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Jul/Ago 2000 

 


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Polêmica 1: Contestada a eficácia da Glicenina
Autor(a): por Célio Lopes da Silva


A matéria com o titulo "Glicenina: uma nova droga para com­bater a tuberculose" (Informativo nº 42) ressalta que uma pesquisa realizada pelo Drº Eduardo Peixoto, (pesquisa­dor do Laboratório de Metaquímica e Natureza das Reações, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo) e autor da referida matéria, culminou com a descoberta de uma nova droga para com­bater a tuberculose, e que os testes foram realiza­dos pelo nosso Labora­tório, na Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto/SP.
 
São várias as nossas considerações a respeito dessa "nova droga" e as mais importantes são relatadas a seguir.
 
O artigo diz que "a Glicenina foi testada em diferentes cepas de micobactérias pelo método de microdiluição em placa...". Real­mente, fizemos os referidos testes em várias cepas de micobactérias. Mas como cons­ta do nosso relatório apresenta­do ao Dr. Peixoto, os resultados foram positivos somente para uma cepa denominada H37Ra que é a virulenta, ou seja, ela foi colocada no teste somente como referência. Para as cepas realmente patogênicas, tipo H37Rv, o teste foi negativo. Infelizmente, o autor do texto usou somente esse resultado e ignorou os demais para a confecção da matéria.
 
O teste por nós utilizado é o primeiro de uma série que compõem o nosso "screening" de drogas antimicobacterianas. Para melhor esclarecimento, na microdiluição em placa, a droga a ser testada é coloca­da diretamente sobre as micobactérias e em seguida verificada a morte dos bacilos - a adição de ácido sulfúrico nesse sistema também daria reação positiva. Além disso, como enfatiza nosso relatório apresentado ao Dr. Peixoto, esse teste serve apenas para estabelecer a proporção de mutantes resistentes a uma cepa de M. tuberculosis em determinada concentração da droga. Isoladamente, esse teste não acrescenta absolutamente nada sobre as propriedades antimicobacterianas da droga e não permite dizer também, como cons­ta do artigo, que "Rifampicina é hoje um dos mais eficazes antibióticos contra a tuberculose e sua atividade, ao que tudo indica, é inferior a Glicenina".
 
Portanto, para caracterizar uma droga com propriedades antimico­bacterianas, ela necessita passar por outros testes, in vitro e in vivo, que estão padronizados no Laboratório. O principal deles é o efeito de drogas sobre micobactérias vivendo dentro de macrófagos. Esse teste, que mostra a ação da droga a nível intracelular, sem causar efeitos tóxicos pa­ra a célula hospedeira, não foi realizado com a Glicenina.
 
Assim, pelos testes que foram feitos em nosso Labora­tório, não é possível inferir que a Glicenina seja caracterizada como uma nova droga para combater a tuberculose. Sem a apresentação de outras evidências pelo Dr. Peixoto, o artigo, na presente forma, é no mínimo sensacionalista, tendo sido os da­dos do nosso Laboratório usados indevidamente e de forma tendenciosa.
 
Esperamos que esses esclarecimentos sejam publicados no Informativo CRQ-IV.
 
Célio Lopes Silva é professor titular de Imunologia e Coord. do Centro de Pesquisa em Tuberculose da Fac. de Medicina de Ribeirão Preto - USP. Ganhou grande projeção recentemente ao apresentar, durante a 52ª Reunião Anual da SBPC, pesquisa que abre a possibilidade de criação de uma vacina gênica contra tuberculose. O estudo, aliás, mereceu destaque há cerca de um ano na prestigiosa revista científica "Nature". 




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