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Jul/Ago 2019 

 


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Artigo - A Revolução Digital e a Indústria 4.0
Autor(a): Claudio Luis Muller


Gerd Altmann/Pixabay

A competitividade de uma empresa é diretamente proporcional à capacidade de se adaptar às mudanças e antever as possibilidades do futuro próximo. Tomar decisões baseadas em fatos e não em opiniões ou achismos é fundamental para garantir a sobrevivência e a empregabilidade.

“Transformação digital” é uma das expressões mais utilizadas no ambiente corporativo nos últimos anos. É praticamente impossível uma conversa, projeto ou oportunidade em que ela não apareça. A expressão é uma grande incógnita atualmente e entender alguns conceitos é imprescindível. Ela traz basicamente duas oportunidades para os profissionais e empresas: 1) Buscar eficiência e excelência operacional; e 2) Novas oportunidades de tecnologias disruptivas que realmente mudem a forma como um processo ou negócio é realizado.

 

Este é um momento peculiar de nossa história. Passamos por uma mudança drástica em nosso curso e percebemos que estamos neste processo. A primeira Revolução Industrial, iniciada no final do século XVIII, introduziu várias melhorias nos processos de manufatura, sendo a máquina a vapor a mais emblemática. Já a segunda mudança drástica, que começa na metade dos anos 1800 e vai até a Segunda Guerra Mundial, trouxe metodologias interessantes como, entre outros avanços, a produção seriada de Ford e o uso de eletricidade em sistemas industriais. A terceira, ainda em andamento, começou pela introdução de robôs em linhas seriadas. Os robôs substituíram drasticamente a utilização da mão de obra repetitiva nas linhas de montagem existentes na revolução anterior. E então podemos finalmente chegar à conhecida como quarta Revolução Industrial ou “Indústria 4.0”.

 

No cenário da indústria 4.0, temos estes robôs e sistemas pela primeira vez conversando entre si. A conectividade de sistemas trouxe previsibilidade, avaliação de desempenho e aumento de capacidade pela redução de gargalos. Além da terceira revolução não ter terminado, a quarta atropelou e acelerou os ganhos, tanto que muitos autores não se referem a este momento como revolução, mas sim como uma EVOLUÇÃO digital.

 

A transformação digital é, na verdade, uma jornada contínua. Não existem os conceitos de “não estar digitalizado” e “estar digitalizado”. A mudança somente é possível por quatro grandes vertentes: aumento da capacidade de processamento de sistemas e novas tecnologias, redução do custo e do tamanho de sensores, redução do custo de armazenamento e de computação e a conectividade onipresente. Em especial, a conectividade e a redução do custo de sensores irão criar possibilidades de pequenas e médias empresas entrarem na era da indústria 4.0, aumentando a competitividade ou, em alguns casos, até garantindo a permanência da empresa no mercado.

 

Para entender a possibilidade e até a necessidade de mudança da era atual basta lembrar do caso da Kodak, que no passado foi uma das grandes empresas químicas mundiais, mas demorou demais para perceber as tendências do mercado. A Kodak, fundada em 1878, foi a detentora da patente da máquina digital até 2007 quando o registro expirou. E o resto é história. Na mesma proporção, principalmente na área de serviços, empresas inexistentes há cinco, dez ou quinze anos hoje são gigantescas. Exemplos não faltam: Uber, Airbnb, Spotify, Facebook... a lista apenas aumenta.

 

Em 2015, estimava-se que cerca de 15 bilhões de equipamentos e devices estavam conectados à internet. Em 2019, o número praticamente dobrou e deverá chegar a 75 bilhões em 2025. As estatísticas são desencontradas, mas estima-se que menos de 20% dos devices estão hoje efetivamente conectados à internet. Quanto maior o número de equipamentos conectados, maiores as bases de dados para análise e maior a acuracidade dos algoritmos elaborados pela maior base de informações. As possibilidades são infinitas. Um outro dado, também estimado, aponta que cerca de 40% dos sistemas conectados à internet são da indústria de transformação e manufatura. Porém, se por um lado não faltam exemplos de empresas e oportunidades bem-sucedidas, ainda existe um desconhecimento e descrédito de muitos gestores em entender a necessidade e urgência de projetos voltados à transformação digital. Segundo o site safeatlast, há muitas barreiras enfrentadas pelos gestores, porém, as quatro principais são:

 

 

Coleta de dados: as fontes de dados, na sua maioria, possuem pequena capacidade de armazenamento e a coleta de todas as informações em tempo hábil é complexa. E muitos sistemas significam muitos protocolos e linguagens próprias.

