Covid-19 - Vídeo propõe inalação com água sanitária para tratar a doença
Nota assinada pelo Sistema CFQ/CRQs e Abipla alerta sobre riscos da medida
Daniel Roberts/ Pixabay
Em nota publicada no dia 25 de março, o Sistema CFQ/CRQs e a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla) manifestaram profunda preocupação com o volume de desinformação sobre métodos que estariam sendo usados para tratar preventivamente ou mesmo pessoas já acometidas por Covid-19.
A nota foi motivada por um vídeo em que um homem sugere o uso de uma solução envolvendo água sanitária e bicarbonato de sódio para nebulização de infectados com o vírus Sars-Cov-2, responsável pela Covid-19.
O tratamento precoce para essa doença é um assunto polêmico e que divide opiniões até entre os próprios médicos. Distanciamento social, higiene pessoal e vacinação em massa são as principais iniciativas respaldadas pela Ciência e, por enquanto, as que devem ser consideradas para o controle da pandemia, adverte a nota oficial.
O documento prossegue dizendo que “a solução proposta no vídeo expõe a riscos sérios aqueles que a aplicam: esses produtos foram desenvolvidos para utilização sobre superfícies inanimadas, jamais para aspersão sobre a pele e menos ainda para inserção nas vias respiratórias. A inalação proposta é possível através da aquisição de produtos simples e acessíveis a maior parte da população, o que aumenta a possibilidade de sua utilização em massa e potencializa seus riscos”.
“Substâncias químicas possuem aplicabilidades diversas no cotidiano das pessoas, e muitas delas são indispensáveis direta ou indiretamente para a nossa própria saúde: basta lembrar dos medicamentos ou dos produtos de limpeza que, entre outras funcionalidades, eliminam bactérias e vírus de ambientes comuns”.
“É preciso ter em mente, entretanto, que para que essas substâncias promovam os benefícios que delas se espera são necessários diversos testes e ensaios. Esse período de testagem se dá em condições controladas de uso, tudo para que sejam garantidas à população a eficácia e a segurança na utilização”.
No Brasil, segue a nota assinada pelas entidades, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emite frequentes alertas relativos aos riscos assumidos pela população sempre que condições e destinações de uso são alteradas deliberadamente por cidadãos comuns – ou até mesmo por profissionais que atuam sem qualquer suporte técnico ou sanitário oficial, condição que somente a Anvisa poderia assumir.
“Destacamos que a essa alteração de destinação de uso de produtos químicos a Anvisa chama ‘Desvio de Finalidade’, sendo previstas pela lei advertências e penalidades aos autores desta infração”, alerta o documento.
“Compreendemos que, neste momento de pandemia, grupos acabam tentados a experimentações sem qualquer tipo de controle ou registro técnico de resultados. Em consequência, é previsível que se promova a divulgação de tais experimentos. A nós, como profissionais da Química e representantes da indústria do setor de higiene e limpeza, cabe o alerta de que as consequências dessas iniciativas são invariavelmente danosas à saúde. Quaisquer substâncias são completamente seguras apenas quando obedecidas as instruções dos fabricantes que foram previamente analisadas e aprovadas pela Anvisa”.
No caso específico da água sanitária trata-se de saneante regulado pela Anvisa de aplicação exclusiva para higienização de superfícies inanimadas e hortifrutícolas, em solução diluída. A Abipla reforça ainda os termos da NOTA TÉCNICA Nº 47/2020/ que diz que é aconselhável o uso de luvas, máscara e óculos para manuseio seguro destes produtos, pois possui grau de corrosividade à pele, olhos e mucosas.
REPERCUSSÃO – A nota foi citada em matéria veiculada na seção Fato ou Fake, do portal G1, que desmente a veracidade das informações contidas no vídeo. O alerta sobre os riscos da inalação das substâncias também foi reforçado pelo superintendente do CRQ-IV e Conselheiro do CFQ, Wagner Contrera Lopes, em matéria publicada no site da revista Piauí, na seção Lupa.
Clique aqui para acessar a íntegra da nota assinada pelo Sistema CFQ/CRQs e Abipla.