A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) constituída em outubro do ano passado na Assembleia Legislativa paulista para investigar os testes clínicos feitos pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e custeados pelo governo paulista, publicou, em 4 de abril, uma síntese de seu relatório final com graves acusações contra o coordenador do estudo, o oncologista Paulo Hoff, diretor clínico da instituição. Além disso, solicitou a diversos órgãos e autoridades que sejam feitas investigações mais aprofundadas para apuração de responsabilidades.
O relator da CPI na Assembleia, deputado Ricardo Madalena (PR), divulgou por meio de sua assessoria a síntese do relatório final da Comissão. O conteúdo inclui acusações relacionadas à conduta de Hoff, responsável pela pesquisa clínica. Os estudos, iniciados em julho de 2016, tiveram a inclusão de novos pacientes suspensa em março de 2017 por não terem sido atingidos resultados satisfatórios (veja detalhes).
Fotos: Assembleia Legislativa
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Deputado Ricardo Madalena, o relator da CPI
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Além de apontar que o Químico Gilberto Chierice - líder do grupo que sintetizou a fosfoetanolamina nos anos 1990 - não foi consultado quanto ao protocolo de estudos apresentado pelo Icesp, o relatório também cita trechos de depoimentos dados à CPI, tais como o da coordenadora de estudos regulatórios da instituição, Suleima Abou Jokh, que era a responsável por enviar informações aos comitês de ética em pesquisa que supervisionaram os estudos. Ela salientou que Hoff definiu todos os parâmetros do estudo, incluindo a rotina de ingestão das cápsulas: enquanto a equipe de Chierice recomendava três doses ao dia, Hoff teria determinado que as três cápsulas fossem ingeridas numa única vez.
Outro fato que chamou a atenção dos deputados foi o número de pacientes submetidos aos testes. Foram 72, enquanto que o protocolo definia um mínimo de 140 em razão de o estudo ter englobado dez tipos de cânceres. Todos os pacientes estavam em estado avançado da doença, com o sistema imunológico debilitado. Chierice afirmava que a fosfoetanolamina teria mais efetividade se administrada em pacientes com a capacidade imunológica não tão precária.
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Hoff conduziu os testes no Icesp
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A conclusão da CPI foi de que Hoff tomava decisões de forma unilateral, em que pese ter havido a participação de aproximadamente 40 profissionais no estudo. Ele também teria impedido o acesso dos auditores destacados pelo grupo de Chierice a informações sobre os procedimentos adotados nos testes. Os deputados reivindicam investigações por parte dos ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Ministério Público Estadual e Federal. O relatório também recomenda ao Governo do Estado que os testes com a “pílula do câncer” sejam retomados em outros hospitais e institutos de pesquisa que, segundo o relatório, teriam manifestado interesse em participar dos testes do Icesp, mas foram impedidos.
NOTA – Procurado pelo Informativo, o Icesp respondeu, por meio de nota, que “o estudo clínico realizado para a avaliação da eficácia da substância fosfoetanolamina seguiu rigorosamente os padrões e critérios éticos-científicos utilizados internacionalmente para a pesquisa clínica”. A nota destaca, também, que o estudo foi aprovado e acompanhado por diferentes instâncias, incluindo o Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina da USP e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisas (Conep).
O Icesp esclareceu ainda que o relatório de conclusão da CPI não foi compartilhado com a instituição. “Dessa forma, comentários relacionados ao teor do material só poderão ser realizados após o conhecimento e a apuração deste documento final”, salientou o texto. Após o recebimento da nota, o Informativo enviou cópia do relatório da CPI ao Icesp.