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Notícia - Conselho Regional de Química - IV Região

Notícia 

 


No Dia Mundial da Água, especialistas discutem escassez e saneamento

 


O Dia Mundial da Água foi comemorado neste 22 de março pelo CRQ-IV com a realização do X do Fórum de Recursos Hídricos, que teve como tema a escassez hídrica. Três especialistas com ampla experiência no assunto foram convidados: Luis Eduardo Grisotto, Édison Carlos e José Antonio Monteiro Ferreira.

O fórum foi transmitido a partir das 14h pelo canal do CRQ-IV no YouTube e atraiu um público superior a 250 pessoas, que puderam formular perguntas na parte final do evento. Organizado pela Comissão Técnica de Meio Ambiente (CTMA) do Conselho, o encontro teve o apoio do Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos do Estado de São Paulo e da seção paulista da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-SP).

A gerente de fiscalização do CRQ-IV, Andrea Mariano, fez a abertura do Fórum. Ela lembrou que hoje estamos comemorando o Dia Mundial da Água, um recurso essencial para todos. A seguir, passou a palavra para Wagner Pedroso, coordenador da CTMA, que apresentou uma prévia sobre os assuntos que seriam abordados e, no final, fez as perguntas enviadas pelo público.

Segurança hídrica - O primeiro palestrante foi Luis Eduardo Grisotto, Ecólogo, Engenheiro Ambiental e diretor operacional da Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape), que falou sobre as incertezas climáticas e a segurança hídrica. Grisotto definiu o conceito de segurança hídrica, explicando que é basicamente água em disponibilidade e qualidade para a atual e futuras gerações, atividades econômicas e manutenção de ecossistemas. Disse que o conceito de segurança hídrica hoje foi ampliado, e inclui também a redução das perdas de água, com o planejamento das cidades e os recursos hídricos para proteger os mananciais e nascentes.

Grisotto mostrou dados e mapas do Brasil, listando as reservas de água subterrâneas e superficiais e as captações para o abastecimento urbano, com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), mostrando que boa parte da população brasileira depende de mananciais superficiais. Os números da ANA indicam que 737 cidades brasileiras têm baixa segurança hídrica, sendo 497 delas localizadas na região Nordeste.

O especialista afirmou que os desafios à segurança hídrica são as incertezas climáticas, o crescimento da população, o aumento da poluição com o lançamento de esgotos, a ocupação urbana desordenada, as perdas de água e a insuficiência de investimentos para o aumento da oferta hídrica, entre outros fatores.

Listou as perdas na distribuição de água, tendo como recordistas os estados do Amapá, Amazonas, Roraima e Rondônia. Mostrou dados confirmando que 46% da população não dispõe de esgotos e 70% das cidades não possuem estação de tratamento de esgotos.

Extremos - Grisotto chamou a atenção para o clima e os eventos extremos no mundo, dizendo que há uma mudança climática em curso, com aumento de áreas mais quentes e aumento dos fenômenos climáticos, como os eventos de 2014, com 38 graus negativos nos Estados Unidos e a maior inundação em Londres em 250 anos, e em 2021, calor recorde no Canadá, inundações na Alemanha, Bélgica e Holanda e incêndios na Amazônia. Esses eventos extremos trazem perspectivas de elevação contínua da temperatura mundial atribuída às emissões de CO2 e demais gases do efeito estufa, segundo ele.

Concluiu alertando que é preciso estarmos preparados para outros eventos e crises hídricas com maior frequência e que existe a percepção de uma mudança hidrológica e climática que exige alterações de padrões operacionais e de uso da água.

Marco Legal do Saneamento - Em sua apresentação, o Químico Industrial e presidente do Instituto Aegea, Édison Carlos, falou sobre as oportunidades e desafios do novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em julho de 2020. Salientou a importância dessa legislação, lembrando que durante os onze anos em que presidiu o Instituto Trata Brasil viajou o País inteiro e viu a péssima situação do saneamento. “Hoje lamentamos o descaso em que o País viveu em termos de saneamento; os rios foram historicamente usados para despejo de esgoto por falta de priorização em saneamento básico”, comparou.

Édison Carlos mostrou dados indicando que quase 35 milhões de pessoas não tem acesso à água tratada e 100 milhões não contam com coleta de esgotos. O Brasil, salientou, está entre as maiores economias do mundo, mas ainda não conseguiu levar serviços de saneamento básico a todos os cidadãos, o que inclusive foi um grande problema durante a pandemia de Covid-19, já que boa parte da população não tinha água em casa para higienizar as mãos e utensílios.

A seguir mostrou que, mesmo que ainda tímidos, os primeiros anos de vigência do Novo Marco Legal do Saneamento, possibilitou alguns avanços em relação ao saneamento básico, mas uma piora em relação às perdas de água. Segundo dados do Instituto Trata Brasil, em 2020 o Brasil possuía 728 mil quilômetros de redes públicas de abastecimento de água nos 5.350 municípios, significando uma expansão de 47,7 mil quilômetros em relação a 2019. Já as perdas de água representavam 39%, um índice muito alto, que significa um prejuízo anual de 12 milhões de reais. Disse também que os investimentos em água e esgoto em 2020 foram de R$ 13,7 bilhões, com redução de 12% em relação a 2019, o que contraria metas do Marco Legal do Saneamento. Além disso, os avanços foram concentrados nos municípios onde o saneamento já era bom, mas nos locais onde havia carência desse recurso os investimentos foram menores.

A seguir, o executivo falou das metas do Marco Legal do Saneamento até 2033, lembrando que a participação do setor privado nos municípios a partir de leilões bem-sucedidos impactarão positivamente os municípios, que receberão investimentos estimados em R$ 45 bilhões, podendo com isso alcançar as metas de universalização dos serviços.

Reúso de efluentes tratados - Último palestrante do dia, o Engenheiro Químico e integrante da CTMA José Antonio Monteiro Ferreira falou sobre as tecnologias aplicadas no reúso de efluentes tratados. Trata-se, afirmou, de uma tecnologia muito importante justamente por conta da escassez hídrica. Lembrou que a água existente no planeta é a mesma desde o tempo de Cleópatra e César, o que confirma que toda a água existente na Terra é fruto do reuso.

Ferreira apresentou um esquema sobre o processo aeróbio de tratamento de esgoto utilizado no mundo inteiro, onde a carga orgânica da água é transformada em gás carbônico. Mostrou como funciona uma estação de tratamento de esgoto, como são os processos anaeróbios e as falhas mais corriqueiras.

A seguir mostrou imagens das etapas do tratamento de esgoto em tanques de decantação, reservatórios e a água de reúso obtida ao final do processo em uma empresa de Gramado, no Rio Grande do Sul, com tratamento por lodo ativado. Disse que o custo de implantação daquela estação foi pago em três anos e que a partir de então a empresa deixou de comprar água de terceiros.

Por fim, o palestrante falou sobre o Projeto Aquapolo, resultado de parceria entre a GS Inima Industrial e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). O sistema capta água da estação de tratamento de esgotos do ABC Paulista, passa por duas estações de tratamento, depois por membranas de ultrafiltração e por um processo de osmose e vai para o Polo Petroquímico de Capuava e indústrias da região. Com capacidade de produzir até 1.000 litros de água de reuso por segundo, o Aquapolo é maior empreendimento para a produção de água de reuso na América do Sul e um dos maiores do mundo.

A íntegra do X Fórum de Recursos Hídricos pode ser assistida a partir deste link.

 

Publicado em 22/03/2022


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