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Mai/Jun 2019 

 


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Divulgação - Químico cria canal no YouTube para “descomplicar” a Ciência


por Jonas Gonçalves

A rotina de viagens a trabalho não impediu o Bacharel em Química com Atribuições Tecnológicas André Guimarães de Oliveira de realizar o desejo de ensinar Ciência. Se as vicissitudes da vida o impediram de estar à frente de uma sala de aula, a tecnologia veio para suprir essa lacuna e tornar a “missão” divertida e prazerosa. Em fevereiro de 2018, ele criou um canal no YouTube chamado Ciência que lá vem História, cujos vídeos explicam conceitos de Química e de outras ciências de forma lúdica e bem-humorada. O canal tem mais de 1,2 mil inscritos.


O gosto pela arte de ensinar começou cedo. Oliveira conta que, ainda no Ensino Médio, ajudava amigos que tinham dificuldade no aprendizado de Ciências. Durante a graduação, feita no Instituto de Química da USP de 2006 a 2009, interessou-se pela área acadêmica e foi admitido em um programa de iniciação científica com duração de dois anos, que incluiu um estágio de dois meses e meio na Universidade da Flórida (EUA). Em 2010, iniciou o mestrado em Química na USP, concluído em 2012.


Apesar da obtenção do título de mestre, Oliveira não alcançou os resultados que esperava para sua pesquisa em Eletroquímica, o que momentaneamente o desanimou a prosseguir na área acadêmica (veja box). Logo depois, surgiu uma vaga de emprego na multinacional suíça Metrohm, fabricante de instrumentos para análises químicas. Como Especialista de Aplicação, presta serviços de instalação, suporte e cursos no Brasil e em outros países da América Latina.


Desde 2012 na função, o Químico diz que derivou dessa experiência profissional a ideia de se fazer o canal no YouTube. “Realizo diversas atividades de treinamento e o público sempre gostou das minhas apresentações, que incluem muitos recursos visuais. Conversando com amigos e familiares, desenvolvi a ideia de fazer vídeos para explicar conceitos científicos usando esses recursos, de um jeito simples e divertido. Num final de semana, peguei a câmera e gravei o primeiro vídeo, sobre o átomo e suas propriedades, e assim nasceu o Ciência que lá vem História”, conta Oliveira.


 

Reprodução YouTube

 

Oliveira: retorno à Grécia Antiga para contar a primeira parte da trilogia sobre a história do átomo

 

 

O vídeo de estreia é o que possui maior número de visualizações (6,3 mil no fechamento desta edição do Informativo). “A produção deu muito trabalho, pois estava aprendendo sozinho muitas coisas sobre gravação e edição”, relembra. Contudo, os vídeos da série especial sobre a história do átomo foram os que exigiram mais tempo para elaboração do roteiro, escolha de figurino e edição. “Fiquei bem feliz com o resultado, pois a repercussão foi muito boa”, comemora Oliveira.


As etapas de gravação e edição dos vídeos são feitas pelo próprio Químico, com auxílio da esposa. Ele conta, ainda, com um grupo de amigos para definir a escolha de temas, revisões e roteiros, além de colaborações eventuais de docentes de instituições do Rio de Janeiro, onde reside atualmente, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia e a Universidade Federal. “A maioria dos softwares que utilizo são livres, os quais aprendi a usar assistindo a tutoriais no próprio YouTube. Mas, no vídeo sobre titulação, contei com a ajuda de amigos e professores na gravação”.

 

Variedade – O nome do canal foi inspirado no quadro “Senta que lá vem história”, do antigo programa infantil “Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura de São Paulo. Combinando bom humor com animações ilustrativas, os vídeos inicialmente eram voltados ao público jovem, mas o envolvimento de Oliveira com projetos de divulgação científica o fez repensar a estratégia, estendendo o alcance para pessoas de todas as faixas etárias que tenham curiosidade e buscam um aprendizado básico.


