Alimentos - Tecnologias para embalagens foi o foco de simpósio feito por comissão
Evento também tratou de assuntos regulatórios e reuniu especialistas de várias áreas
CRQ-IV
"Tudo que tem contato com o alimento potencialmente pode gerar problemas de segurança alimentar. Por isso, todos os materiais devem ser avaliados", disse a Engenheira Juliane Dias
Segurança, sustentabilidade, tendências e inovações em embalagens alimentícias estiveram em pauta na quinta edição do simpósio promovido anualmente pela Comissão Técnica de Alimentos e Bebidas (CTALI) do CRQ-IV. O evento on-line, transmitido pelo canal do Conselho no YouTube, teve o apoio do Sindicato dos Químicos de São Paulo e pode ser conferido neste link.
Além da função primária de proteger os alimentos e suas propriedades nutritivas contra agentes externos e contaminações, as embalagens também se tornaram ferramentas importantes para atrair os consumidores, cada vez mais exigentes na hora de escolher um produto, o que gerou um desafio para os profissionais do setor. Foi o que destacou na abertura do simpósio a Engenheira Andrea Mariano, coordenadora das comissões técnicas do Conselho.
No primeiro bloco do evento, que teve a mediação da especialista em Tecnologia de Alimentos Renata Cerqueira, membro da CTALI, segurança e legislação estiveram em pauta no ciclo de palestras, iniciado pela Química Aline Brionisio Lemos, que tratou da aprovação de embalagens para contato com gêneros alimentícios e as resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que regulam esse processo.
Pesquisadora do Centro de Tecnologia de Embalagem do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do governo paulista, Aline pontuou que “a embalagem deve ser considerada como uma extensão do alimento, não podendo ser uma fonte de contaminação microbiológica, física ou química”.
A resolução RDC nº 91 da Anvisa, de 11 de maio de 2001, é a referência geral para a normatização do contato direto de embalagens e equipamentos industriais com alimentos durante as etapas de produção, elaboração, fracionamento, armazenamento, distribuição, comercialização e consumo. De acordo com a pesquisadora, a resolução se baseia em três pilares para comprovar a segurança de embalagens: as Boas Práticas de Fabricação, os ensaios de migração e as chamadas “listas positivas”, que relacionam as substâncias químicas com uso autorizado para a fabricação de materiais que terão contato com alimentos.
A Engenheira de Alimentos Juliane Dias, da consultoria Flavor Food, fez uma apresentação com foco nos ensaios de migração (transferência indesejada de materiais). Segundo dados do mais recente relatório do Sistema de Alerta Rápido para Alimentos e Rações (RASFF, na sigla em inglês) da União Europeia, publicado em 2018, entre os principais materiais de contato que possuem compostos de migração estão a melamina (um tipo de plástico), o nylon e metais como ferro, cromo, níquel, manganês e alumínio.
“Tudo que tem contato com o alimento potencialmente pode gerar problemas de segurança alimentar. Por isso, todos os materiais devem ser avaliados”, explicou Juliane, que listou os principais fatores para a ocorrência de migração: composição do alimento, concentração da substância no material, composição/processo de fabricação do material de embalagem, tempo e temperatura de contato, além da afinidade dos componentes do alimento pela substância. Segundo ela, estudos apontam potenciais efeitos adversos para a saúde humana em longo prazo, que incluem câncer, disrupção endócrina e impactos sobre o sistema imunológico, o DNA e o intestino.
Na palestra de encerramento do bloco, a Química Rebeca Almeida Silva, que atua na Gerência de Avaliação de Risco e Eficácia da Anvisa, abordou a legislação do Mercosul para embalagens de alimentos. Ela apresentou o trâmite regulatório no âmbito do mercado comum formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, onde participa das discussões sobre a normatização a ser aplicada. “Depois que uma resolução é publicada pelo Mercosul, a Anvisa tem que internalizá-la no País, gerando uma resolução com o próprio número”, salientou.
