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Notícia - Conselho Regional de Química - IV Região

Notícia 

 


Live comemora Dia Mundial da Energia

 

Magnascan/Pixabay


O Conselho promoveu nesta sexta-feira, dia 27, uma live sobre o tema Futuro dos Combustíveis no Brasil e no Mundo. Alusivo ao Dia Mundial da Energia, comemorado em 29 de maio, o encontro organizado pela Comissão Técnica de Energia do CRQ-IV (CTEN) contou com palestras de três especialistas e foi transmitido ao vivo pelo canal da entidade no YouTube.

Integrante da CTEN, o primeiro a falar foi Maurício Cardoso Alves, Engenheiro Civil, Tecnólogo em Gestão Ambiental e Ocupacional, Técnico em Química, especialista em energia, petróleo e gás e energias renováveis.Ele iniciou a palestra abordando a história e importância do petróleo como matriz energética no Brasil e no mundo. Explicou o que é o petróleo, como se forma, e disse que sua natureza é resultado de mais de 1.200 combinações de hidrocarbonetos. Disse que o registro da participação do petróleo na vida do homem remonta a tempos bíblicos na forma de betume; os fenícios o usaram para impermeabilizar suas embarcações; os egípcios, para a impermeabilização das pirâmides; nas Américas, antes dos descobrimentos, os incas, astecas e maias já usavam o petróleo em cerâmicas e construções.

Maurício Alves relatou que o início das tentativas de uso comercial do petróleo foi em 1858, nos Estados Unidos, com a abertura do primeiro poço em Titusville, Pensilvânia. Destacou que o petróleo foi usado na indústria farmacêutica como tônico cardíaco e para combater dores, câimbras e outras moléstias. No Brasil, a história do petróleo começa em 2 de outubro de 1858, quando o Marquês de Olinda assinou um decreto imperial dando a José de Barros Pimentel o direito de extrair mineral betuminoso para fabricação de querosene em terrenos situados às margens do rio Maraú, na então província da Bahia. O primeiro poço brasileiro foi perfurado em 1897, no município de Bofete (SP), por Eugênio Ferreira Camargo. O poço tinha 500 metros e produziu 500 litros de óleo.

Em 1939, já sob comando do recém-criado Departamento Nacional de Proteção Mineral, iniciou-se a perfuração do poço 163 em Lobato, na Bahia. Os primeiros automóveis chegaram ao Brasil no início do século XX, e eram abastecidos, a partir de 1912, por empresas estrangeiras, como a Standard Oil, Shell, Texaco e Atlantic. Até 1922 o combustível era vendido em latas.

Na década de 1930 houve um salto: fundação da Companhia Brasileira Petróleo por Monteiro Lobato, que integrou 3 companhias de prospecção de petróleo; em 1934, na cidade de Rio Grande (RS), teve início a operação da Destilaria Riograndense e de sua sucessora, a Refinaria Ipiranga, em 1937; em 1936, a IRFM inaugura a Refinaria Matarazzo, em São Caetano do Sul (SP). “Aquela foi a segunda refinaria do País, sendo a primeira privada, e produzia gasolina, querosene de aviação e permaneceu ativa até o início da década de 1970”, destacou.

Em 1938 foi criado o Conselho Nacional do Petróleo. A partir de 1953, no governo de Getúlio Vargas, foi instituído o monopólio estatal do petróleo com a criação da Petrobras, que deu a partida decisiva nas pesquisas do petróleo brasileiro.
Maurício Alves destacou a existência de quatro fases distintas no petróleo no Brasil: a primeira, da exploração privada no município de Bofete; a segunda, da nacionalização da exploração do subsolo; a terceira fase, com o estabelecimento do monopólio e a criação da Petrobras. A quarta e última fase, segundo ele, foi a flexibilização deste monopólio, com uma lei de 1997 que permitiu a distribuidoras e subsidiárias privadas participarem desse mercado.

Petrobras

  Petrobras tem a maioria das refinarias no Brasil

Atualmente o parque de refino do Brasil é formado por 18 refinarias, com capacidade total de 2,41 milhões de barris/dia de derivados. Dessas, 13 são da Petrobras e cinco têm controle privado. A produção de derivados no país variou de 2,135 milhões de barris/dia em 2013 para 1,911 milhões de barris/dia em 2021. “O fato de utilização do parque de refino cair de 2013 para 2022 é porque não tivemos avanços significativos, seja por ausência de investimento tecnológico seja por falta de políticas públicas que levem a sério esta questão”, avaliou.

