A Comissão de Ensino Técnico do CRQ-IV está desenvolvendo um projeto que visa a criação de um selo de qualidade para as escolas que oferecem cursos técnicos da área química. O objetivo é zelar pela boa formação dos profissionais, criando um instrumento referencial para que estudantes e empresas identifiquem as melhores instituições. Ao mesmo tempo, o Conselho terá mais um mecanismo para se aproximar das escolas e auxiliá-las na elaboração de matrizes curriculares condizentes com as necessidades das empresas de suas regiões.
Em 1998, havia apenas 105 cursos técnicos da área química nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, jurisdição do CRQ-IV. No final do ano passado, esse número havia subido para 338. Só no interior paulista, o total de cursos cresceu quase 300% no período. É verdade que muitas cidades eram carentes de escolas técnicas, o que muitas vezes obrigava as indústrias lá instaladas a “importarem” profissionais. Mas esse crescimento levou ao surgimento de cursos de pouca infra-estrutura.
Quem autoriza a abertura de cursos técnicos nas redes particular, municipal e estadual são os Conselhos Estaduais de Educação. O Ministério da Educação analisa a criação de cursos nas Escolas Técnicas Federais. Por sua vez, o CRQ-IV só participa dos processos de análise de pedidos de autorização quando o órgão governamental solicita seu apoio. Atualmente, apenas o Conselho de Educação do Mato Grosso do Sul consulta o CRQ-IV.
A assessora técnica do CRQ-IV, Lígia Maria Sendas Rocha, uma das profissionais que estão à frente do projeto de criação do selo, conta que algumas escolas têm procurado a entidade, “mas são casos isolados”, ressalta. A expectativa dela é de que, com a implantação do selo de qualidade, mais instituições se preocupem em montar cursos contextualizados com as necessidades de suas regiões.
O projeto do selo já foi apresentado ao Plenário do Conselho, que aprovou a idéia. “Será uma orientação importante para os estudantes e para as empresas que vão contratar profissionais da química. Além disso, estaremos reconhecendo o trabalho desenvolvido pelas boas escolas e estimulando outras a investirem na melhoria da qualidade de seus projetos educacionais”, afirma o Engenheiro Manlio de Augustinis, presidente do CRQ-IV.
De acordo com o cronograma do projeto, o selo deverá ser lançado em junho de 2007, ano em que o Conselho completará meio século de existência. Até lá, a Comissão de Ensino Técnico trabalhará em três etapas. Na primeira, serão detalhados os requisitos que uma escola deverá atender para obter o selo de qualidade. Na segunda, serão definidos os procedimentos operacionais para qualificação das escolas. Paralelamente, serão criados manuais de orientação para as instituições interessadas. Os manuais serão disponibilizados no site do Conselho em data a ser divulgada. Na terceira etapa, prevista para o no primeiro semestre de 2007, o projeto será apresentado a representantes de escolas e empresas para apreciação e sugestões.
Ao término das três fases, serão selecionadas algumas escolas para que o processo de certificação seja aplicado em escala piloto. A partir desses testes, serão feitos os ajustes finais e o selo de qualidade estará pronto para ser implementado. O lançamento oficial ocorrerá em 2007, durante a cerimônia de comemoração ao Dia do Profissional da Química e dos 50 anos do CRQ-IV.
O projeto preliminar prevê a avaliação da instituição de ensino sob seis aspectos: gestão, infra-estrutura, qualificação do corpo docente, projeto pedagógico, relações institucionais e com a comunidade e avaliação pelo cliente. Paulo Cesar de Oliveira, diretor da ETE Conselheiro Antonio Prado, de Campinas, profissional encarregado de apresentar o projeto ao Plenário, ressalta que o Conselho será rigoroso nas avaliações. Não bastará, por exemplo, a escola ter uma biblioteca com livros atualizados; ela terá de desenvolver programas que estimulem os alunos a freqüentá-la.
A preocupação com o preparo do aluno surgiu no I Fórum Regional de Ensino Técnico da Área Química, promovido em 2004 pelo CRQ-IV e que deu força ao projeto de criação do selo de qualidade. Naquele evento, representantes das indústrias como Oxiteno, VCP e Basf mostraram a importância que dão aos valores, às atitudes e à capacidade de liderança dos funcionários. Eles revelaram que, em alguns processos seletivos, esses fatores são tão importantes quanto a competência técnica dos candidatos.
O selo de qualidade não será obrigatório, mas as escolas que o obtiverem terão seus nomes divulgados no
site do Conselho e servirão de referência para indústrias e estudantes.
Se o projeto atingir os objetivos, poderá ser estendido às instituições de ensino superior.
A qualidade do ensino foi o principal tema da reunião que representantes do CRQ-IV tiveram dia 25 de abril com o deputado estadual João Carlos Caramez (PSDB). Em visita à sede da entidade, o parlamentar foi recebido pelo presidente Manlio de Augustinis e por técnicos do órgão. Augustinis expôs a Caramez a preocupação do Conselho com a qualidade dos cursos técnicos, pois muitos deles não dispõem de boa infra-estrutura.
Uma das possibilidades de que o Estado de São Paulo poderia fazer uso para reduzir o problema seria seguir o procedimento adotado há algum tempo pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) do Mato Grosso do Sul, que geralmente consulta o CRQ-IV antes de autorizar a abertura de novos cursos. O CEE paulista não tem manifestado mesma preocupação, lamentou Augustinis.
A segurança dos laboratórios escolares onde são realizadas experiências químicas foi outro assunto tratado no encontro. Os representantes do CRQ-IV mostraram ao deputado que, se não forem supervisionados por um profissional habilitado, esses locais podem sujeitar os estudantes a riscos de acidentes, inclusive fatais.
“Eu fico bastante feliz por saber que a preocupação de vocês é nesse sentido”, afirmou o deputado. Caramez, que é autor da chamada Lei dos Ascaréis, se propôs a intermediar o agendamento de audiências do CRQ-IV com a Secretaria da Educação, para que esses assuntos sejam discutidos.