pela Quality Medical Line no Facebook
O bioquímico Marcos Vinícius de Almeida e o médico Renato Meneguelo divulgaram no início deste mês o lançamento de uma nova versão da fosfoetanolamina, que ficou nacionalmente conhecida como a “pílula do câncer”. Fabricado nos Estados Unidos em parceria com um laboratório uruguaio, o produto já teve iniciado o processo de pré-venda pelo site www.qualitymedicalline.com, com entregas a partir de 16 de março. Em sua página no Facebook, Almeida estimou que cada pílula custará em torno de R$ 3,80. Como, segundo o site, cada frasco conterá 90 unidades, o preço final ficará ao redor de R$ 340,00.
Para evitar entraves com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a nova fosfoetanolamina, que já teria sido aprovada pelo FDA (similar norte-americana da Anvisa), será vendida como um suplemento alimentar e não como um medicamento.
Meneguelo e Almeida fizeram parte da equipe de Gilberto Chierice, professor aposentado do Instituto de Química da USP de São Carlos, que pesquisou e sintetizou a “fosfo” – como também ficou popularmente conhecida. Ambos, que também são detentores da patente do composto, deixaram o grupo, entre outras razões que não ficaram muito claras, porque Chierice insistia que a fosfo deveria ser reconhecida como um medicamento.
Em vídeo publicado em sua página no Facebook, Meneguelo contou ter discordado de que os testes clínicos fossem feitos em único centro (no caso, no Instituto do Câncer de São Paulo). Para ele, os estudos deveriam ocorrer em multicentros, pois isso permitiria que os resultados fossem comparados. “Eu não concordei e fui excluído de tudo”, contou. O médico disse achar “muito errado dar a galinha pra raposa tomar conta. Quem está fazendo os testes são as mesmas pessoas que, em 2009, quando eu entreguei o trabalho, se negaram a fazer os testes”, comparou. “Espero que os testes continuem e que o medicamento seja liberado, mas eu acho difícil”, afirmou.
O anúncio de que o produto seria fabricado fora do Brasil ocorreu em outubro do ano passado por meio da página no Facebook “Entendendo a Fosfo”, mantida por ambos. Almeida diz que foi desenvolvido um novo processo de síntese, que resultou em um composto mais puro, concentrado e acrescido de vitamina D. Contudo, os benefícios da fosfoetanolamina originalmente criada na USP seriam os mesmos.
Os dois evitam afirmar que o suplemento pode ser visto como um tratamento alternativo para o câncer. Porém, as informações veiculadas no site de venda sugerem outra direção. Segundo o texto, o novo composto “regula seu metabolismo, diminui o estresse oxidativo das células e, consequentemente, diminui a possibilidade de doenças degenerativas se desenvolverem [...]. O mesmo composto que produzimos no Brasil e que gerou toda polêmica, agora autorizado pelo FDA, produzido e comercializado a partir dos EUA, sob nossa supervisão e com apoio do laboratório Uruguaio, Federico Díaz que há mais de 100 anos atua em suplementos e medicamentos voltados ao auxílio no tratamento e combate ao câncer. Em sua página no Facebook, a distribuidora Quality Medical Line publicou a foto de uma mulher com a cabeça raspada, tendo ao lado a frase “Não desista!”.
Sigilo - Numa postagem feita em outubro de 2016, Almeida disse que não se opôs à continuidade dos testes no Brasil, mas salientou que não permitiria que toda inovação em bioimunomoduladores, que vão além da fosfo e que nunca foram veiculados na mídia e ao público, caísse em descrédito. Segundo ele, o público comum só sabe a ponta de uma história “que provavelmente nunca será contata por estar protegida por contratos de sigilos milionários. A fosfo é só a pontinha da pontinha do que vem por aí”, revelou.
“O nosso composto funciona? Só o tempo vai dizer. Mas é uma chance, pois quem tem câncer, não tem tempo a perder”, disse Meneguelo em seu vídeo.
Atualização
Em 21 de fevereiro, a Anvisa publicou resoluções suspendendo propagandas de dois suplementos feitos à base de fosfoetanolamina, conhecida como "pílula do câncer", por alegarem propriedades terapêuticas e funcionais não comprovadas – o que é proibido no Brasil. A medida atingiu os produtos "Phospho Ethanolamine", da marca Quality Medical Line, – produzido pelo laboratório Federico Diaz sob a supervisão do bioquímico Marcos Vinícius de Almeida e do médico Renato Meneguelo –, e "Phospho 2-AEP immune system", da marca New Life, de Orlando (EUA), que é controlada pela advogada paranaense Marinete Luiza Oro. Clique aqui para ler a matéria publicada pela Folha de S.Paulo.