Perto de 180 profissionais participaram hoje do Seminário sobre Repelentes, que a Comissão de Cosméticos do CRQ-IV promoveu em sua sede com o apoio do Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos de São Paulo (Sinquisp) e da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC). Em um contexto de enfrentamento de epidemias de doenças como dengue, chikungunya e zika, o seminário objetivou esclarecer e orientar a respeito da Pesquisa & Desenvolvimento de produtos repelentes de insetos, mas também buscou apresentar aos participantes um panorama sobre a epidemia das doenças causadas pelo mosquito aedes aegypti.
A primeira apresentação foi do Biólogo e Entomologista João Paulo Correia Gomes, coordenador do curso de pós-graduação em cosmética aplicada à estética do Senac/SP. Inicialmente, ele explicou as diferenças entre inseticidas – que são produtos que matam os insetos – e os repelentes que, como sugere o nome, destinam-se a afastar os insetos. Os repelentes estão divididos em dois tipos: os de ambiente, que são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como saneantes domissanitários, e aqueles que são aplicados sobre a pele, classificados como cosméticos. No ambiente doméstico, ressaltou o palestrante, deve-se usar tanto os inseticidas quanto os repelentes e as razões desse cuidado estão explicadas no vídeo abaixo:
Fatores climáticos, a elevada "competência" de o aedes aegypti se adaptar ao ambiente urbano e a sua preferência por picar humanos a animais foram os motivos que levaram ao surto das doenças transmitidas por esse inseto, observou o palestrante. "Nos últimos anos, tivemos uma seca muito grande, o que levou às pessoas a começarem a acumular água de forma inadequada dentro de casa, criando um ambiente favorável à sobrevivência do mosquito. Acreditamos que este ano esses problemas vão continuar ocorrendo, porque teremos o fenômeno chamado El Niño, que provoca o aumento de chuvas e umidade, o que somado às temperaturas elevadas, contribuirão para a manutenção das condições propícias para proliferação do mosquito", previu Gomes.
A Engenheira Química Carla Gisele da Silva, da CQ Assessoria, falou sobre legislação e registro de repelentes. Entre as normas legais sobre o assunto, ela destacou a lei 6.360/1976, que define o que é cosmético, e duas resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a RDC 07/2015, que dispõe sobre sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, e a RDC 19/2013, que trata especificamente dos requisitos para a concessão de registro de cosméticos destinados a repelir insetos.
Na entrevista a seguir, a profissional falou sobre as dificuldades mais frequentemente enfrentadas pelas empresas que desejam registrar um produto repelente e comenta que, diante do surto de doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti e uma certa escassez desse cosmético, muitas empresas passaram a se interessar por esse nicho de mercado.
Silvana Nakayama, gerente da Merck
Gerente de Tecnologia & Aplicação da Merck, a Engenheira Química Silvana Kitadai Nakayama fez duas palestras durante o evento. A primeira foi focada na apresentação de formulações de repelentes tradicionais, os voltados ao público infantil e os que possuem filtros solares. "A ideia foi mostrar aos participantes a viabilidade de se construir fórmulas simples e eficazes", ressaltou a especialista.
Na segunda apresentação, foram discutidos aspectos relacionados à segurança, toxicidade e biodegradabilidade dos repelentes. Para Silvana Nakayama, a inclusão desse assunto no programa do seminário foi relevante porque, muitas vezes, "o formulador não tem ideia de parâmetros para se guiar sobre o grau de toxicidade da substância. Então, abordamos de forma didática todos os parâmetros dos repelentes dos quais tínhamos dados disponíveis", concluiu.
A última palestra do dia foi proferida pelo Biólogo Pedro Henrique Herculano, analista responsável pelo laboratório de entomologia do grupo Ecolyzer, e tratou da realização de testes de eficácia de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Insect Repellents for Human Skin and Outdoor Premises. Product Perfomance Test Guidelines. OPPTS 810.3700, daAgência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, exigidas pela Anvisa para o registro de cosméticos repelentes. O processo para checar a eficáca, segundo explicou, inclui desde a seleção de voluntários, avaliação clínica, testes de laboratório, de campo. até que se obtenham dados suficientes para elaboração dos laudos a serem entregues à Anvisa.
Coordenadora do evento, a Engenheira Química Enilce Maurano Oetterer avaliou o seminário como bastante positivo, considerando o número de participantes e o grande interesse desses profissionais por obter e ampliar seus conhecimentos nas áreas de entomologia, desenvolvimento de produtos, novas matérias-primas e temas regulatórios, conforme ela comentou na entrevista abaixo:
Oetterer, que é consultora da Encosmética, também proferiu uma palestra que tratou das matérias-primas naturais e sintéticas usadas na fabricação de repelentes de insetos. Ela lembrou que as matérias-primas sintéticas são sempre feitas de algum princípio de origem vegetal ou animal, ou seja, sua fonte de inspiração é a natureza. "Os principais ativos que existem no mercado hoje vêm de pesquisas realizadas através dessas matérias-primas. Então, foi importante disseminar esse conhecimento entre os técnicos para que eles possam se inspirar na natureza como fonte de inovação e trazer novas soluções para o mercado", concluiu.
Gislaine e Leandro gostaram do seminário
Participantes - A Bacharel e Licenciada em Química Gislaine Tahara Siqueira esteve entre os participantes do seminário. Analista de de P&D e Controle de Qualidade na Boni Brasil, fabricante de produtos de higiene pessoal e cosméticos destinados principalmente ao público infantil, ela disse que soube do seminário porque está sempre atenta aos eventos organizados pelo CRQ-IV pois acha importante se inteirar das novidades relacionadas ao seu cotidiano profissional. A empresa onde ela trabalha ainda não produz repelentes, mas existe essa intenção, por isso as informações obtidas durante o seminário – principalmente às relacionadas a desenvolvimento, formulação e regulação de produtos – serão bastante proveitosas, afirmou.
Leandro Fernandes trabalha como professor de pós-graduação no Senac e tem Bacharelado em Química. A proliferação do mosquito que transmite várias doenças de elevado risco e as alternativas oferecidas pela indústria para combater essas epidemias foram as razões que motivaram sua participação. Fernandes disse ter achado o seminário bem interessante "porque apresentou muito conhecimento, muitas coisas novas, que poderão ser compartilhadas com os alunos". A apresentação que ele mais gostou foi que abordou, entre outros aspectos, a questão envolvendo a toxicidade dos produtos repelentes ditos naturais. A palestra mostrou que, mesmo sendo naturais, alguns produtos podem ser até mais tóxicos que os industrializados", concluiu.
Clique aqui para obter cópias dos arquivos apresentados durante o seminário.