ENAIQ - Indústria pede simplificação tributária e melhorias na infraestrutura do País
Fernanda Fernandes
Temer fez a abertura do encontro e garantiu que a reforma tributária
está entre as prioridades do governo
O 22º Encontro Anual da Indústria Química (ENAIQ), promovido no último dia 8 de dezembro, em São Paulo, pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), reuniu mais de 600 participantes para um ciclo de palestras sobre a atual conjuntura e as perspectivas para o futuro do setor. Na abertura, o evento teve discursos do presidente da República, Michel Temer, e do ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, que receberam demandas envolvendo questões tributárias e estruturais.
Temer garantiu aos empresários que as reformas previdenciária e tributária são as atuais prioridades de seu governo. No campo dos tributos, manifestou preferência pelo termo “simplificação” e afirmou que esta ajudará o setor químico brasileiro a retomar o crescimento e subir da oitava para a sexta ou sétima posição no ranking mundial de faturamento.
Já Coelho Filho citou iniciativas para estimular a indústria de mineração, energia elétrica e biocombustíveis, mas sobretudo de óleo e gás natural, como o programa Combustível Brasil, com foco principal no refino, já que o déficit atual, segundo o ministro, é de 580 mil barris de petróleo por dia. Ele chamou a atenção para a necessidade de se expandir a malha de gasodutos do Brasil, atualmente menor que a da Bélgica.
As demandas do setor foram reforçadas por discursos de deputados federais membros da Frente Parlamentar da Química (FPQuímica). João Paulo Papa (PSDB-SP), que preside o grupo, disse que uma das prioridades para 2018 será a promoção de debates com os candidatos à Presidência da República para a discussão de propostas de interesse do setor químico.
Fernanda Fernandes
De Marchi, presidente do Conselho
Diretor da Abiquim
PALESTRAS – O presidente do Conselho Diretor da Abiquim e da Elekeiroz, Marcos Antonio De Marchi, apresentou os resultados obtidos pela indústria química brasileira em 2017, destacando a queda no ranking mundial de faturamento ocorrida nos últimos anos (da sexta posição em 2015 para a oitava na atualidade) por razões de competitividade.
O País está atrás de China, EUA, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Índia e França. Mesmo assim, o setor se manteve como o terceiro que mais contribui para o Produto Interno Bruto nacional, representando 10,8% de toda a indústria de transformação.
A empregabilidade do setor também foi abordada: as empresas da área reúnem atualmente 400 mil trabalhadores contratados de forma direta e 2 milhões de forma indireta. De Marchi ressaltou que as remunerações chegam a ser o dobro da média da indústria de transformação, sendo que aproximadamente 50% da mão de obra possui formação de nível superior.
De Marchi salientou a necessidade de priorizar a agregação de valor aos recursos naturais para que a indústria possa gerar emprego. Como exemplo, citou que o setor participa dos grupos relacionados ao programa Gás para Crescer, do Ministério de Minas e Energia, e uma das expectativas é de que seja contemplado o gás matéria-prima a preços internacionais, pois a indústria química o utiliza para a produção de fertilizantes, tintas e outros produtos importantes para o emprego e desenvolvimento do País.
CRQ-IV
Hans Viertler e David Minatelli, do CRQ-IV
Em que pese haver a preocupação com o crescimento da presença do produto importado no mercado nacional – que atualmente representa 38% do consumo –, De Marchi avalia que o Brasil possui condições propícias para fomentar o crescimento da indústria química. “Temos abundância de matérias-primas de origem fóssil, vegetal e mineral; mercado consumidor de porte; e parque industrial completo. Os obstáculos à competitividade são todos removíveis, dependendo apenas da vontade política e determinação em fazê-lo”, apontou.
Presente ao encontro, o presidente do CRQ-IV, Hans Viertler, atribuiu os resultados da indústria química brasileira em 2017 aos erros de política econômica e industrial praticados no País. Para Viertler, muito da dependência externa do setor vem de “produtos que poderíamos fabricar aqui e até vender para o exterior. É o que China, Índia e Coréia estão fazendo. O know-how nós temos e reverter esse quadro é só uma questão de acreditar”, avaliou Viertler, que estava acompanhado do 2º Secretário do CRQ-IV, David Carlos Minatelli.
O secretário de Energia e Mineração do Estado de São Paulo, João Carlos Meirelles, reiterou o compromisso do governo paulista em apoiar os pleitos da indústria química de que o novo marco regulatório do gás natural (o programa Gás para Crescer) inclua garantias de suprimento do gás natural matéria-prima em volumes necessários para suprir a demanda do setor a preços internacionais.
Fabian Esteban Gil, vice-presidente do Conselho Diretor da Abiquim e presidente da Dow para a América Latina, também comentou sobre a questão do gás e defendeu soluções regionais para garantir o suprimento energético, sugerindo uma parceria com a Argentina.
Nas demais palestras, Wolfgang Falter, da consultoria Deloitte, falou sobre a inserção da Química no contexto da quarta revolução industrial, baseada na digitalização e na economia circular. Jorge Guimarães, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), fez um balanço dos resultados obtidos desde a sua criação, em 2013: investimento total de R$ 600 milhões em 360 projetos financiados (61 finalizados, com geração de 58 patentes), envolvendo 250 empresas e 42 unidades de pesquisa credenciadas.
O presidente-executivo da Abiquim, Fernando Figueiredo, apresentou o plano de comunicação da entidade para 2018, com ênfase nas redes sociais. A campanha #365DiasComVc visará principalmente despertar o interesse dos jovens pela Química.
Abiquim
NÚMEROS – De acordo com a Abiquim, o faturamento estimado da indústria química para o ano de 2017 foi de US$ 119,6 bilhões, valor 9,5% superior ao registrado em 2016, quando se alcançou US$ 109,2 bilhões. Apesar do aumento, o valor ficou bem abaixo do obtido em 2014 (US$ 146,9 bilhões). A maior parte das vendas vieram dos segmentos de produtos químicos de uso industrial (inorgânicos, orgânicos, resinas, elastômeros etc.), produtos farmacêuticos, HPPC (higiene pessoal, perfumaria e cosméticos) e fertilizantes.
A balança comercial do setor foi deficitária em US$ 23,4 bilhões, 6,5% maior do que 2016 e que representou o primeiro crescimento desse indicador em três anos. As principais razões para isso foram a retomada da atividade econômica, a safra de grãos recorde e a ausência de investimentos capazes de suprir o aumento da demanda.
Clique aqui para baixar o levantamento completo feito pela Abiquim, intitulado O Desempenho da Indústria Química em 2017, lançado durante o ENAIQ.