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Juliano Alves Bonacin*
A prata, do latim argentum, é um elemento químico (número atômico 47) muito conhecido da nossa sociedade e sua descoberta se confunde com a própria história do Homem moderno. Na Tabela Periódica dos Elementos, a prata (Ag) é um metal de transição que, juntamente com o ouro, pertence à família do cobre. Embora esses elementos sejam da mesma família, algumas propriedades químicas são muito diferentes. A abundância relativa da prata na crosta terrestre e na natureza é baixa (65º elemento mais abundante), podendo ser encontrada na forma de mineral, principalmente como sulfeto de prata (Ag2S) – também conhecido como argentita – e na forma de cloreto de prata (AgCl, cloroarginita). Além disso, a prata pode ser encontrada na forma pura ou em ligas metálicas com cobre, chumbo, níquel, ouro ou zinco [1].
O Brasil possui atualmente uma reserva de prata, economicamente lavrável, de quase 4 mil toneladas, o que representa menos de 1% da prata mundial. O estado do Pará possui o maior depósito de prata do País [2]. Em 2018, um relatório do The Silver Institute apontou México, Peru, China, Rússia e Chile como os maiores produtores mundiais de prata [3].
O principal uso da prata é na área de eletroeletrônica e a sua utilização é tão importante que hoje seria impossível apertar um botão de “liga e desliga” que não contenha prata. Nesse setor também é crescente o uso em painéis fotovoltaicos para conversão de energia solar em energia elétrica. O segundo maior uso da prata é em joias e ligas metálicas relacionadas a joalheria. E a terceira maior aplicação é em moedas e barras de prata para investimentos e reservas financeiras [3].
Outras aplicações da prata envolvem volumes menores desse metal, mas não são menos importantes. Um exemplo disso é o uso de compostos de prata em filmes fotográficos, que diminuiu drasticamente com surgimento das câmeras fotográficas eletrônicas e celulares. Contudo, os haletos de prata continuam sendo amplamente utilizados em chapas de raios X para usos médicos. A prata também é utilizada para fazer espelhos, pois é o melhor refletor de luz visível que se conhece.
Em termos biológicos, a prata é um elemento não essencial, ou seja, ela não é indispensável para a manutenção da vida. No entanto, a prata possui inúmeras aplicações em medicina e em processos de purificação de água, sendo um poderoso agente bactericida e bacteriostático. Os mecanismos de ação da prata no combate de bactérias são amplamente estudados e estão relacionados às interações desse metal com as biomoléculas da bactéria, o que leva à inativação da reprodução bacteriana.
A ação da prata contra bactérias pode ser potencializada quando esse metal está na forma nanométrica. Por isso, as nanopartículas de prata apresentam atividade biocida e são utilizadas como aditivos de performance para transformar materiais convencionais em materiais funcionais. Ou seja, embalagens plásticas diversas ou escovas de dentes podem apresentar, além de suas funções originais, atividade biológica contra diferentes tipos de bactérias. Todo esse benefício pode ser aplicado na concepção de utensílios domésticos simples, com propriedades biocidas, ou até mesmo ser utilizada em hospitais e no controle de infecções nosocomiais [4].
Referências
[1] Chemistry of Elements, N. N. Greenwood e A. Earnshaw, Butterworth-Heinemann Ltd., Cambridge, 1995.
[2] Sumário Mineral. Departamento Nacional de Produção Mineral. Coordenadores: T. M. Lima e C. A. R. Neves; Brasília: DNPM, 2016; http://www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2015, acessado em 06 de dezembro de 2018.
[3] World Silver Survey 2018. The Silver Institute and Thomson Reuters, ISSN: 1059-6992 (Print)
[4] Silver Nanoparticles for Antibacterial Devices Biocompatibility and Toxicity, Editor Huiliang Cao, CRC Press Taylor & Francis Group, 2017.
*Docente do Instituto de Química da Unicamp.
Publicado em 09/08/2019