Indústria Química nacional aposta em manutenção de crescimento
Setor pode dobrar de tamanho em 30 anos por conta da produção de renováveis
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O presidente-executivo da Abiquim demonstrou otimismo no final da palestra de Guedes
A indústria química brasileira encerrará 2021 com faturamento líquido estimado de US$ 142,8 bilhões, valor que, se confirmado, superará o do ano anterior em 33,1%. Os dados consolidados deverão ser conhecidos apenas em março ou abril de 2022, segundo informou Ciro Marino, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química, durante o 26º Encontro Nacional do setor (Enaiq), ocorrido em 3 de dezembro.
A produção interna cresceu em média 4,5% e foi acompanhada pelo aumento das vendas internas, que aponta crescimento estimado de 3,3%. O setor acredita na manutenção do crescimento em 2022, acompanhando um ritmo observado desde 2019. O déficit da balança comercial também aumentou e deverá chegar a US$ 45 bilhões.
Durante o encontro, Marino ressaltou três desafios que precisam ser equacionados para que a indústria química possa alcançar melhores resultados nos próximos anos e, gradativamente, reduzir as importações: a questão da reforma tributária, o alto preço dos insumos, notadamente o gás e a energia elétrica, e a necessidade de que sejam criados incentivos fiscais para o setor, a exemplo do que ocorre em outros países. Segundo ele, o gás natural no Brasil é 300% mais caro e a eletricidade 400% mais custosa se comparados aos Estados Unidos.
Um dos convidados do evento, o economista Paulo Gala (FEA/USP – FGV) disse ser importante que a indústria química nacional amplie a sua capacidade tecnológica. Segundo ele, mesmo que houvesse isonomia no preço dos insumos, na questão tributária e na infraestrutura, o setor químico brasileiro teria dificuldades de competir mundialmente, pois esse mercado é extremamente concentrado e oligopolizado.
Em apresentação gravada, o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, almirante Flávio Rocha, confirmou que o governo está discutindo com a Abiquim o lançamento para breve (talvez ainda neste ano) de um plano visando estimular a produção nacional de fertilizantes, segmento que vem passando por dificuldades já há algum tempo e que é fundamental para a manutenção das atividades do agronegócio, principal fonte de sustentação do Produto Interno Bruto. Atualmente, o Brasil importa 80% dos fertilizantes que utiliza. A proposta do plano não é buscar a autossuficiência desse insumo, mas reduzir a dependência do produto importado em até 60% nos próximos 30 anos.
Falando ao vivo, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, mandou um recado positivo para o setor. Ele citou as recentes leis que instituíram os marcos do Gás Natural e do Saneamento Básico como pontos de grande interesse para o crescimento da indústria química e disse que o governo está atento à questão fiscal, reforçando o princípio da previsibilidade para que investimentos sejam feitos pelas empresas. “O protagonismo [nos investimentos] será do setor privado e não do Estado”, encerrou Guedes.
Ao agradecer o ministro por sua participação, Ciro Marino disse que Guedes falou com vigor, demonstrando a vontade e a resiliência de seguir com todas essas iniciativas. “A gente visualiza a química em 25 anos, 30 anos com provavelmente o dobro do tamanho que ela tem hoje [o setor é o 6º maior do mundo]”, impulsionado pela produção de renováveis (como o hidrogênio e a amônia verdes). “Não existe ninguém no mundo capaz de competir com o Brasil nessa área. Fique certo de que o setor recebeu muito bem suas palavras hoje”, concluiu o executivo.