O canal já abordou diversos assuntos, como o processo de corrosão – um dos fenômenos estudados pela Eletroquímica –, com uma temática inspirada na série de filmes “Star Wars”, e a reunião anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), evento do qual participou no ano passado, em Foz do Iguaçu (PR).
Estão nos seus planos produções sobre os 150 anos da Tabela Periódica (comemorados neste ano) e a conclusão da trilogia sobre a história do átomo, que remonta ao surgimento dos primeiros modelos na Grécia Antiga. Os dois primeiros vídeos dessa série já foram publicados no canal. A abordagem mais adequada para explicar o modelo quântico atual ainda está em fase de elaboração, mas já está disponível um vídeo introdutório sobre o tópico, intitulado “A Energia Quantizada”.


Entretanto, temas relacionados a outros campos do Conhecimento também são objetos de suas apresentações no mundo virtual, a exemplo do sistema de cores RGB, o descobrimento da Austrália e o fenômeno eclipse.


Em média, Oliveira publica um vídeo por mês, mas a ideia é aumentar a frequência de atualização. “Gostaria de gravar mais, porém a minha rotina de viagens é intensa e minha filha acabou de nascer. Além disso, como uso muitos efeitos de animação, o processo de edição é demorado”, explica.


Sobre a diversificação de temas, Oliveira pondera que se trata de uma tendência. “Como Químico, já me deparei com situações em que era difícil definir a fronteira entre a Química e outras ciências, como Física, Matemática, Computação ou Biologia. Acho que a sede pelo conhecimento é benéfica para todas as profissões, dando perspectivas diferentes sobre os assuntos”.


O público que acessa o canal é eclético, reunindo de curiosos a professores de Ciências. Oliveira considera que os elogios e cobranças por mais conteúdo que seu trabalho no YouTube recebe mostram que o canal cumpre o papel de ser uma plataforma de apoio ao processo de aprendizagem. “Uma professora informou que utiliza meus vídeos para explicar a história do átomo aos alunos e, por isso, queria saber quando iria sair a terceira parte da série. Acho que foi um dos momentos em que me senti mais feliz com o impacto do canal”, destaca o profissional, que não descarta retomar a carreira acadêmica e, quem sabe, além das telas de computador e celular, exercer a docência no mundo real.


Além de comandar seu próprio canal no YouTube, André Guimarães de Oliveira também participa de grupos que atuam com o mesmo objetivo: é membro da Liga Nacional de Comunicação Científica, formada em 2017 por estudantes e pesquisadores interessados em popularizar a divulgação científica, e do recém-criado canal colaborativo chamado Vela no Escuro, no qual publicou um vídeo explicando os fenômenos físicos e químicos por trás de uma simples vela.

 


Percalços frustraram expectativas


Uma sequência de imprevistos durante o mestrado fez com que o Químico André Guimarães de Oliveira perdesse, ao menos por um tempo, o interesse pela esfera acadêmica. Ele conta que seu projeto de pesquisa consistia em usar técnicas eletroquímicas para detectar um composto chamado DSF (sigla para, em português, Fator de Difusão de Sinais) em cultivos bacterianos de Xanthomonas campestris, bactéria que causa uma doença (cancro) em espécies cítricas como a laranja. Até então, segundo ele, não havia nenhum sistema com essa finalidade, o que conferia um caráter inovador ao trabalho.


Porém, diversos obstáculos atrapalharam o estudo: além de ter lidado com uma grande diversidade de moléculas que podem agir como interferentes em cultivos bacterianos, o pesquisador ainda encarou problemas com um reagente necessário que demorou meses para ser entregue e um equipamento quebrado, cujo conserto dependeu da vinda de um técnico da Alemanha.


Como a bolsa de mestrado dura apenas dois anos e ainda é preciso fazer as disciplinas da pós-graduação, não sobrava muito tempo para tocar o projeto no laboratório quando apareceram essas dificuldades. “No fim, não obtive sucesso no desenvolvimento do meu sistema de análise”, lamenta.

 

Mesmo assim, na defesa do mestrado, a banca elogiou a dissertação, enaltecendo o esforço para viabilizar o projeto mesmo com os problemas enfrentados. Os professores consideraram que o projeto teria potencial para ser desenvolvido com mais tempo em um doutorado (com duração de quatro anos), elevando as chances de obtenção de melhores resultados. “No entanto, naquele momento, já estava trabalhando na Metrohm e não me sentia muito motivado em prosseguir na área acadêmica”, explica.

 

 

 

 

 


 





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