Segurança de dados: existe um risco inerente na abertura de sistemas de processo para extração de informações. Mais de 80% das corporações já relataram alguma falha de segurança em diferentes níveis, gerando desconforto de gestores em permitir acesso aos seus dados.

Privacidade: o ramo do Direito ligado à privacidade da informação é um dos que mais cresceu na era digital. Existe uma preocupação sobre por onde a informação circula na internet.

Custos de implementação: o custo operacional para implementação de tecnologias de conexão, armazenamento e processamento, mesmo em queda, dificulta a adoção de projetos de transformação digital. Além dos custos de manutenção dos sistemas e algoritmos criados, sistemas legados e antigos exigem um investimento extra para sensoriamento e muitas vezes até o desenvolvimento de protocolos específicos de comunicação.

 

Na área industrial as mudanças tendem a ser mais demoradas e sutis. Os profissionais são mais conservadores e a adaptabilidade é menor. Mas, como tudo na era digital, o custo tende a diminuir e a velocidade de adoção tende a ser mais rápida. A adoção, principalmente dos chamados “gêmeos digitais” (*), irá permitir a simulação para testar os limites operacionais com maior precisão.

 

Como dito no início, o valor da transformação digital na área industrial está ligado principalmente a dois aspectos: redução de custo operacional e novas oportunidades criadas. No âmbito dos custos, o exercício de abstração é mais simples. Uma análise eficaz e rápida de um grande número de informações facilmente resulta em identificar as ineficiências de um processo.

 

Dessa forma, é possível identificar quais são os melhores resultados obtidos e reproduzi-los com consistência e menor variabilidade de qualidade; promover o uso adequado da matriz energética, tanto pela conversão plena quanto pelo uso eficiente; e identificar eventuais quebras de máquinas, transformando uma manutenção reativa em preventiva, preventiva por condição ou até chegar a uma prescritiva, reduzindo não apenas os custos operacionais de manutenção, mas também aumentando a disponibilidade. Esse processo resulta em um mapeamento de toda a cadeia e na redução dos custos operacionais proporcionados pela análise adequada de dados.

 

A transformação digital com efeito disruptivo nos processos industriais é menos óbvia. O exemplo da Kodak, à luz do conhecimento atual, parece simples, mas não é. Há indícios fortes de que algumas variáveis importantes foram renegadas como a da questão da lucratividade, afinal filmes fotográficos tinham uma margem de lucro muito grande. Outros aspectos, como a entrada do Facebook e a mudança de compartilhamento de lembranças (fotos) não eram tão óbvias.

 

O que empresas fazem para garantir a sobrevivência é uma análise de tendências de mercado e a adaptabilidade de trazer novos produtos. O que será do futuro do papel, da indústria automobilística, de polímeros de base fóssil, entre outros, são perguntas constantes no cenário industrial brasileiro e mundial. A velocidade com que novos produtos chegam ao mercado responde a algumas destas questões.

 

Quanto mais rápido as empresas responderem às mudanças, maior a chance de ganhos e sobrevivência.

 

Como adaptar-se e como será a empregabilidade no futuro próximo? A cada mudança de ciclo esta pergunta aparece. Não há uma resposta simples, mas faremos uma análise em um próximo artigo.

 

(*) Cópia virtual das linhas de produção, na qual as etapas da fabricação de um produto são computadorizadas e, com o uso de softwares especializados, são simuladas alterações na produção para estimar quais seriam os resultados na prática.


Fontes:
https://safeatlast.co/blog/iot-statistics/
https://petapixel.com/2018/06/14/abrief-history-of-kodak-the-cameragiants-rise-and-fall/





O autor é Eng. Químico, mestre em Processos Petroquímicos e neste ano integra o time de palestrantes do Momento Q, iniciativa do Conselho Federal de Química. Contatos podem ser feitos pelo
e-mail engcmuller@gmail.com.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





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