Rebeca também informou que o arcabouço regulatório hoje mantido pela Anvisa, por ser muito amplo e com resoluções tendo sido emitidas em momentos distintos, o que eventualmente gera incoerências e ambiguidades, passa atualmente por um processo de revisão e consolidação de atos normativos que tratam do mesmo assunto, cujo prazo para término é o dia 30 de maio de 2021.
O Químico Industrial Adão Parra analisou as tendências do mercado. Sobre a necessária busca pela sustentabilidade, fez um comparativo apontando vantagens e desvantagens das embalagens flexíveis plásticas frente a outras mais tradicionais, feitas à base de vidro ou metal que, embora sejam materiais recicláveis, geram mais resíduos e têm maior custo final
TECNOLOGIAS – Inovação e sustentabilidade foram os macrotemas da segunda parte do simpósio. Na primeira palestra, a Engenheira de Alimentos e consultora Katherine Helena Oliveira de Matos, da empresa SIG Combibloc, mostrou como a tecnologia pode favorecer a segurança de alimentos. Com o setor em franco processo de transformação, ela avalia que o tema nunca foi tão importante. “Embora não haja evidências científicas da transmissão do novo coronavírus pelos alimentos, as pessoas incorporaram novos hábitos de higiene, incluindo a desinfecção das embalagens dos alimentos”, pontuou.
Um dos pontos críticos para a garantia dessa segurança é a rastreabilidade das embalagens, o que facilita a realização de processos de recall em caso de necessidade de recolhimento de lotes de produtos. Katherine apresentou um sistema que tem sido usado por algumas indústrias alimentícias, baseado em códigos QR e aplicável em qualquer tipo de embalagem, que viabiliza também a disponibilização de informações sobre a origem e a fabricação do produto para o consumidor. “O futuro das embalagens é digital”, ressaltou ela.
Um caso de sucesso de inovação foi apresentado pela Engenheira de Alimentos Ana Pontes, da área de Desenvolvimento de Embalagens da Cargill, atual proprietária da marca de produtos atomatados Elefante. Ao falar sobre “gatilhos para inovação”, destacou os tipos de necessidades que criam as demandas por mudanças no setor de embalagens: de material, de processo, do meio ambiente, de custo e, em especial, do consumidor. “Quando o projeto parte de uma necessidade do consumidor, tem uma grande chance de se tornar um case de sucesso”, assinalou Ana Pontes.
O processo de criação de uma nova embalagem para o extrato de tomate Elefante passou por diversas etapas ao longo dos últimos cinco anos, incluindo um amplo estudo das percepções do consumidor sobre o produto, bastante tradicional no mercado. Verificou-se a necessidade de renovação da marca e da embalagem, tornando-a mais prática (com um sistema abre-e-fecha) e reutilizável de diferentes formas.
O encerramento do segundo ciclo ficou a cargo do Químico Industrial Antônio Adão Parra, diretor comercial e de suprimentos da empresa Embalagens Flexíveis Diadema, que falou sobre a importância no processo de decisão de compra das embalagens, enfatizando que estas assumiram as funções de conquistar a atenção do consumidor e de entregar os benefícios e valores das marcas.
Ele também fez uma análise sobre as principais tendências de mercado do presente e do futuro, a exemplo da busca por garantir facilidade de abertura, maior visibilidade do conteúdo e redução do peso, além do desenvolvimento de embalagens porcionadas em monodoses e tipos especiais de impressão.
Sobre a necessária busca por sustentabilidade, fez um comparativo apontando vantagens e desvantagens das embalagens flexíveis plásticas frente a outras mais tradicionais, feitas à base de vidro ou metal que, embora sejam materiais recicláveis, geram mais resíduos e têm maior custo final.
Após cada um dos blocos, os respectivos palestrantes responderam a perguntas enviadas pelos participantes do evento.