II Fórum de Recursos Hídricos debate inovações tecnológicas
Mateus Simonato, Jorge Correia, Daniela Chiaretti, José Ferreira e Renato Ramos participaram da mesa que encerrou o evento
O IIFórum de Recursos Hídricos, promovido nos dias 17 e 18 de março pela Comissão Técnica de Meio Ambiente (CTMA) do Conselho Regional de Química – IV Região (CRQ-IV), teve a presença de cerca de 80 profissionais e estudantes. O evento, que contou com apoios do Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos de São Paulo (Sinquisp) e da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESabesp), objetivou divulgar inovações tecnológicas e pesquisas na área de tratamento, discutir a disponibilidade, a qualidade e a garantia de suprimento de água para as gerações futuras. O encontro integrou as comemorações pelo Dia Mundial da Água, cuja data oficial é 22/03.
Augustinis e Guaita fizeram a abertura
Ao falar na abertura do evento, o presidente do CRQ-IV, Manlio de Augustinis, afirmou que o evento é um dos mais importantes organizados pela entidade, pois “o Conselho não poderia se abster da missão de discutir alternativas para a preservação da água, já que os profissionais da Química têm entre suas atribuições legais o tratamento desse importante recurso para a sobrevivência humana”. Augustinis elogiou o trabalho da CTMA, que organiza fóruns, seminários, cursos e palestras, além de ter elaborado a Cartilha de Meio Ambiente, publicação que aborda o conjunto da legislação que regulamenta as atividades na área e que pode ser baixada do site da entidade. Também durante a abertura do encontro, o Químico Industrial Aelson Guaita, presidente do Sinquisp, ressaltou a atuação da entidade junto às empresas de abastecimento público de água para reivindicar o respeito ao piso salarial da categoria e a manutenção de profissionais habilitados para o exercício de funções privativas da Classe.
Sob a mediação do Químico Industrial Paulo Finotti, integrante da CTMA, a primeira palestra foi proferida pela Engenheira Sanitarista e Ambiental Roseane Maria Garcia Lopes de Souza, que traçou um panorama sobre garantia de qualidade da água e o impacto do saneamento na saúde pública, além do desenvolvimento do Plano de Segurança da Água (PSA), conjunto de ações de saneamento e saúde ambiental exigido aos municípios brasileiros pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Segundo Roseane, a evolução histórica da implantação de um sistema de gestão dos recursos hídricos no Brasil passou por diversas etapas desde meados do século XIX, tendo como foco a redução da mortalidade decorrente de doenças infecciosas e parasitárias. O primeiro instrumento de controle, o Código das Águas, foi implantado somente em 1934. Já as legislações pioneiras que definiram os padrões de potabilidade, incluindo parâmetros químicos, físicos e bacteriológicos, foram desenvolvidas nas décadas de 1950 e 1960. O conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se predominante no início do século XXI, com ênfase na preservação da água para as próximas gerações.
A programação do primeiro dia contou ainda, no período da manhã, com as palestras “A interface do saneamento com o PSA”, ministrada pelo gestor técnico da Prolab Ambiental, Antonio de Oliveira Siqueira; “Relação entre o gás de xisto e recursos hídricos”, proferida pelo geólogo Luiz Fernando Scheibe; e “Qualidade dos produtos químicos e sua interface com o PSA”, realizada pelo Técnico em Química Mercedino Carneiro Filho, da Sabesp.
Monica Porto falou sobre disponibilidade
O ciclo do período da tarde foi iniciado com a palestra “Bases técnicas para enquadramento de corpos hídricos”, ministrada pela Engenheira Civil Monica Ferreira do Amaral Porto, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Para ela, a gestão da qualidade da água não exige apenas o controle de poluentes, mas também o aumento da disponibilidade hídrica. Segundo salientou, os principais impactos da poluição na água são a diminuição da disponibilidade hídrica, malefícios para a saúde humana e o comprometimento da sustentabilidade do ambiente aquático. A pesquisadora salientou que o Brasil necessita de avanços na coleta e no tratamento de esgotos, cujos índices são inferiores aos de outros países da América do Sul, como Chile e Uruguai.
