Cerca de 50 profissionais, pesquisadores e estudantes da área participaram do evento
A segunda edição do Simpósio de Alimentos aconteceu nesta terça-feira, na sede do Conselho, com a presença de aproximadamente 50 profissionais, pesquisadores e estudantes da área. A iniciativa da Comissão Técnica de Alimentos e Bebidas do CRQ-IV teve como foco "Saúde e Alimentação Saudável" e contou com o apoio do Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos do Estado de São Paulo (Sinquisp).
Renata: "Brasil teve transição alimentar"
O evento foi dividido em dois blocos. No período da manhã, as pesquisadoras da Faculdade de Saúde Pública da USP Renata Bertazzi Levy e Maria Laura Louzada fizeram palestras e participaram de uma mesa-redonda para discutir o tema "Promoção à saúde brasileira - Redução na quantidade de sódio, açúcar e gordura nos alimentos processados".
Na primeira palestra, Renata Bertazzi Levy apresentou dados sobre o contexto brasileiro em termos de evolução nutricional e consumo alimentar. Ela chamou a atenção para o aumento expressivo da população com excesso de peso e obesidade nas últimas quatro décadas (atualmente, a população adulta de homens e mulheres acima do peso ultrapassa os 50%). A pesquisadora atribui essa tendência a uma mudança nos hábitos, que passaram a priorizar alimentos para consumo rápido, como pães, embutidos e refrigerantes, deixando de lado as refeições baseadas em ingredientes culinários, como arroz e feijão. "Houve uma transição dos alimentos básicos para os ultraprocessados no Brasil", assinalou a pesquisadora.
Em seguida, o Guia Alimentar para a População Brasileira, editado pelo Ministério da Saúde, esteve em pauta na palestra de Maria Laura Louzada. Publicado pela primeira vez em 2006, o manual ganhou uma segunda edição em 2014. No vídeo abaixo, produzido pela Agência Senado, são apresentadas em forma de animação as dez regras para uma alimentação saudável propostas pelo guia.
Ignez apontou que sódio é mais adicionado pelos consumidores
O segundo bloco foi aberto pela Engenheira de Alimentos Ana Paula Camargo, que ressaltou a importância da busca pelo equilíbrio físico-químico do organismo ao escolher os alimentos, evitando excessos que possam trazer malefícios à saúde. Um dos exemplos apresentados foi o do açúcar, ainda bastante presente na dieta dos brasileiros (foram consumidas no País 12 milhões de toneladas, com base em dados do biênio 2013-2014). No mundo, apenas a Índia (26 milhões), a União Europeia (18 milhões) e a China (16 milhões) superaram esse índice.
Ignez Novaes de Goes, gerente do Departamento Técnico da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), detalhou um acordo de cooperação técnica que tem sido desenvolvido desde novembro de 2007 pela entidade em conjunto com o Ministério da Saúde, com a finalidade de construir um Plano Nacional de Vida Saudável, abrangendo aspectos de alimentação, atividade física e educação nutricional. De acordo com estimativas da Abia, alimentos fabricados pela indústria já tiveram reduções de 17.254 toneladas de sódio (a meta é chegar a 28.500 toneladas até 2020) e de 310 mil toneladas de gordura trans (até 2016). Com relação ao sódio, Ignez salientou que, com base nos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou-se que 76,2% do sal presente na preparação e no consumo de alimentos é adicionado pelo próprio consumidor, sendo o restante (23,8%) encontrado nos alimentos processados ou naqueles produzidos e consumidos fora dos domicílios.
A Cientista dos Alimentos e consultora Pamela Rossi fechou o ciclo de palestras falando sobre a atuação dos profissionais da área na intermediação entre a realidade do mercado e a esfera dos órgãos de controle, responsáveis pelos parâmetros legais. "As empresas buscam se adequar à legislação e, ao mesmo tempo, atender às expectativas dos consumidores", pontuou Pamela. Dessa busca por um equilíbrio decorre o que, no entendimento da consultora, é o maior desafio para a área técnica na atualidade: desenvolver formulações de novos produtos ou reformulações daqueles já existentes para atender às diferentes demandas.
A programação do simpósio foi concluída com um debate sobre alternativas viáveis para a substituição e consequente redução de alimentos com alto teor de sódio, açúcar e gorduras.
Nataly: "Conhecimento precisa ser difundido"
Difusão - Nataly Maria Viva de Toledo, de Piracicaba, é Cientista dos Alimentos formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, e atualmente é doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela mesma instituição. Para ela, o evento foi "muito interessante por ter sido dividido em duas vertentes: a científica e a industrial, trazendo as visões da academia e do mercado. Foi possível ter uma discussão em torno do tema envolvendo estudantes e profissionais", destacou ela, que entende ser essencial a transmissão dos conhecimentos adquiridos por parte daqueles que, como ela, atuam na área.
Estudante do curso de Engenharia de Alimentos na Unimep em Santa Bárbara d'Oeste, Flávia Rocha Lourenço considerou o simpósio uma experiência positiva para o seu futuro profissional e que também irá gerar reflexos na vida cotidiana. "As informações não só estimulam o interesse pela área, mas, pelo lado da saúde, também incentivam a se ter mais cuidado com os próprios hábitos alimentares e a compartilhar essas referências com amigos e familiares", explicou.
As apresentações feitas durante o simpósio podem ser baixadas na seção Downloads.