Editorial - Um princípio básico ignorado pelo CFF: a multidisciplinaridade
A multidisciplinaridade na indústria farmacêutica por Francisco C. Alcântara
Carta enviada por profissional retrata indignação gerada pela resolução do CFF
Estamos em um País que busca a cada dia o desenvolvimento e a excelência na qualidade dos medicamentos que aqui são produzidos; estamos em um País que, a duras penas, tenta se adaptar às exigências internacionais para que assim consiga se manter na elite mundial dos países exportadores de medicamentos; estamos em um País que luta de maneira quase sobrenatural para chegar e ficar entre os melhores.
E é neste país onde estas coisas acontecem que eu vivo e trabalho. Trabalho e trabalho muito para sustentar e dar o mínimo de conforto para minha família. Família esta que sustento graças à minha profissão. Sim, meus amigos, sou Químico! Por escolha e por amor.
Como Químico, aprendi que, no decorrer da história da humanidade, o progresso só foi possível quando se adotou um método multidisciplinar de trabalho. A Alemanha não chegou ao seu apogeu tecnológico apenas com Farmacêuticos ou apenas com Químicos ou tão somente com Físicos. O Japão do pós-guerra se ergueu porque todos se uniram para fazê-lo um país melhor.
E era este o meu pensamento até bem pouco tempo atrás, ou melhor, até bem poucos dias atrás, pois eu sempre acreditei que o trabalho em conjunto fosse a mola mestra para alavancar o nosso País do estado de inércia tecnológica em que se encontra.
Sempre acreditei que para se construir uma casa eram necessários não apenas pedreiros, mas também encanadores, eletricistas etc. Assim, meus caros, eu lhes pergunto: se para construir uma casa que – diga-se de passagem e guardadas as devidas proporções –, é relativamente simples, precisamos de tantos profissionais com tantas habilidades diferentes, o que diremos então dos trabalhos envolvidos na "construção" de medicamentos? Estamos falando aqui de uma atividade que envolve um grande volume de informações e conhecimentos que não pode ser tratado e analisado, como alguns pretendem, apenas do ponto de vista Farmacêutico, mas também do ponto de vista Químico (se é que pode existir esta separação, uma vez que todos medicamentos são compostos químicos que, em sua grande maioria, foram concebidos por profissionais da química). Eu me sinto ridículo tendo de usar este tipo de retórica, mas vejo que, hoje, ela é necessária.
Num momento em que o País atravessa um oceano de incertezas, em que o índice de desemprego mantém-se em alta, em que uma metade da população morre de medo e uma outra metade morre de fome, uma resolução como a do CFF é, no mínimo, insensível. As pessoas que a pariram não estavam em momento algum pensando no progresso da nação ou em melhorias para os seus profissionais. Creio eu que no momento em que esta resolução foi concebida morria a razão e a visão de futuro de seus criadores se fez turva.
É uma pena que tudo isto esteja acontecendo, pois todos nós só temos a perder!
"autor é profissional da química e trabalha como analista de validação em uma das mais importantes indústrias farmacêuticas do País."