A questão envolvendo profissionais da química e da farmácia, infelizmente, volta a ser abordada com ênfase por este Informativo. O tema não se restringe aos artigos da Resolução 387, do CFF e às ações abusivas desencadeadas pelo CRF-SP e que obrigaram o CRQ-IV a formalizar denúncia no Ministério Público do Trabalho, em Brasília (veja página 6). A vontade de fazer mágica para criar empregos ameaça outro setor de grande importância para a classe: o de cosméticos.
Os problemas iniciais envolveram os profissionais da química que trabalham na indústria farmacêutica. Aplicando com esmero a máxima maquiavélica de que "os fins justificam os meios", o CRF-SP pretendia gerar emprego de uma maneira peculiar: aniquilar a concorrência. Armado com a tal resolução, passou a visitar as empresas do setor e determinar que todos os químicos – e até mesmo profissionais de outras categorias – que exerciam cargos de confiança fossem sumariamente substituídos por farmacêuticos.
Para que o inferno criado ganhasse contornos mais dantescos, o CRF-SP, além de aplicar autuações, passou a condicionar a emissão de certidões que são fundamentais ao funcionamento das empresas ao atendimento de suas exigências. Com os profissionais, andou propondo acordos espúrios, prometendo relevar as atuações se houvesse o compromisso de que se matriculariam numa faculdade de farmácia. Dá para imaginar como se sentiriam químicos com mais tempo de experiência do que a idade de seus futuros coleguinhas de escola... Podemos chamar essas atitudes de coação, mas certamente outros termos melhor se encaixariam para qualificar tal estratégia.
Agora vem o CRF-SP e anuncia que o segmento de cosméticos é a próxima etapa da sua inquisição. Pelo desejo daquela entidade, em breve apenas farmacêuticos estarão nessa área. Por que? Ora, óbvio, ou todo mundo já esqueceu que um químico pode ter errado feio ao produzir Celobar? Não pode haver quem duvide que a tal mancada foi a prova definitiva da absoluta incompetência de toda a classe química.
Para quem acredita na validade desse silogismo manco, o conteúdo deste Informativo não terá nenhum interesse. Mas se o seu pensamento é semelhante ao dos leitores cujas opiniões estão publicadas na página ao lado, fique atento e comece a se mexer, pois é do futuro do seu mercado de trabalho que se está tratando.
As ironias aqui expressas não buscam colocar em dúvida a inteligência e o bom senso de profissionais que atuam em áreas afins e muito menos fomentar a discórdia entre eles. Seria uma burrice maior partir para esse caminho, principalmente quando se sabe que o trabalho em equipe e a difusão do conhecimento são as bases do desenvolvimento. O que se quer é chamar a atenção para posturas de entidades que – talvez por erros de avaliação ou movidas por interesses ainda obscuros –, agem disseminando a desinformação, confundindo e, pior ainda, desrespeitando o ser humano.
Mas, felizmente, há um remédio para corrigir tais desvios: o recurso ao Judiciário. E foi essa a prescrição que o CRQ-IV seguiu e seguirá sempre que necessário.