A paulistana Adriana Yumi Iwata, de 25 anos, conseguiu unir suas duas grandes paixões: os mangás e a Química. Estudante do curso de Bacharelado em Química Tecnológica na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ela descobriu nas histórias em quadrinhos uma maneira de ensinar e desmistificar a ciência. Chamada Sigma Pi, a série conta a história de adolescentes que desenvolvem atividades num clube de ciências. Além do retorno positivo por parte dos alunos e pesquisadores que se envolveram com o projeto, o trabalho já mereceu destaque em alguns meios de comunicação.
"Os mangás são as histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês, do qual sempre gostei muito", conta ela, que usa o nome artístico "Yumi Moony" para assinar os seus trabalhos. "Utilizo este apelido em fóruns relacionados a desenho e em sites onde coloco meu portfólio. "Yumi" vem do meu segundo nome e "Moony" do personagem Remus Lupin, da série Harry Potter, cujo apelido em inglês é justamente esse", conta ela.
O enredo do mangá tem como fio condutor a história de Branca, uma garota recém-transferida para um colégio interno tradicional de sua cidade. Na escola, todos os alunos são obrigados a frequentar um clube como parte de suas atividades extracurriculares e a protagonista acaba indo parar em um clube de Química, denominado "Sigma Pi".
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A partir disso, Branca começa a frequentar um laboratório de Química e a aprender diversos experimentos. Ao mesmo tempo, convive com os demais membros do clube: o líder, Henrique, que parece não simpatizar muito com ela; Benjamin, um garoto gentil que sempre a ajuda e que parece nutrir algo a mais pela personagem; e Colombo, o palhaço do clube, que vive cantando as garotas do colégio.
Atualmente, Adriana já desenvolve a sexta edição do Sigma Pi (clique aqui para conferir as edições anteriores). Quem preferir as versões impressas poderá encomendá-las pelo e-mail yumimoony@gmail.com, ao custo de R$ 3,50 a R$ 4,00 mais o valor do frete.
"A maior parte do público dos mangás é formada por alunos do Ensino Médio em diante, devido ao conteúdo da história, pois há uma trama e personagens que vão se desenvolvendo ao longo da série", explica Adriana. O Sigma Pi é um mangá continuado, ou seja, quem quiser entender o número 2 precisa ter lido a primeira edição e assim por diante.
Adriana ressalta que ainda não obteve patrocínio para imprimir o material. Mesmo assim, consegue divulgar os desenhos em eventos da cultura japonesa. "O lúdico desperta o interesse das crianças, que aprendem brincando. As historinhas mostram que a Química está no dia a dia das pessoas, afinal está em todos os lugares", argumenta.
O mangá se aproveita da trama principal para mostrar conceitos de Química aplicados de uma forma divertida e lúdica, além de conciliar a ciência com o cotidiano. Na terceira edição do Sigma Pi, foram explorados experimentos com líquidos, como é o caso do teste da gasolina. Já na quarta edição, uma ilustração aborda os fogos de artifício e suas cores. A quinta edição, mostra experimento com suco de repolho roxo para dar um exemplo de indicador ácido-base.
As ilustrações e os roteiros são feitos pela própria autora, que realiza pesquisas em livros de Química Geral para selecionar o conteúdo. As experiências descritas na trama são inspiradas em vídeos postados na internet. "Faço os experimentos em casa para verificar se os procedimentos são adequados. Além disso, alguns deles já foram encenados em peças do Grupo Ouroboros, do qual faço parte", ressalta Adriana.
Oficinas - Com o projeto de extensão Sigma Pi - Quadrinhos para a Divulgação e o Ensino de Ciência, Adriana participa do Núcleo Ouroboros de Divulgação Científica, ligado ao Departamento de Química da UFSCar. A vinculação ao núcleo ocorreu em 2010 e inclui a montagem de oficinas onde ocorre não só a leitura dos quadrinhos, como também a produção de histórias com a estética mangá pelos alunos participantes.
"Atualmente, há uma oficina em curso, iniciada em agosto, e os alunos estão na fase de elaboração de roteiro e personagens. No final do ano, teremos o resultado final: uma história em quadrinhos produzida pelos alunos similar ao Sigma Pi, ou seja, um trabalho com a temática de Ciências", aponta.
O Ouroboros é coordenado pela pesquisadora Karina Omuro Lupetti, que tem formação na área química e já há alguns anos centrou suas atividades na divulgação e ensino não formal de ciências a partir de recursos midiáticos. Ela explica que o aprendizado da ciência pelas crianças e jovens, em particular da Química, vem com a leitura e principalmente a produção dos mangás. "Todos que se envolvem na criação aprendem um pouco mais e assumem o compromisso de ensinar e divulgar os conceitos corretamente", salienta.
Por não se tratar de uma atividade baseada apenas em ficção, os participantes recebem uma orientação para que aspectos científicos da obra sejam apresentados de modo cuidadoso, a fim de atingir seu público-alvo em termos de conteúdo e linguagem. Para Karina, utilizar o Sigma Pi como material complementar pode auxiliar na aprendizagem do conteúdo dado na escola. "A obra é ficcional, mas a ciência é a Química. Se o professor aplicar o material com o foco correto, poderá conseguir resultados surpreendentes no que se refere ao ensino", afirma.