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Salar do Atacama, no Chile, abriga uma das maiores reservas do metal no planeta
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O ouro do século XXI
Vera Regina Leopoldo Constantino*
O lítio é um elemento químico de destaque no noticiário atual. Ele é chamado de “ouro do século XXI”, “ouro branco” ou ainda de “petróleo branco”. Para entender o porquê, basta lembrar que vários produtos necessitam do lítio para o seu funcionamento: telefones celulares, notebooks, tablets, além de bicicletas e carros elétricos. O lítio tem um papel central nas baterias recarregáveis (baterias de íon-lítio), comercializadas a partir dos anos 1990, e em baterias não recarregáveis usadas em marca-passos e relógios.
Considerando que a sociedade atual mantém uma alta demanda por produtos tecnológicos, é possível entender as razões para que o lítio seja comparado ao ouro e ao petróleo. Uma delas é o potencial de o motor elétrico substituir o motor a combustão, que faz uso de derivados de petróleo. Por isso, o lítio é chamado de “petróleo branco” (a cor é uma referência aos compostos de lítio dos quais o elemento é extraído, que geralmente são brancos).
O lítio (do grego “lithos”, que significa “pedra”) foi identificado pela primeira vez em 1817, na Suécia, por Johan August Arfwedson. O elemento foi encontrado em uma amostra do mineral petalita (LiAlSi4O10), que foi descoberto no mesmo país, em 1800, pelo brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva. Conhecido por sua atuação política como o “Patriarca da Independência”, ele também realizou pesquisas na área de mineralogia e trabalhou com Antoine Laurent Lavoisier, considerado o pai da Química moderna.
Logo após a sua descoberta, o lítio também foi identificado em outros minerais e na água do mar. Atualmente, o elemento é extraído principalmente de duas fontes: minerais como espodumênio (silicato de alumínio e lítio, também descoberto por José Bonifácio) e petalita, e das salmouras de alguns lagos. Com a demanda crescente, explora-se também a extração do íon metálico a partir de certas argilas (como as hectoritas).
Segundo dados de 2015 do Departamento Nacional de Produção Mineral), as maiores reservas de lítio do planeta estão no Chile (47,9%), na China (20,4%), na Argentina (13,9%) e na Austrália (10,4%). A Austrália e o Chile respondem por aproximadamente 41 e 36% da produção mundial de lítio, respectivamente, enquanto o Brasil produz 0,9%.
Na América do Sul, além do Chile e da Argentina, a Bolívia também possui quantidades significativas de lítio, tendo possivelmente a maior reserva do mundo em um lago seco de 10 mil quilômetros quadrados de extensão. Contudo, a quantidade precisa de lítio ali presente ainda não é conhecida.
Aproximadamente 35% da produção mundial de lítio é empregada na área de baterias para equipamentos eletrônicos e veículos híbridos. A demanda é crescente, assim como o preço das fontes naturais das quais o elemento é extraído. Além do emprego em baterias, o lítio é usado nas indústrias de cerâmica e vidro na forma de hidróxido, e em graxas e lubrificantes como sal de estearato. Uma parte menor da produção é direcionada para a obtenção de medicamentos. Um exemplo é o carbonato de lítio, prescrito para o tratamento de transtorno bipolar.
O lítio na forma metálica é obtido por eletrólise do sal de cloreto fundido. É o primeiro metal da Tabela Periódica e o mais leve entre todos (possui a metade do valor da densidade da água). Na forma metálica, reage rigorosamente com a água. Quando adicionado em pequenas quantidades ao alumínio, forma ligas metálicas leves e resistentes usadas em aeronaves, bicicletas e trens de alta velocidade.
O lítio também tem emprego na área nuclear e, por essa razão, o processamento e a comercialização de minerais e minérios desse elemento, bem como seus compostos - lítio metálico e ligas metálicas -, são supervisionados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear.
*Docente do Instituto de Química da USP.
Referências
J. Emsley, Nature’s Building Blocks: An A-Z Guide to the Elements, Oxford University Press, 2011.
Eduardo Motta Alves Peixoto, Química Nova na Escola, seção “Elemento químico”, 2, 1995.
Recursos e Reservas de Lítio (Nacional e Internacional) - III Seminário sobre Lítio – Brasil, 2018 Ivan Jorge Garcia – Sumarista do Lítio - Sumário Mineral Brasileiro Departamento Nacional de Produção Mineral, Agência Nacional de Mineração.
M. Winter, B. Barnett, K. Xu, Chemical Review, 118, 11433, 2018.
https://www.terra.com.br/noticias/litio-ouro-branco-e-esperanca-da-bolivia,0b1fe7e3a33499e7be26bd14faf225d9i9du17ok.html, acessado em 08/01/2019.
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/energia-e-sustentabilidade/petroleo-branco-mercado-de-litio-vai-crescer-290-ate-2020-3totd5h2ddnic1ousqfwi369s/, acessado em 08/01/2019.
https://brasilamericaeconomia.com.br/artigos/corrida-pelo-novo-santo-graal-o-litio, acessado em 08/01/2019.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/12/demanda-global-leva-a-corrida-pelo-litio-o-petroleo-do-futuro.shtml, acessado em 08/01/2019.
http://www.rsc.org/periodic-table/video/3/Lithium?videoid=wY0afMI4Jgc, acessado em 12 de janeiro de 2019.