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Set/Out 2019 

 


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Cera de ouvido pode detectar câncer


A cera de ouvido é um fluído biológico com a função de proteger os órgãos do sistema auditivo. Apesar dessa importante missão, o material produzido pelas glândulas apócrinas costuma ser menosprezado pelas pessoas. Um estudo realizado no Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames), ligado ao Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG), pode dar à secreção, também chamada de cerume, um status mais nobre. A pesquisa concluiu que a análise da cera de ouvido permite a detecção de doenças como câncer em diferentes estágios.

O grupo de cientistas envolvido na pesquisa ressalta que a grande inovação do trabalho está no fato de descobrir que a cera de ouvido contém o histórico do metabolismo das pessoas, podendo dizer se elas estão doentes ou saudáveis. Os detalhes do estudo estão no artigo “Cerumenogram: a new frontier in cancer diagnosis in humans”, publicado no Scientific Reports Nature, veículo de elevado fator de impacto na comunidade científica.

Liderada por Nelson Roberto Antoniosi Filho, a equipe de pesquisadores do Lames tem a tradição de trabalhar com resíduos e rejeitos que geralmente não são valorizados. Já foram feitos estudos bem-sucedidos com borra de café e sobras das indústrias alimentícia, têxtil e automobilística, entre outras.

UFG

 
 

Antoniosi Filho , coordenador da pesquisa, pensou em investigar o cerume há mais de 20 anos

 

O professor Antoniosi Filho pensou em investigar o cerume há mais de 20 anos, mas a falta de tecnologia disponível o impediu de ir adiante. O cerume não foi uma escolha aleatória. “Por ser uma secreção, ele conta a história do metabolismo. Como o câncer é um processo metabólico um pouco diferenciado daquele que ocorre em células saudáveis, talvez haja a produção de substâncias diferentes das de um organismo sadio. Também pode ocorrer o aumento, redução ou até o desaparecimento dessas substâncias, que podem ser eliminadas na urina, no sangue, no suor, saliva ou no hálito, mas como esses meios já foram explorados por outros pesquisadores, optou-se pela cera de ouvido”, esclarece o cientista.

RAPIDEZ – O exame é feito a partir da coleta da cera de ouvido no laboratório com uma cureta. A amostra fica armazenada em um recipiente, que a isola do meio exterior, e é mantida a -20 ºC até que a análise seja feita. A refrigeração não será necessária se a análise ocorrer logo após a coleta da amostra.

Na etapa seguinte, o material coletado é aquecido para que seus compostos voláteis passem para a fase de vapor. Estes são recolhidos por uma seringa e introduzidos no cromatógrafo a gás. O material separado é então passado para um espectrômetro de massas, que revela quais são as substâncias presentes. Os perfis obtidos indicam se o indivíduo é ou não portador de algum tipo de câncer.

“Nós observamos que esses perfis são distintos e com base nessas diferenças conseguimos montar um banco de dados e dizer se uma pessoa está ou não com câncer, inclusive quando se encontram em estágios iniciais. O que é importante, já que há maiores chances de cura quando a doença é diagnosticada no começo”, ressalta Antoniosi Filho.

A análise proposta pode indicar se o paciente está doente, mas não o tipo de câncer e onde ele está localizado. Por isso, um dos próximos passos da pesquisa é buscar esse detalhamento.

Segundo o pesquisador, a análise desse tipo de material sai ao redor de R$ 400,00, o que é um custo baixo – tanto para o sistema público como para a rede privada de saúde – quando comparado com o que se gasta no tratamento da doença: um quimioterápico custa entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. Por isso, ele acredita que nos próximos anos o exame da cera de ouvido para detecção de câncer estará disponível e será feito com a mesma frequência como se faz um hemograma.

Durante a realização da pesquisa, foram analisadas amostras de 50 indivíduos saudáveis e 52 com câncer, sendo 21 carcinomas, 4 sarcomas acompanhados de carcinomas, 10 leucemias, 11 linfomas, 3 mielomas com leucemia e 3 tumores do sistema nervoso central acompanhados de carcinomas.

O processo todo permite que em cinco horas seja verificado se o paciente tem a doença. A análise pode ser feita em até sete dias a partir da data da coleta. “É bastante vantajoso, pois além de não ser invasivo, praticamente todas as universidades brasileiras possuem a tecnologia adequada e a instrumentação necessária para se fazer esse tipo de análise”, pontua.

Para o professor, a cera de ouvido tem se mostrado ser o melhor meio para fazer o diagnóstico de câncer por ser um material que contém, em uma pequena quantidade de amostra, uma elevada concentração de substâncias de interesse. “A análise do cerume consegue identificar 158 substâncias metabólicas. Dessas, 27 discriminam a ocorrência de câncer”.

REPERCUSSÃO – Os resultados chamaram a atenção da comunidade científica para a continuidade dos estudos. Em Goiás, o Hospital Araújo Jorge deverá firmar parceria com a UFG para a ampliação dos estudos. Em São Paulo, por solicitação do médico Luiz Juliano Neto, o Hospital A.C. Camargo, referência internacional no tratamento e na pesquisa do câncer, também deseja firmar parceria com a universidade. Uma das maiores autoridades em câncer de cabeça e pescoço, o oncologista Luiz Paulo Kowalski, também do A.C. Camargo, demonstrou interesse em contribuir com as pesquisas, por meio da coleta de material e validação dos resultados em pacientes já diagnosticados.


Com informações da Universidade Federal de Goiás.






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