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Mar/Abr 2000 

 


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Químico descobre nova droga contra a tuberculose
Autor(a): por Eduardo Peixoto


Pesquisa realizada no Instituto de Química da USP culminou com a descoberta de uma nova droga para combater a tuberculose, doença que, segundo o Ministério da Saúde, ataca efetivamente cerca de 130 mil brasileiros todos os anos. Estimativas oficiais indicam a existência de 50 milhões de infectados no País, ou seja, são pessoas que tomaram contato com a doença e por isso são passíveis de desenvolvê-la.
 
Batizada de Glicenina, a nova droga é um sólido, solúvel em solventes polares, estável nas condições ambientais do Brasil e que será ministrada em drágeas. Definida como C16H23N2O7-355, a Glicenina foi testada em diferentes cepas de micobactérias pelo método de mi­cro­diluição em placa, utilizando-se Alamar blue como revelador. Tais testes foram realizados no Laboratório do professor Célio Lopes, da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto.
 
O valor da Concentração Inibi­tória Mínima (CIM) desta substância em microplaca foi definido segundo a técnica proposta por Franzblau et al. (1998) em várias cepas padrões. Enquanto a Rifampicina apresentou um CIM de aproximadamente 40 mg/L, o valor estimado para a Glicenina ficou entre 30-40 mg/L nos testes com padrões de Micobacteria tuberculosis H37 Ra ATCC 25177.
 
Tais resultados comprova­ram, em laboratório, a alta atividade desta nova droga contra o bacilo. A Rifampicina é hoje um dos mais eficazes antibióticos contra a tuberculose e sua atividade, ao que tudo indica, é inferior a Glicenina.
 
Uma grande parcela dos casos de tuberculose tem-se mostrado resistente aos medicamentos conhecidos, inclusive à Rifampicina e Isoniazida. Além do mais, essas drogas, como outras em uso, podem causar sérios efeitos colaterais.
 
Os testes mostraram que a Glicenina será eficaz em seres humanos e com a vantagem de provocar me­nos efeitos colaterais, pois ela pode ser sintetizada no próprio organismo, desde que certos metabólitos normais estejam presentes.
 
A Glicenina tem estrutura química totalmente diferente de todas as drogas usadas no combate à tuberculose, como a Isoniazida, Etambutol, Rifampicina, Estreptomicina, Pirazinamida etc. Por ser muito mais específica do que aqueles medica­mentos e até por não ter características de um antibiótico, ela será, em princípio, menos danosa ao organismo.
 
Por todos esses motivos, aliados à estimativa de que seu custo de produção será menor do que o dos medicamentos usuais, a droga agora apresentada acena com a abertura de novas perspectivas sobre a epidemiologia da doença, as condições de contágio e metodologias de cura.

Investimento

As próximas etapas da nossa pesquisa incluem o patenteamento (daí a razão dos detalhes da estrutura molecular da Glicenina não terem si­do revelados neste artigo), colaboração com outros grupos do Brasil e do Exterior, realização de testes com cepas resistentes isoladas em hospitais, alguns testes com animais e finalmente testes clínicos em seres humanos voluntários. Outra etapa importante é a busca de novos derivados mais estáveis e ativos.
 
Estimamos que seriam necessários entre US$ 600 mil e US$ 1 milhão para continuarmos a pesquisa, aporte financeiro que nos permitirá dar início aos testes clínicos em menos de dois anos. Com esses recursos, poderemos iniciar, em menos de um ano, os testes em voluntários doentes de alto risco, pois a natureza química da Glicenina nos dá razões suficientes para garantirmos uma grande margem de segurança no seu uso, mesmo antes de chegarmos aos testes finais em laboratório.
 
O autor é pesquisador do Laboratório de Metaquímica e Natureza das Reações do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). Contatos podem ser feitos pelos endereços epeixoto@usp.br ou empeixo@attglobal.net.
 
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