Ao encerrar sua palestra, Alves lembrou da importância do petróleo para as civilizações e disse que ainda há um longo caminho a ser discutido em aspectos como sustentabilidade e em relação às novas tecnologias. Disse que hoje dispomos de soluções como o hidrorrefino, que conferem uma condição qualitativa superior aos combustíveis. De forma geral, o processo refere-se ao tratamento de frações de petróleo sob pressão de hidrogênio em presença de um catalisador destinado a remover enxofre, nitrogênio e metais.

Bioenergia - A segunda palestra foi sobre Tecnologias avançadas para bioenergia, com a professora Suani Teixeira Coelho, Engenheira Química formada pela Fundação Armando Álvares Penteado e doutora em energia pela Universidade de São Paulo (USP). Ela é orientadora dos programas de Pós-Graduação em Energia e de Bioenergia da USP e pesquisadora do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa.

Suani explicou que a bioenergia pode trabalhar com diferentes recursos: “Temos biomassa vegetal, resíduos da agropecuária, da agroindústria, resíduos sólidos urbanos e resíduos de tratamento de esgotos. Dependendo da matéria-prima, temos a tecnologia adequada para produzir eletricidade, calor, hidrogênio. Temos uma grande gama de opções para serem exploradas, vamos trabalhar com algumas delas, incluindo a questão do mercado de captura de carbono”, disse.

A seguir, a especialista apresentou um panorama da produção de biocombustíveis no mundo, dizendo que esse mercado é dominado pelo etanol, com 61% de participação, e o biodiesel, com 33%. Em relação ao uso dos biocombustíveis, em primeiro lugar vem os Estados Unidos, em segundo lugar vem o Brasil e em terceiro a Indonésia. “Os biocombustíveis correspondem a uma opção importantíssima para a redução das emissões de carbono”, frisou.

A pesquisadora alertou para a importância do etanol: “Temos uma produção importante de etanol, e o biodiesel é adicionado ao diesel. Apesar dos números expressivos na produção dos biocombustíveis, toda nossa produção de cana-de-açúcar ocupa apenas 10 milhões de hectares, que corresponde a pouco mais de 1 por cento da área total do Brasil. É importante que o uso seja pesquisado e desenvolvido de forma adequada e os biocombustíveis no Brasil possam ser usados de forma bastante inteligente. Temos 24% das áreas do Brasil usadas por pastagens, áreas que poderiam ser usadas de forma mais eficiente”.

Udop

  Bagaço de cana-de-açúcar é usada para geração de eletricidade

Suani Teixeira Coelho também falou sobre o setor sucroenergético, que produz etanol, e produz açúcar, lembrando que o Brasil é o primeiro exportador de açúcar do mundo. “Produzimos eletricidade e agora temos um novo produto, o biogás. Uma das plantas de biogás é da [empresa] Raízen e agora começamos os estudos para produzir biometano a partir de biogás em parceria com uma empresa privada”. Segundo ela, outro projeto interessante sobre biogás e biometano é desenvolvido pela empresa GasBrasiliano, que busca novos mercados com o biometano e coloca São Paulo como estado pioneiro em biogás no Brasil.

A palestrante salientou que no setor sucroalcooleiro já existem plantas de etanol de segunda geração que não dependem de novas áreas de produção, em que o etanol é produzido a partir de bagaço de cana e resíduos de outras atividades da agroindústria, em empresas como a Raízen de etanol 2G.

Ela salientou a importância do uso do etanol como combustível o Brasil, em meio ao aumento vertiginoso nos preços do petróleo no mercado internacional e lembrou que para incentivar os biocombustíveis, o Brasil introduziu, em 2017, a lei chamada de RenovaBio, que é um programa de comercialização de créditos de carbono que segue a mesma linha de inspiração de outros programas na Califórnia, União Europeia, Reino Unido e outros países.

Segundo Suani, o setor industrial do Brasil começa a ter interesse pelas tecnologias de captura de carbono e estocagem e que o carbono capturado pode ser para se fazer outros produtos, como bicarbonato de sódio, em um processo ainda mais eficiente. São as chamadas tecnologias BECCS/BECCUS.

