O primeiro presidente do CRQ-IV foi o Engenheiro Químico Julio Rabin. Filho único de um casal de imigrantes russos, ele nasceu em 1913, em Maceió (AL). Lá viveu até 1930, quando se mudou para São Paulo para estudar Engenharia Química na Escola Politécnica da USP. Graduou-se em 1935.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), foi convocado para participar dos esforços de racionalização do uso de combustíveis. Rabin chefiou a seção de combustíveis do Escritório Regional do Setor Produção Industrial e, segundo seu sobrinho Marcello Elman, foi um dos responsáveis pela introdução no Brasil do gasogênio, um equipamento que, acoplado à traseira dos veículos, gerava energia a partir da queima de carvão vegetal. Naquele período, ele também se dedicou ao estudo da geração de energia por meio de caldeiras, assunto no qual se tornaria um dos maiores especialistas do País.
Rabin construiu sua carreira trabalhando como consultor independente. Era contratado pelas indústrias químicas para inspecionar o funcionamento e a segurança da operação das caldeiras.
Agnaldo Freires, que foi assistente pessoal do Engenheiro por quase 24 anos, contou que multinacionais como Goodyear, Duratex, General Motors, Volkswagem e Ford estavam entre suas principais clientes.
Conhecimento - A formação em Química conferia ao trabalho de Rabin qualidades diferenciadas em relação aos engenheiros de outras áreas. Sua primeira preocupação ao inspecionar uma indústria, por exemplo, era checar a qualidade da água utilizada. Com os conhecimentos que o estudo da Química lhe proporcionou, ele sabia que a água empregada na operação poderia não só determinar a performance das caldeiras, como comprometer a segurança dos trabalhadores, da planta e da comunidade ao redor da fábrica.
A preocupação de Rabin com a segurança dos processos envolvendo caldeiras era tão grande que, como meio de preservá-la, por onde passou ele sempre defendeu a profissionalização dos operadores daqueles equipamentos. Muitas empresas atenderam ao apelo do especialista. Freires, seu assistente, disse que certa vez ouviu a seguinte frase de um operador: "Se hoje eu tenho uma profissão, foi graças ao Dr. Julio".
Pioneirismo - Nos anos 1940 e 1950, Rabin participou da criação de entidades importantes para o País. Foi sócio-fundador da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Comandada pelo engenheiro Eudoro L. Berlinck, a delegacia regional da entidade foi inaugurada em 1942. As instalações resumiam-se a uma sala cedida pelo Instituto de Engenharia, na rua XV de Novembro, 228, centro da Capital.
Como o espaço ficou pequeno com o passar dos anos, Rabin ajudou a resolver o problema convidando a delegacia a ocupar uma sala maior, no 24º andar da sede do então Banco do Estado de São Paulo (Banespa), no centro da capital paulista, onde mais tarde seria instalado o CRQ-IV.
Em 1968, porém, o Banespa solicitou o espaço, já ampliado para o andar inteiro, obrigando a delegacia da ABNT a procurar outro local. Um prédio na Rua Marquês de Itu não demorou a ser encontrado, mas surgiu uma dificuldade inesperada: o proprietário do imóvel exigia um fiador para locar o espaço. Como a diretoria da ABNT nacional ficava no Rio de Janeiro, o ex-presidente do CRQ-IV resolveu rapidamente a questão, avalizando pessoalmente o contrato. Essa passagem, aliás, está registrada numa publicação lançada pela ABNT em 1985, em comemoração os seus 65 anos de fundação. Cinco anos antes, Rabin recebeu daquela entidade uma homenagem pelos serviços prestados à normalização, especialmente como presidente do CB-10, que trata da área química.
Julio Rabin também figura entre os fundadores da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa). Para viabilizar a instalação da empresa, no início dos anos 1950, o Engenheiro Plínio de Queiróz organizou uma lista com mais de 180 assinaturas de pessoas físicas e jurídicas, sendo que cada uma delas contribuiu com oito mil cruzeiros. O nome de Julio Rabin estava entre os que contribuíram para a criação de uma das mais importantes indústrias da época.
Apagando incêndios - Devido ao seu profundo conhecimento sobre o assunto, o ex-presidente do CRQ-IV também atuou por muitos anos com consultor do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Além de ministrar cursos sobre como evitar explosões em caldeiras, em muitos casos ele acompanhava pessoalmente ocorrências de incêndios em indústrias.
Era comum o Engenheiro Químico ter de sair às pressas durante a madrugada para atender aos pedidos de ajuda dos Bombeiros. Segundo Freires, a esposa de Rabin, Dona Suzana, costumava dizer que "ele parecia médico". Certa vez, devido ao risco de explosão, o profissional fez com que todos os bombeiros saíssem de uma fábrica em chamas e ficou sozinho controlando a caldeira.
"Ele ajudou a salvar muita gente", comentou Marcelo Elman, seu sobrinho, ao acrescentar que o ex-presidente do CRQ-IV trabalhou com os bombeiros até os 80 anos de idade. Sua dedicação foi reconhecida pela corporação paulista: em 1974, Julio Rabin foi homenageado com a entrega do capacete e o título de bombeiro honorário.
Eleição - Já bastante conceituado no meio, em 1957 o Engenheiro participa da reunião de instalação do CRQ-IV e é eleito seu primeiro presidente. Sua missão era implantar a fiscalização do exercício profissional nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e também no então território de Rondônia, que representavam a área sob a jurisdição da quarta região na época.
Tal como fez com a ABNT, Rabin levou a sede do Conselho para o 24º andar da sede do então Banespa. Sob seu comando, a entidade registrou os primeiros profissionais e empresas, iniciou o serviço de fiscalização e adquiriu uma sede própria.
Durante os três mandatos em que comandou o Conselho, Rabin implantou projetos que instituíram concursos destinados a valorizar os profissionais e os estudantes da área Química e que mais tarde deram origem aos Prêmios CRQ-IV e Fritz Feigl, promovidos até hoje. "Ele tinha um carinho muito grande pelo Conselho", relata o sobrinho Elman. Pela dedicação à entidade e à química, o ex-presidente foi homenageado em 2002, durante a cerimônia de inauguração da sede atual.
Além da ABNT, da Cosipa e do CRQ-IV, Rabin participou também da fundação da Associação Brasileira de Combustão, já extinta. Dedicou-se ainda ao magistério, tendo lecionado na Universidade Presbiteriana Mackenzie e no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Trabalhou até 2002, quando faleceu sua esposa. O primeiro presidente do CRQ-IV morreu em julho do ano passado, aos 92 anos.