Determinação de cocaína por eletrodos modificados
Autor(a): Natalia Biziak de Figueiredo
Anualmente, o UNODC, divisão da Organização das Nações Unidas (ONU) que se dedica ao combate às drogas ilícitas, divulga um relatório com dados sobre o mercado de entorpecentes ao redor do mundo. A publicação mostra como ele está distribuído nos continentes, além de fazer algumas críticas a este respeito.
O relatório divulgado em junho de 2009 apontou que a produção de cocaína girava ao redor de 845 toneladas/ano, volume mais baixo nos últimos cinco anos. Porém, o documento indicou que o Brasil se encontrava entre os quatro países que mais consumiam drogas no mundo, sendo o maior mercado consumidor de cocaína da América do Sul. A cocaína é uma das drogas mais frequentemente apreendidas pela Polícia.
No Brasil e em grande parte do mundo, as polícias científicas se utilizam do teste do tiocianato de cobalto, um teste colorimétrico, também conhecido como um tipo de Spot Test, para identificar a droga. Para realizá-lo, adicionam-se gotas de ácido clorídrico em solução 1:5 à amostra de cocaína. O ácido, então, converte a base livre em cloridrato de cocaína, promovendo sua solubilidade. Posteriormente, adiciona-se uma solução de tiocianato de cobalto.
Resultados positivos são identificados pela formação de um precipitado azul turquesa, devido à formação de um complexo entre o cobalto e o alcaloide cocaína que pode ser descrito pela fórmula [Co(alcaloide)2](SCN)2.O problema é que esse teste não apresenta resultados positivos somente para a cocaína. Outras drogas como atropina, heroína, salicilato de nicotina e a lidocaína, por exemplo, também respondem positivamente ao tiocianato de cobalto. Isso revela falta de especificidade desse teste preliminar, conforme demonstrado na imagem abaixo.
A necessidade de um método de análise mais eficiente demandou o desenvolvimento de um novo método de de- terminação dessa substância que pro-porcionasse maior confiança, mas sem perder a simplicidade e a rapidez de obtenção de resposta.
Com tais objetivos em mente, as químicas Érica Naomi Oiye e Natalia Biziak de Figueiredo, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP (FFCLRP/USP), orientadas pelo Prof. Dr. Marcelo Firmino de Oliveira, elaboraram sensores (eletrodos modificados) para a detecção da cocaína, utilizando-se de medidas voltamétricas.
Eletrodos metálicos (como o de platina, Pt) e de pasta de carbono podem ser modificados com diferentes substâncias a fim de se obter maior especificidade para um analito de interesse, como é, no presente caso, a cocaína. Esses eletrodos (designados como eletrodos de trabalho) junto com mais dois outros (um de referência e outro auxiliar), compõem um sistema eletroquímico no qual uma faixa de potencial aplicado ao sistema faz com que a cocaína interaja com o modificador de eletrodo em um determinado potencial, gerando uma corrente elétrica. Este dispositivo é integrado a um potenciostato que lê em qual potencial e corrente a interação entre a droga e o modificador ocorreu. Tais parâmetros são particulares de cada composto, conferindo especificidade à análise, reduzindo ou até mesmo anulando os falsos positivos.
Além disso, a determinação de cocaína por sensores eletroquímicos é rápida, fácil de ser executada e de baixo custo, já que envolve menor consumo de reagentes frente aos testes colorimétricos e aos testes secundários para a confirmação do entorpecente apreendido, como a cromatografia líquida.
Os resultados da pesquisa de iniciação científica de Érica Naomi Oiye e de Mestrado de Natalia Biziak de Figueiredo, embora não sejam definitivos, abrem caminho para o desenvolvimento de sensores específicos para cocaína e outras drogas, como é o objetivo central da linha de pesquisa do Prof. Dr. Marcelo Firmino de Oliveira, contribuindo positivamente para a atividade de apreensão de drogas pela Polícia.
Professora do Colégio Carlos Magno, de Ribeirão Preto, a autora é Licenciada em Química, com Mestrado em Ciências - Área Química,pela USP da mesma cidade. Contatos pelo e-mail natbiziak@yahoo.com.br.