Criada em outubro de 2008, a Associação dos Profissionais em Ciências dos Alimentos (Apcal) congrega um grupo de profissionais da química que têm uma titulação específica: os bacharéis em ciências dos alimentos. Diferente de outros integrantes da Classe com formação voltada para esse segmento, como os Técnicos e os Engenheiros de Alimentos, esses bacharéis desempenham uma atividade relativamente nova no Brasil e que engloba não só a produção industrial, como também todo o acompanhamento da cadeia agroalimentar. Isso significa que sua atuação pode começar na fase da pós-colheita, passando pelo monitoramento analítico da fabricação e alcançando questões relativas à saúde do consumidor.
Segundo explica Rodrigo Aparecido Moraes de Souza, presidente da Apcal, as competências do Bacharel em Ciências dos Alimentos envolvem toda e qualquer vertente na qual o alimento se insere. Assim, o profissional começa a marcar presença nas operações de armazenamento de produtos in-natura, segue pelos processos e monitoramento analítico da fabricação, garantia e acompanhamento da qualidade nutricional, sensorial e de inocuidade, passando pelo controle de resíduos, pesquisas para inovações tecnológicas, até chegar às relações com a qualidade de vida e saúde do consumidor. A formação também o qualifica a trabalhar em áreas que envolvam marketing, logística, segurança, sustentabilidade, agroindústria, agronegócio, rastreabilidade etc.
No Brasil, a graduação em Ciências dos Alimentos foi introduzida, em 2001, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba (SP). A Apcal, aliás, foi fundada por egressos das quatro turmas por lá formadas até hoje e está sediada no Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da instituição. O curso, informa Souza, proporciona formação similar à que ocorre há varias décadas em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a graduação em Food Science confere competências agrárias ao profissional. Por esta razão, as universidades estrangeiras que o oferecem também formam engenheiros agrônomos. Modelo parecido foi adotado pela Esalq. Há, ainda, cinco outras instituições que mantêm o curso no Brasil, sendo três delas em Minas Gerais: o Instituo Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Sudoeste de Minas e as universidades federais de Viçosa, Minas Gerais, Mato Grosso e Santa Catarina.
O pouco conhecimento da sociedade a respeito da profissão, de suas competências e dos cursos que a ela habilitam, fatores que emperram a contratação do profissional por empresas e órgãos públicos, foram os motivos que levaram a criação da Apcal. Rodrigo de Souza conta que já ocorreram situações em que os bacharéis não puderam participar de concursos porque a administração pública ignorava sua titulação e competências.
Por tais razões, investir na divulgação desse grupo diferenciado de profissionais, mostrando a contribuição que está capacitada a dar para a sociedade, está entre os principais objetivos da Apcal. A participação em fóruns que discutam a profissão é uma forma de sedimentar esse caminho. No CRQ-IV, a entidade está representada por seu presidente na Comissão Técnica de Alimentos. Outra meta é conquistar representatividade suficiente para, por exemplo, intervir e garantir a participação dos bacharéis em concursos públicos. A promoção de eventos que possibilitem o contínuo desenvolvimento técnico é outra tarefa prioritária.
Apesar de ter nascido e estar sediada dentro de uma instituição de ensino paulista, Rodrigo de Souza afirma que a Apcal não tem viés acadêmico e nem quer limitar sua atuação regionalmente. “Os associados – alguns deles residindo em outros Estados e no exterior –, têm perfil diversificado, atuando em empresas privadas, públicas e em pesquisa acadêmica. Dos seis diretores atuais, cinco trabalham no setor privado”, salienta. A Apcal pretende representar nacionalmente todos os bacharéis em Ciências dos Alimentos, independentemente de onde desenvolvam suas atividades, complementa.
A amplitude geográfica brasileira é um empecilho para que a entidade possa expandir sua ação para além das fronteiras paulistas. Mesmo assim, a associação vem se esforçando para crescer. São feitos contatos com profissionais já formados e desenvolvido um trabalho específico com os futuros egressos dos cursos existentes para mostrar-lhes a importância de participarem da entidade. A Apcal também já conversou com professores da Universidade de Viçosa e iniciou contatos com os responsáveis pelos demais cursos de Minas Gerais. Na etapa seguinte, procurará os coordenadores dos bacharelados ministrados nas federais de Mato Grosso e Santa Catarina.
E como a Apcal enxerga os outros profissionais, da química ou não, que também militam na área de alimentos? Rodrigo de Souza adianta que, pelo menos na fase atual, a entidade aceita apenas adesões de bacharéis em Ciências dos Alimentos e que estejam registrados nos Conselhos Regionais de Química. Mas isso não quer dizer, observa, que no futuro as portas também não serão abertas para profissionais com outros títulos ou até mesmo de outras categorias.
Para se associar, o interessado precisa preencher o cadastro disponível no site
www.cienciasdosalimentos.com.br. Não são cobradas taxas. Os que puderem colaborar – já que não se faz nada sem dinheiro –, são convidados a dar uma contribuição anual de R$ 50,00. Informações sobre este assunto também poderão ser obtidas pelo
e-mail ou pelo telefone (19) 3429 4131.