"Diálogos com a Química" discute estratégias para alavancar a indústria
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Na última quinta-feira, 23, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), em parceria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), promoveu o evento "Diálogos com a Química". Em sua fala de abertura, o presidente-executivo da Abiquim, Ciro Marino, destacou o objetivo central do encontro: evidenciar a importância da indústria química para o desenvolvimento do País e apresentar propostas para a criação de uma política de Estado para a indústria.
Também participaram da abertura o deputado Afonso Mota (PDT/RS), presidente da Frente Parlamentar da Química, a Secretária Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniela Marques, e o Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Flávio Rocha.
O primeiro painel apresentado teve como tema "Caráter estratégico da Indústria Química". Marino iniciou sua apresentação com dados sobre a indústria química brasileira, responsável por gerar 2 milhões de empregos diretos e indiretos, respondendo pelo terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do setor industrial e ocupando o primeiro lugar em arrecadação de tributos federais. A indústria química registrou no ano passado um faturamento líquido na ordem de US$ 142 bilhões.
“Considerando o que a química faz e a riqueza que o Brasil possui, ocupar o 6º lugar no ranking mundial do setor está aquém do que podemos”, disse. O objetivo, segundo ele, é que a indústria química brasileira possa alcançar a 4ª posição no ranking mundial e elevar a sua capacidade produtiva de 70% para 95%. Para isso, as estratégias serão desenvolvidas com foco em quatro eixos: gás natural, energia renovável, saneamento e bioprodutos, como mostra o quadro abaixo, apresentado por Marino durante o painel.
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Em seguida, Edson Terra, vice-presidente da Unidade de Poliolefinas América do Sul e Europa da Braskem, falou sobre o uso crescente de matérias-primas renováveis pela indústria química, que faz com que o setor contribua para uma economia mais sustentável e de baixo carbono. Ele ressaltou que a indústria química brasileira é uma das mais seguras do mundo, seja na segurança de pessoas, processos, meio ambiente e das comunidades que estão em seu entorno. Terra abordou ainda a questão do uso do plástico, utilizado em várias cadeias produtivas, como as da construção civil, embalagens, agricultura, automobilística, saúde e higiene. Para ele, é preciso encontrar soluções que resolvam a questão [de redução do uso do plástico] sem criar outros problemas, como o aumento do consumo de energia, perda alimentar e aumento da emissão de carbono.
Em sua apresentação, o economista Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas, discutiu a importância da sofisticação produtiva para a indústria química brasileira. Nesse ponto, destacam-se países como a Irlanda, Israel, Coréia do Sul e Singapura, enquanto Gana é o país menos sofisticado. O Brasil ocupa uma posição intermediária. Como explicou o economista, um país complexo é aquele capaz de produzir grande diversidade de produtos e de fabricar o que poucos produzem; e quanto mais rico, mais produtos sofisticados ele conseguirá entregar. “O Brasil tem uma capacidade plena de produzir quase todos os produtos químicos que existem no mundo. O que não conseguimos fazer é exportar com relevância, [pois] sua participação no mercado mundial é muito pequena. Isso nos mostra que o Brasil tem uma capacidade enorme e um potencial gigantesco para ser explorado”, concluiu.
Por fim, Glenda Lustosa, Secretária de Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços, falou sobre ações do governo federal para beneficiar o setor químico, como o novo Marco Legal do Saneamento Básico e a criação da plataforma Monitor de Investimento, lançada em maio pelo Ministério da Economia, que disponibiliza dados sobre investimentos e sustentabilidade dos principais setores da economia; e o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), lançado em março com o objetivo de reduzir a dependência do produtor rural em relação aos fertilizantes importados e aumentar a produção nacional.
"Indústria Química Brasileira – a mais sustentável do mundo" foi o tema do segundo painel. Antonio Lacerda, vice-presidente sênior da Basf, reforçou que o uso de matérias-primas e energias renováveis pode ser uma oportunidade de crescimento para o setor. A possibilidade de produzir insumos químicos em escala global e com o selo verde pode tornar o País um exportador líquido de produtos químicos [saldo positivo na balança comercial] . Ele citou ainda exemplos de iniciativas já presentes no mercado ou em fase avançada de desenvolvimento, como o uso de óleo de macaúba na produção de sabão, combustíveis, cosméticos; produção de biocombustíveis e bioprodutos de 2ª geração em escala industrial a partir de resíduos agrícolas; e a produção de biodiesel a partir de óleo e gordura residual.
O novo Marco Legal do Saneamento Básico voltou a ser discutido durante o evento, desta vez pelo executivo Mauricio Russomano, CEO da Unipar. Ele apresentou alguns dados que baseiam a iniciativa: 5,7 milhões de brasileiros não tem acesso a banheiro, 43% das escolas não possuem instalações básicas para lavagem das mãos, 60% dos municípios têm destinação inadequada do lixo. Segundo Russomano, a indústria química tem um papel fundamental nesse setor, atuando na construção da infraestrutura, coleta e tratamento de água e do esgoto. Para o CEO da Unipar, o novo Marco do Saneamento Básico causará impactos positivos não só nas comunidades e no meio ambiente, como na economia, com potencial de benefícios econômicos de mais de 1 trilhão de reais, contribuindo para a recuperação econômica e social do País pós-covid 19.
Na sequência, José Carlos Polidoro, coordenador da Diretoria de Ciência, Tecnologia e Inovações da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, falou sobre o PNF, que será colocado em prática ao longo dos próximos anos, até 2050. Segundo ele, nas últimas décadas houve um aumento de 300% na demanda de fertilizantes, mas a produção nacional enfrentou uma queda de 30%. No último ano, 95% dos fertilizantes utilizados no País foram importados. Faz parte dos pilares do PNF aumentar a produção nacional de fertilizantes e insumos para a nutrição de plantas e alcançar autonomia tecnológica em todos os elos da cadeia, sobretudo na indústria.
Durante o encerramento, Ciro Marino lembrou que a ação “Diálogos com a Química” é permanente e que serão promovidas conversas com grupos de trabalho para que sejam aprofundadas as estratégias que deverão ser adotadas daqui em diante. A ideia é envolver o Executivo, o Legislativo e o setor privado.
Publicado em 24/06/2022
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