Apesar de ser uma tecnologia ainda pesquisada e estudada, temos uma perspectiva concreta no Brasil, uma planta no Mato Grosso, que anunciou investimento de 250 milhões para captura e estocagem de CO2, a FS Bioenergia. Há também projetos em desenvolvimento ligados a áreas de biogás e créditos de carbono com financiamento da petroleira Shell e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A pesquisadora informou que os Estados Unidos estudam a combinação de hidrogênio com captura e estocagem de carbono, com resultados interessantes. No Brasil, nossa produção de hidrogênio a partir da biomassa pode aproveitar a experiencia do setor sucroalcooleiro, podemos fabricar o produto a partir da eletrolise da água”, afirmou.

Escassez - O terceiro palestrante foi Maurício Mascolo, que traçou um Panorama do refino e a produção de combustíveis alternativos no Brasil. Ele é Engenheiro Químico, especialista em óleo e gás e responsável por implantações e licenciamentos de refinarias no Brasil e no mundo. Também implantou diversas indústrias de reciclagem de borracha e plástico.

Mascolo disse que desde 1996 trabalha na área de petróleo, quando a Petrobras deixou de ser o único player da área no Brasil. “O Brasil hoje é o oitavo maior produtor de petróleo, o sétimo maior consumidor de derivados e o sétimo maior exportador. O Brasil conta com 18 refinarias, a maioria da Petrobras. Da região sudeste para cima, praticamente todas as refinarias estão com a iniciativa privada, com exceção da refinaria de Pernambuco”, disse.

Para o palestrante, o Brasil deveria ter mais refinarias. “O refino brasileiro está estagnado há muito anos, não temos novas grandes unidades implantadas; de 2010 a 2021 não houve aumento, mas em compensação extraímos mais petróleo. O Brasil é autossuficiente em petróleo, mas não em derivados, e por isso tem que importar. Como não pode refinar, tem que exportar e isso se resolve com a instalação de novas refinarias”, alertou.

O Engenheiro Químico salientou que o Brasil vive uma situação crítica, sem solução a curto prazo: “O Brasil é um grande exportador de petróleo, mas continua sendo um grande importador de derivados. O mercado importador de derivados está praticamente constante há anos, em torno de 130 mil barris por dia. O mercado de diesel, mesmo com pandemia, continua crescente, com 62 milhões de m3 por ano, e a produção está estagnada nas refinarias”. Mesmo a adição de 10% de biodiesel não resolve o problema. “O mercado está sempre crescente, o agronegócio tem alta demanda no centro-oeste, mas as refinarias brasileiras estão na costa, o aumento da demanda está completamente descolada da oferta. Precisamos de políticas públicas e que a Petrobras entre nesse mercado, mas a Petrobras está fazendo uma política inversa. Hoje a Petrobras está envolvida numa política de controle da inflação”, avaliou.

Mascolo defendeu a instalação de pequenas refinarias, dizendo que elas são rápidas de montar e custam menos. Mostrou projetos dessas pequenas refinarias citando Afeganistão, África do Sul, Angola, Guiné Equatorial, Paraguai. Citou especificamente a Nigéria, que instala pequenas refinarias em pontos críticos onde a população precisa de emprego, não tem infraestrutura, e essas estão atendendo a economia local e desenvolvendo uma economia que estava parada.

Segundo ele, uma refinaria pode ser montada do zero, em sinergia com outras indústrias, aproveitando ativos, feita com unidades modulares e junto a campos de petróleo. Mostrou fotos da refinaria de Eromanga, no deserto da Austrália, de onde saem os produtos derivados.

O especialista falou também sobre a reciclagem química de plásticos e seu processo produtivo. É possível transformar os plásticos que iriam para lixões, por meio de processos relativamente simples, em petróleo sintético. As empresas podem fazer essa reciclagem, é um tipo de combustível alternativo, um processo energeticamente autossustentável e que gera derivados leves, sem enxofre, como naftas e diesel. “Você está usando um produto que iria para o lixo, o plástico, e fazendo combustível”, comparou. Segundo Mascolo, algumas unidades de petróleo sintético de plásticos estão em funcionamento no Brasil e outros países.

 

Publicado em 27/05/2022


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