Busca
Faça uma busca por todo
o conteúdo do site:
   
Acesso à informação
Bolsa de Empregos
Concursos Públicos (CRQ-IV)
Consulta de Registros
Dia do Profissional da Química
Downloads
E-Prevenção
Espaços para Eventos
Informativos
Jurisprudência
Legislação
LGPD
Linha do Tempo
Links
Noticiário
PDQ
Prêmios
Prestação de Contas
Publicações
QuímicaViva
Selo de Qualidade
Simplifique
Sorteios
Termos de privacidade
Transparência Pública
 

Jan/Fev 2005 

 


Matéria Anterior   Próxima Matéria

Artigo alerta sobre causas de acidentes em laboratórios
Autor(a): Antonio F. Verga


Laboratórios químicos e microbiológicos são considerados áreas de alto risco. Não temos estatísticas no Brasil de acidentes em laboratórios, mas nos locais onde temos ministrado treinamentos ao longo dos últimos 15 anos, nos mais variados tipos de instalações de empresas privadas, instituições públicas e universidades, no Brasil e no exterior, os relatos das chefias reportam grande número de acidentes de pequena e média gravidade e um menor número de acidentes graves que causaram mutilações e outras lesões permanentes. São também do nosso conhecimento quatro casos de mortes, sendo duas no próprio laboratório e duas ocorridas alguns dias após o acidente. Estes casos vieram à tona pelos relatos de chefias e funcionários. E aqueles que foram abafados? É difícil saber, mas o número deve ser bem maior.

Há muitas situações potenciais de acidentes nos laboratórios, pois neles são manipulados agentes químicos corrosivos, inflamáveis, tóxicos, mutagênicos, teratogênicos e cancerígenos. Casos de dermatoses, leucopenias, plaquetopenias, leucemia, silicoses, contaminações por agentes patogênicos, como vírus da hepatite em amostras de esgoto, e efeitos nocivos ao organismo causados por princípios ativos farmacêutico são freqüentes. Há ainda perigos envolvendo o uso dos aparelhos que, por exemplo, podem expor o profissional à radiações.

São grandes as dificuldades que os departamentos de segurança das empresas encontram para atuar nos laboratórios devido à complexidade de produtos e operações existentes nesses locais.

Soma-se aos fatores de risco citados a grande competitividade do mercado globalizado, que exige das empresas cada vez mais produtividade e redução de custos. E, infelizmente, uma das formas para atender a tal exigência é reduzindo a mão-de-obra, o que gera sobrecarga de trabalho e contribui para o aumento significativo de acidentes.

A implantação de um programa permanente de segurança é a medida básica para que sejam reduzidos os riscos de acidentes em laboratórios. Esse programa precisará sempre contar com a participação de todos os setores envolvidos: desde a alta direção, provendo os recursos necessários e oferecendo todo apoio à manutenção do programa, passando pelos níveis de gerência e supervisão, assim como os departamentos de segurança, higiene do trabalho, serviço médico, saúde ocupacional, departamento de meio ambiente e finalmente as equipes que trabalham nos laboratórios. Estas devem receber treinamento contínuo para terem claros os riscos que as operações oferecem e o que deve ser feito para minimizá-los.

Um programa de segurança eficaz começa por uma análise prévia das condições atuais. Verificar como está montado o laboratório, o seu layout, saídas de emergência, condições do piso, iluminação, ventilação e renovação do ar. As capelas estão funcionando com a eficiência esperada? Como está o controle de desempenho dos equipamentos de emergência, tais como chuveiros, lava-olhos e mantas corta-fogo? As incompatibilidades dos reagentes foram levadas em conta na organização do almoxarifado? Como é feito o controle dos estoques? Os reagentes químicos peroxidáveis estão sendo monitorados para evitar explosões? Há planos de emergências contra derramamentos e vazamentos? Os resíduos do laboratório estão sendo armazenados e encaminhados para um destino final dentro do que preconiza a legislação ambiental? Todos os funcionários do laboratório estão cientes da importância e treinados para o uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs)?

Feita a análise inicial, parte-se para as correções das não conformidades e implantação de um programa para manter as condições de segurança adequadas. Todas as medidas precisarão ser documentadas num "Manual de Segurança do Laboratório", onde devem constar os procedimentos, inspeções e regras de segurança exigidos. Conforme a lei, o laboratório precisa ter as Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQs) para que os riscos de cada produto sejam conhecidos.

A fase seguinte é a análise das condições operacionais e os recursos humanos. Os analistas foram devidamente treinados? Observa-se com freqüência que os recém-formados em química, bioquímica e farmácia possuem baixo conhecimento sobre segurança, já que são raros os cursos que incluem o assunto em sua grade curricular. Isto ocorre pela própria dificuldade em contratar professores especialistas, pois se trata de um tema multidisciplinar e que envolve conhecimentos de química, segurança e higiene e legislação trabalhista.

Da mesma forma, existe a dificuldade de simular nos laboratórios das escolas as situações que serão vividas no cotidiano das empresas. Esta realidade não é "privilégio" do Brasil. Já constatamos que mesmo em países mais avançados o problema é similar. Em contato com o professor James A. Kafman, da Universidade de Massassuchets (EUA), num curso de segurança química, ele nos forneceu uma relação enorme de acidentes graves ocorridos em laboratórios daquele país.

Os analistas precisam passar por um processo de conscientização e sensibilização dos riscos da exposição aos agentes químicos, aprender a trabalhar em equipe, manter a ordem, a limpeza e cumprir rigorosamente as regras de segurança estabelecidas pela empresa. Tivemos no Brasil um caso de morte de um analista que ingeriu um ácido altamente tóxico, julgando ser água mineral. O líquido letal estava numa garrafa PET sem rótulo, que havia sido colocada horas antes por um colega numa geladeira do laboratório. Foram diversos erros em seqüência e que terminaram num acidente fatal. Além do lado trágico, casos como este não passam sem as implicações legais para os responsáveis, entre eles a própria empresa. Como se vê, a responsabilidade é grande.

Os analistas devem também ser treinados em como manusear e fazer a limpeza das vidrarias, transporte de reagentes no laboratório, aquecimento de líquidos inflamáveis e operação com gases sobre pressão. Inspeção periódicas nas fiações dos aparelhos e nas instalações elétricas também são importantes para evitar incêndios.

Conforme procuramos demonstrar neste breve artigo, acidentes em laboratórios ocorrem por diversas causas, sendo as principais: falhas na infra-estrutura do laboratório e falhas operacionais por falta de treinamento do pessoal que participa da rotina do laboratório. Portanto, a implantação de um bom programa de segurança e que seja revisado periodicamente visando a introdução de melhorias com certeza ajudará a reduzir bastante o risco de acidentes.
 
O autor
Antonio F. Verga é Bacharel em Química pelo Instituto de Química da USP, Higienista do
Trabalho pelo SENAC e diretor da Isolab Consultoria e Treinamento. Contatos
podem ser feitos pelo e-mail isolab@terra.com.br




Relação de Matérias                                                                 Edições Anteriores

 

Compartilhe:

Copyright CRQ4 - Conselho Regional de Química 4ª Região