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Nov/Dez 1999 

 


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Químico faz alerta sobre usina Termoelétrica
Autor(a): por Itobi Pereira de Souza


Como um profissional da Química, registrado no CRQ-IV sob o n. 04108191, venho manifestar-me junto a meus colegas químicos sobre o projeto de construção de uma Usina Termoelétrica movida à gás natural, no Município de Santa Branca (SP), nas margens da represa de Santa Branca, cabeceira do Rio Paraíba do Sul. Faço isso movido por um dever moral e por uma obrigação profissional, pois além de impulsionar a difusão da tecnologia, cabe ao químico ajudar a coletividade na compreensão justa dos assuntos técnicos de interesse público.
 
Acostumado a conviver em ambientes de trabalho insalubres, optei, em 1976, por morar em Santa Branca, pois lá pode-se viver bem, porque viver bem é respirar bem. A cidade fica numa região privilegiada: a 600 metros do nível do mar e incrustada na Serra do Mar.
 
A construção da Termoelétrica - cujas obras deve ser iniciadas em 2001-, não tenho dúvidas, colocará em risco a condição de vida não só os moradores de Santa Branca, mas de todas as cidades do Vale Paraíba, constituindo-se no que considero um crime contra a população, senão vejamos:
 
1) Por mais louvável e fascinante que seja estudar, desenvolver e colocar em uso diferentes fontes energéticas (eólica, geotérmica, solar, etc.), inclusive termoelétricas, o projeto em discussão é omisso à medida que, precipitadamente, estabeleceu o local de construção da usina sem antes realizar um estudo de impacto ambiental, o que demandaria, no mínimo, dois anos. Em outras palavras, vai se instalar a usina para depois tentar adequá-la à parâmetros de qualidade de ar. Isso nos leva a crer que apenas interesses comerciais (manancial de água de baixo custo e proximidade de rede condutora de energia e dos grandes centros consumidores) nortearam o projeto.
 
2)- Crime porque, geradora de 1.000 MW a partir da queima de cinco milhões de metros cúbicos de gás natural por dia (informação dos próprios empreendedores), a termoelétrica retirará da atmosfera, no mínimo, 50 milhões de metros cúbicos de ar. Ao mesmo tempo, suas chaminés despejarão diariamente toneladas de gases, alguns muito tóxicos e nocivos à saúde (dados do empreendedor: CO=50ppm, NOx=25ppm etc.).
 
O estrago será enorme, pois estamos falando de uma região onde a velocidade média dos ventos é baixa, na ordem de 1,6 metros/segundo, conforme estudos da Dra. Lycia Nordemann, pesquisadora do INPE. A região é cercada pelas Serras da Mantiqueira, de um lado, e as Serras do Mar e da Bocaina de outro, topografia que colabora para formar bolsões desses gases que, mesmo inodoros e nem sempre visíveis, são muito prejudiciais à saúde, principalmente para crianças e idosos.
 
Pergunto, então, a todos os empreendedores, arrecadadores e colegas químicos: será que compensa, com decisões precipitadas, provocar alterações, para pior, na qualidade do ar e no viver bem dos habitantes da região?
Quero salientar que não pertenço a nenhum grupo político, religioso e/ou esportivo da cidade. Apenas faço este alerta em respeito às populações que serão prejudicadas e para que meus colegas químicos reflitam e também se manifestem sobre um problema que tende a propagar-se por outras regiões.
 
O autor é Bacharel em Química, formado em 1975. Além de atuar como responsável técnico da Chimica Baruel, trabalha como perito judicial e professor de química na EEPG Francisco Rosa Gomes, de Santa Bárbara. Contatos podem ser feitos pelo telefone (0xx12) 372-0006 ou pelo e-mail ipsouza@sti.com.br.




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