Artigo - Benefícios da Economia Circular na gestão de resíduos sólidos
por Margareth Pavan
Remanufatura, reparação, remodelagem e reciclagem são caminhos considerados para preservação e otimização dos recursos naturais
Imagine se os resíduos orgânicos descartados em nossa casa, diariamente, fossem utilizados para geração de energia ou processados e adicionados ao solo como fonte de nutrientes. Pense se, ao invés de descartar máquinas de lavar roupas, micro-ondas, celulares, eletrodomésticos e outros itens em desuso, esses equipamentos pudessem ser reutilizados. Ou, então, fossem reinseridos na cadeia produtiva. E mais: se todos esses produtos fossem produzidos e transportados a partir de fonte de energia renovável. Essas são algumas ideias que fundamentam o conceito de Economia Circular.
MAS AFINAL O QUE É
ECONOMIA CIRCULAR?
A Economia Circular é um conceito que repensa as práticas econômicas consideradas como lineares, baseadas em extrair, produzir e descartar. O conceito circular traz novas formas de projetar, desenvolver produtos e fazer negócios. Compartilhamento de bens, recuperação de recursos, valorização de resíduos e remodelação são os novos modelos de negócios que surgem no contexto desta nova economia.
Inspirada no bom funcionamento dos sistemas naturais, a ideia central da Economia Circular é fazer com que os sistemas artificiais (aqueles criados pelo Homem) trabalhem como os sistemas naturais. Os princípios que regem os sistemas naturais são os que fundamentam esse conceito. Por exemplo, um desses princípios considera que resíduos são iguais a comida (insumos). Como no ciclo biológico, em que os resíduos de uma espécie são alimentos para outra. Ou seja, os restos de frutas consumidas por um animal se decompõem e viram nutrientes para as plantas através em um ciclo fechado. De maneira similar, é possível projetar produtos que possam ser reutilizados ou desmontados no final de sua vida, prolongando seu ciclo de vida. É o caso das peças de eletrodomésticos usados, que podem ser reprocessadas e reintegradas à cadeia de produção. Ou dos compostos orgânicos que podem ser reintroduzidos ao ciclo biológico, agregando valor na agricultura ou serem utilizados como fonte de energia.
Outro princípio, que tem como inspiração os sistemas vivos, diz respeito a construir resiliência através da diversidade. Na Natureza, a grande quantidade de espécies diferentes trabalhando juntas contribui para a saúde geral do sistema e uma maior biodiversidade apoia o sistema em um momento de colapso. Da mesma forma, uma cidade uma empresa ou um país podem se beneficiar da diversidade compartilhando pontos fortes e disponibilizando um maior conjunto de recursos para serem usufruídos. Como nos sistemas naturais, esse sistema tem maior capacidade de recuperação em eventos extremos.
O conceito de Economia Circular tem origem a partir de várias escolas de pensamento. Entre as quais a Cradle to Cradle (Berço ao Berço) desenvolvida pelo Químico Michael Braungart e pelo arquiteto William McDonough, que preconiza a integração entre design e ciência, o uso de materiais seguros e elimina o conceito de desperdício.
QUAIS OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA ECONOMIA
CIRCULAR NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS?
No ano de 2016, a geração de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil foi de 78,3 milhões de toneladas. Por outro lado, o índice de cobertura de coleta de resíduos no país foi de 91%**. Isso significa que cerca de sete milhões de toneladas de resíduos tiveram destino impróprio, tais como rios, córregos, lixões a céu aberto etc. Um estudo desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU), o E-Waste World Map, revelou que em 2014 a geração de resíduos eletrônicos no mundo foi de aproximadamente 41 milhões de toneladas. Somente no Brasil, esse número chegou a 1,4 milhão de toneladas o que equivale a 7 kg de resíduos/hab/ano. Esses dados trazem a noção da quantidade de recursos desperdiçados e os custos envolvidos para gestão e disposição desses materiais.
Nesse sentido, essa nova forma de pensar as cadeias produtivas traz benefícios ambientais, operacionais e estratégicos, além de benefícios micro e macroeconômicos em função do potencial de inovação, geração de empregos e crescimento econômico. Produtos e materiais passam a ser projetados para que retornem à cadeia de produção em um ciclo fechado. Como consequência, diminui-se a demanda pela extração dos recursos naturais (frequentemente finitos, tais como os metais) que entram no ciclo produtivo e são utilizados por mais tempo, preservando o meio ambiente. As atividades de reciclagem, reaproveitamento e remodelação de materiais estimulam novas relações entre as empresas, que passam a atuar como fornecedoras e consumidoras de diferentes bens e serviços.
Outro aspecto que vale ser ressaltado é que no modelo circular o crescimento econômico se dissocia do consumo crescente e, consequentemente, da demanda por novos recursos, pois prioriza o aproveitamento inteligente de materiais e de serviços.
Vale destacar ainda que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída no Brasil em 2010 e regulamentada no mesmo ano, visa garantir a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e operação reversa. Desta forma, a PNRS deve estimular o envolvimento de todos os agentes envolvidos no ciclo produtivo, dos consumidores e do setor público, na busca para redução de resíduos através de práticas que possibilitem a reintegração desses materiais ao ciclo produtivo.
Dentro desse contexto, considera-se que o Profissional da Química pode contribuir com inovações em produtos e processos que visam o desenvolvimento de bens manufaturados mais adequados do ponto de vista de reutilização, reciclagem ou outras formas de recuperação e otimização de recursos naturais.
Margareth Pavan é Doutora em Energia e Meio Ambiente, Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental e Bacharel em Química pela USP. Integra a Comissão de Meio Ambiente do CRQ e atua como consultora nas áreas de Sustentabilidade e Meio Ambiente. Contatos pelo e-mail margaretholiveira@hotmail.com.