Material desenvolvido no CDMF tem forte ação contra fungos e tumores
Um novo material com propriedades antifúngicas e antitumorais foi desenvolvido por pesquisadores do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O compósito foi obtido a partir de uma amostra de tungstato de prata puro, irradiado com elétrons e com feixes de laser com pulsos na escala do femtosegundo. A descrição do novo material foi publicada na revista Scientific Reports.
O tungstato de prata é um material inorgânico com aplicações em fotocatalisadores, fotointerruptores ou como uma alternativa aos semicondutores convencionais de banda larga. Ele vem sendo alvo de investigação dos pesquisadores do CDMF há alguns anos.
“Em um experimento realizado em 2018, quando irradiamos o tungstato de prata com elétrons, observamos em microscópio eletrônico o aparecimento de uns ‘cabelinhos’ que cresciam sobre as moléculas do material. Aquilo nada mais era do que filamentos de nanopartículas extraídos pela irradiação de elétrons”, disse Elson Longo, professor emérito do Departamento de Química da UFSCar e coordenador do CDMF.
“A prata é um elemento químico com propriedades bactericidas, que também são observadas no tungstato de prata. Mas o notável foi verificar que, após a irradiação por elétrons e a construção dos filamentos de prata, o compósito modificado passou a apresentar ação antifúngica até 32 vezes mais eficaz do que a anterior à irradiação”, disse Longo.
Enio Longo
Composto a-Ag2WO4 formado por feixe de elétrons e irradiação de femtosegundos
A ação antifúngica do compósito modificado de tungstato de prata foi verificada em placas de Petri com culturas do fungo Candida albicans, responsável pela infecção candidíase. Como já se conhecia a quantidade mínima de tungstato de prata capaz de eliminar uma cultura daquele fungo, os pesquisadores aplicaram a mesma quantidade do compósito modificado sobre a cultura. O resultado observado foi semelhante.
Em seguida, reduziram pela metade o volume da substância e repetiram a experiência, eliminando novamente os fungos. Ao todo, o processo foi repetido por 32 vezes consecutivas, demonstrando assim que o compósito modificado tinha propriedades antifúngicas 32 vezes mais potentes do que as do tungstato de prata original.
CÂNCER – Para verificar a ação antitumoral do compósito, foram empregadas células tumorais de carcinoma de bexiga em ratos, expostas por 24 horas a diferentes concentrações do compósito (4,63 microgramas por mililitro [μg/mL], 11,58 μg mL, 23,16 μg/mL e 46,31 μg/mL, respectivamente).
Segundo Longo, os resultados demonstraram uma redução significativa da viabilidade celular, sendo que o melhor resultado foi obtido na concentração de 11,58 μg mL, quando se observou uma redução de 80% na viabilidade das células do carcinoma de bexiga.
Após constatar as propriedades antifúngicas e antitumorais do novo compósito, os pesquisadores investigaram a sua segurança no eventual uso em pacientes humanos.
Quatro concentrações do compósito irradiado de tungstato de prata, que estavam na faixa ótima de atividade fungicida (de 3,9 a 31,2 μg/mL), foram estudadas em linhagens celulares de fibroblastos gengivais humanos.
Após 24 horas de incubação, os efeitos dos compósitos na viabilidade celular, na proliferação celular e na morfologia celular foram avaliados pelo ensaio fluorimétrico quantitativo e microscopia confocal de varredura a laser, respectivamente.
“Os resultados mostraram que não houve perda estatisticamente significativa da viabilidade celular para essas concentrações, revelando que o compósito não apresenta risco à saúde”, disse Longo.