Os outros temas abordados no primeiro dia do evento foram os seguintes: “Análise de interferentes endócrinos”, pelo Químico Industrial Gilson Alves Quináglia, do setor de Análises Toxicológicas da Cetesb; “Tratamento de água de disruptores endócrinos”, por José Carlos Mierzwa, professor pesquisador da Escola Politécnica da USP; e “Processos de oxidação avançada geral e aplicados a desreguladores endócrinos” pela Engenheira Química Daniele Maia Bila, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Segundo dia - As diretrizes e o procedimento para proteção do solo e gerenciamento de áreas contaminadas estabelecidas pelo Decreto Estadual nº 59.263/2013 foram apresentadas pelo geólogo Everton Oliveira, da empresa Hidroplan, na abertura do segundo ciclo de palestras do fórum. A Resolução nº 420/09, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), também foi objeto de discussão. De acordo com Oliveira, para garantir a proteção tanto de águas superficiais quanto subterrâneas, é essencial realizar a manutenção preventiva do solo, já que este pode se tornar uma fonte significativa de contaminação dos corpos hídricos.
Desembargadora Consuelo Yoshida durante painel
As responsabilidades civil e criminal de agentes públicos e privados no que tange às áreas contaminadas foi o tema de um painel de debates que reuniu a desembargadora do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Consuelo Yoshida, o geólogo Everton Oliveira, Químico Industrial Paulo Finotti e os Engenheiros Químicos Jorge Lemos Correia e José Antonio Monteiro Ferreira, todos integrantes da CTMA. As discussões abordaram ações de órgãos como o Ministério Público do Meio Ambiente em prol da preservação dos recursos naturais, a exemplo dos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), a fim de que danos ambientais sejam reparados. Segundo a desembargadora federal, essas iniciativas buscam causar um “efeito pedagógico” e compensar perdas materiais e danos à saúde humana por meio do pagamento de indenizações.
O gerenciamento de áreas contaminadas e as obrigações frente à Resolução nº 420/09 do Conama e à Resolução SMA 90, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, com foco em águas subterrâneas e solos, foram assuntos presentes na palestra da geóloga Giovanna Setti Galante, superintendente da Essencis Soluções Ambientais. O encerramento do período da manhã ficou a cargo do Bacharel em Química com Atribuições Tecnológicas Marco Locatelli, da Redox Ambiental, que apresentou uma palestra sobre o tratamento de áreas contaminadas.
A programação da tarde foi aberta com a apresentação de um estudo de caso pelo geólogo Mateus Delatim Simonato, da empresa Servmar Ambiental, que falou sobre o monitoramento de áreas contaminadas no entorno do Canal Jurubatuba, na zona sul da Capital paulista. Na sequência, o Engenheiro Ambiental Luís Fernando Pereira, da Essencis Ambiental, descreveu novas abordagens de investigação de águas subterrâneas em áreas com pontos de contaminação.
Processos alternativos de captação de recursos hídricos foram tema da apresentação do engenheiro civil Renato Giani Ramos, da Dow Water & Process Solutions. Sua palestra abordou métodos de reúso de água, captação de água da chuva e dessalinização. De acordo com o engenheiro, o Brasil possui 12% do volume de água doce no mundo e é o quarto colocado em termos de consumo. Com o aumento contínuo da demanda e sem um crescimento na oferta de água, o panorama aponta uma perspectiva de escassez em pouco mais da metade dos municípios brasileiros. Por esta razão, Ramos salientou que a busca por novas fontes é fundamental mesmo em um País com grandes reservas.
A programação do II Fórum de Recursos Hídricos foi encerrada com uma mesa redonda sobre o valor da água, que reuniu os Engenheiros Químicos Jorge Lemos Correia e José Antonio Monteiro Ferreira, ambos da CTMA, e os palestrantes Mateus Delatim Simonato e Renato Giani Ramos, além da jornalista especializada em meio ambiente Daniela Chiaretti, do jornal Valor Econômico.
Márcia e Marcelo estiveram entre os participantes do Fórum
Atualização – Obter informações sobre as tendências da área para o futuro foi a principal motivação para o Fórum atrair profissionais como a Bacharel em Química Márcia Bragato, 49 anos. Com mestrado em Química Orgânica e doutorado em Engenharia Metalúrgica de Materiais, ela veio do Espírito Santo para buscar referências em legislação e tecnologia. “Trabalho atualmente como analista ambiental e lido diretamente com gerenciamento de recursos hídricos e águas contaminadas. Por isso, considero importante a realização de eventos como este”, explicou.
O Engenheiro Químico Marcelo Carvalho Ferreira, 38 anos, já trabalhou por cinco anos com equipamentos para estações de tratamento de efluentes. “Tive a chance de aprender conceitos de geologia e hidrologia, além de metodologias de tratamento de água e gestão de áreas contaminadas”, relatou Ferreira, que no momento busca uma oportunidade para retornar ao setor.
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