Fórum discutiu os impactos das mudanças climáticas
A Comissão Técnica de Meio Ambiente do CRQ-IV promoveu na quinta-feira, 22, o V Fórum de Meio Ambiente para discutir as mudanças climáticas. Estiveram em pauta os impactos dessas mudanças na sociedade moderna e as ações para controle e redução dos riscos causados pelas transformações nos padrões de temperatura e clima. A live teve mediação de Juliano Andrade, que é organizador do Fórum e Mestre em Química Ambiental pela Unicamp, além de integrante da Comissão Técnica de Meio Ambiente.
O primeiro palestrante foi Tércio Ambrizzi (USP), Doutor em Meteorologia pela Universidade de Reading, do Reino Unido, que falou sobre o tema Variabilidade Climática e seus Extremos: O Clima está Mudando?. Segundo ele, as mudanças climáticas efetivamente têm ocorrido nos últimos milhares de anos. A distância Terra-Sol muda a cada 100 mil anos, o que altera a temperatura no planeta, e a inclinação do eixo da Terra se altera a cada 41 mil anos, o que também provoca mudanças. Além disso, há variações das manchas solares, que mudam a cada 22 mil anos. Ele afirmou que a terra não está esquentando por causa da quantidade de energia solar, e que o clima pode ser alterado de forma repentina, como quando houve a explosão do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, que lançou fuligem no ar e provocou a queda de meio grau na temperatura do planeta. “O clima pode ser alterado de uma forma natural”, disse. E alertou: “Estamos invadindo as nascentes dos rios, o consumo é excessivo e as industrias estão produzindo a todo vapor e gerando gases que sobem para a atmosfera, temos desmatado nossas florestas e transformado muitas em pasto e regiões agrícolas, e temos produzido um volume impressionante de lixo, e tudo isso tem impacto”.
Segundo o especialista, a humanidade está passando por 3 emergências: crise na saúde causada por pandemias, crise de perda de biodiversidade e emergência climática. Essas três crises têm muitas coisas em comum e a ciência é a chave para resolvê-las. Ele mostrou dados biológicos da Terra, como as medidas de CO2 contidas no gelo, os anéis de crescimento das árvores e as causas das mudanças climáticas.
Sobre o aquecimento dos oceanos, Ambrizzi afirmou que eles vêm absorvendo o calor da atmosfera, o que causa aumento do nível do mar, e isso representa um grande risco para as cidades costeiras do Brasil. Em seguida, mostrou os efeitos dos eventos climáticos extremos ocorridos nos últimos anos, como o furacão Katrina em 2005, a onda de calor na Inglaterra em 2022, a pior seca da Europa este ano, e os grandes incêndios florestais na Califórnia e Austrália. Também apresentou dados sobre o aumento médio da temperatura esperado para o Brasil até 2099 e a redução das chuvas nos últimos anos, o que causará um déficit de água no país.
O especialista encerrou a apresentação dizendo que as mudanças climáticas já estão em curso e que temos que reduzir os gases do efeito estufa se quisermos minimizar esse problema. Segundo ele, o Brasil tem oportunidades únicas no mundo para redução de emissões sem prejuízos à sociedade e potencial solar e eólico que nenhum outro país possui.
A segunda palestra foi com a Engenheira Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Patrícia Monteiro Montenegro, que possui mais de 25 anos de experiência profissional e desenvolveu projetos nas áreas de sustentabilidade, meio ambiente, saúde, segurança e qualidade. Ela falou sobre o tema Principais Rotas Tecnológicas de Descarbonização.
Patrícia abriu a palestra abordando o processo de produção de cimento e mostrou a etapa onde ocorre a maior parte das emissões de CO2. Apresentou as principais rotas de descarbonização no setor industrial, especificamente do setor de cimento. Em seguida, falou sobre as formas para reduzir a utilização de combustíveis fósseis na indústria, com o uso de outros combustíveis, e ressaltou a importância de substituir cada vez mais o clínquer, além de aumentar a reciclagem.
Ela disse que o Brasil vem aumentando a utilização de resíduos sólidos urbanos na produção de cimento e com isso obtendo ganhos do ponto de vista ambiental, de geração de empregos e de contribuição com a economia circular. De 2020 até 2030 a meta do setor é a redução de 25 das emissões de CO2 por metro cúbico de concreto e de 20% das emissões por tonelada de cimento. Ela mostrou dados sobre os processos de descarbonização do setor de cimento e de como é feita a captura, sequestro, utilização e estoque de carbono, cuja sigla é CCSU.
A palestrante também abordou os custos de mitigação dos gases de efeito estufa e como o CCS (captura, sequestro e estoque do carbono) fazem parte das novas tecnologias, e disse que os custos de implantação de projetos de CCS são bastante elevados. Sobre o hidrogênio verde Patrícia disse que até 2050 ele será competitivo com os preços de gás natural no Brasil, China, Índia, Alemanha e Escandinávia. O Brasil já utiliza as energias renováveis, como a solar e a eólica, e por isso já está bastante adiantado na implantação de soluções efetivas para redução dos gases do efeito estufa.
O evento foi encerrado com uma rodada de perguntas e respostas mediada por Juliano Andrade. A gravação está disponível no canal do Conselho no YouTube.
Publicado em 23/09/2022
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