Butantan pede à Anvisa autorização para testes com soro anti-Covid
Mateus Serrer/Comunicação Butantan
|
|
|
Soro destina-se a pessoas com sistema imune comprometido |
O Instituto Butantan submeteu pedido de autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o início dos testes clínicos com o soro anti-SARS-CoV-2 desenvolvido pela instituição. Composto de anticorpos que reconhecem diferentes partes das proteínas virais, o produto foi desenvolvido em apenas cinco meses. Já foram produzidas 3 mil unidades do soro para os testes com pacientes e outras 3 mil estão prontas para serem envasadas.
O soro é obtido a partir da inoculação, em cavalos, do vírus inteiro, inativado por radiação graças a uma parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Quando recebem o vírus, os animais produzem anticorpos para combatê-lo. O plasma sanguíneo, repleto dessas proteínas, é então extraído e passa por diferentes processamentos, além de purificação e controle de qualidade. O produto que vai nas ampolas é composto apenas de anticorpos, que por sua vez reconhecem proteínas presentes no vírus e, assim, podem impedir que ele se replique no organismo.
“Antes de injetar o vírus em animais, nós constatamos que, mesmo inativado, a sua composição proteica estava mantida, ou seja, todas as proteínas conhecidas como importantes para gerar resposta imune estavam preservadas. Assim, obteve-se um produto policlonal, em que há uma gama de anticorpos contra diferentes epítopos das proteínas virais. Espera-se que essa estratégia seja eficiente em reconhecer o vírus de forma mais abrangente do que, por exemplo, anticorpos dirigidos para apenas uma porção restrita de uma proteína. Isso pode ser uma vantagem no combate às novas variantes do vírus”, explica à Agência FAPESP Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora de inovação do Instituto Butantan e responsável pelo desenvolvimento do soro.
A pesquisadora coordena o Centro de Excelência para Descoberta de Alvos Moleculares (CENTD), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e pela farmacêutica GlaxoSmithKline no Instituto Butantan.
Outros soros desenvolvidos contra o SARS-CoV-2 utilizam apenas a proteína S (spike), da espícula do vírus, como antígeno. A principal vantagem de usar o vírus inteiro é a possibilidade de os anticorpos policlonais serem eficazes também em novas variantes do SARS-CoV-2. Colaboradores do projeto atualmente realizam testes para avaliar a capacidade do soro de neutralizar as cepas mutadas em circulação, entre elas a P.1. – considerada mais transmissível que as anteriores.
O soro pode ser especialmente importante para pacientes que estão com o sistema imune suprimido, como aqueles que receberam transplante de órgãos ou realizam tratamento para câncer e doenças autoimunes, por exemplo. Nesses casos, a imunidade passiva, como é chamado o efeito do soro, pode ser a única solução.
“Uma das perguntas que fazem é: se estamos vacinando a população, para que desenvolver um soro? Da mesma forma que vacinamos contra difteria e tétano, por exemplo, nós temos os soros para essas doenças. Sempre haverá alguém que, por alguma razão, não tem anticorpos contra o vírus: aquelas que não se vacinaram ou que realizam tratamentos que suprimem a capacidade do sistema imune de produzir anticorpos são alguns exemplos. Essas pessoas são as que mais se beneficiam do soro”, conta Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan.
Clique aqui para ler a reportagem completa sobre este assunto, escrita por André Julião, da Agência Fapesp
Publicado em 08/03/2021
Voltar para a relação de matérias